Venezuela. Multiplicam-se os relatos de violência num país à beira do caos

Vários manifestantes têm sido alvos de violência policial numa altura em que é notada a ausência de Guaidó. Vários militares foram mortos numa emboscada.

Enquanto o autoproclamado Presidente interino da Venezuela dava uma entrevista ao Washington Post, reconhecendo os erros cometidos na sua tentativa de levantamento militar – que sobrestimou o apoio da oposição entre o exército – a tensão continuava, e continua, elevada em Caracas. Multiplicam-se relatos de violência policial contra os manifestantes que responderam ao apelo de Guaidó para continuar a sair à rua. Imagens da Vivo Play, um canal de Youtube venezuelano, mostram de novo veículos blindados a atropelarem manifestantes, enquanto outros são brutalmente agredidos por vários elementos das forças de segurança. Muitos apoiantes da oposição dizem ter sido levados para instalações militares, onde também sofreram agressões. 

Um dessas pessoas foi Daniel, que diz ter sido levado por militares para dentro de La Carlota, a base aérea que os apoiantes de Guaidó tentaram tomar, no dia da tentativa de golpe. 

Em declarações à RTP, Daniel contou: “Cortaram-me com uma faca, alvejaram-me, deram-me pontapés, fizeram de tudo comigo”. O manifestante mostrou os seus ferimentos, que fizeram com que precisasse de inúmeros pontos. Contudo, ontem, Daniel estava na Praça de Altamira, mostrando a determinação dos opositores do Governo.

Muitos outros manifestantes juntaram-se em frente ao quartel-general do exército bolivariano, pedindo aos militares que desertassem. Vários opositores entregaram manifestos aos soldados presentes e muitos prontamente queimaram o documento, o que foi visto como demonstração de intransigência e lealdade por apoiantes do Governo e como autoritarismo da oposição. Já a Telesur, a televisão estatal da Venezuela, tem notado a ausência de Guaidó em manifestações que o próprio convocou, como foi o caso da demonstração frente ao quartel do exército.

Mas nem só nas ruas se sucedem os confrontos. O jornal El Universal noticiou o assassinato de quatro militares e dois polícias, emboscados este sábado, numa quinta dirigida pelo exército no estado de Aragua, no centro do país. Entre os mortos está o general da força aérea Jackson Silva Zapata. Não se sabe ainda a motivação do ataque, que foi classificado pela polícia como um “atentado terrorista”, suspeitando-se que poderá ter sido levado a cabo por algum grupo criminoso organizado ou militantes extremistas da oposição.