O abismo do Mediterrâneo

Por todo o lado impinge-se a doutrina de que os homens e as mulheres são iguais. Que os sexos não se diferenciam. Inventou-se a palavra ‘género’ para apagar do dicionário a palavra ‘sexo’, e já há não só dois ‘géneros’, há muitos: LGBTI (lésbicas, homossexuais, bissexuais, transexuais e intersexos). Quantas letras mais irão ser acrescentadas…

No passado dia 12 de abril, o jornal espanhol La Vanguardia, com sede em Barcelona, publicava a seguinte notícia:

«A escola pública Tàber de Barcelona retirou da biblioteca infantil 200 contos, por considerá-los ‘sexistas’. A Associação Espaço e Lazer e a comissão de género realizou uma análise dos livros tendo em conta critérios como o número de personagens masculinos e femininos e os papéis que desempenham. Entre os contos ‘vetados’ encontram-se O Capuchinho Vermelho, A Bela Adormecida e a Lenda de São Jorge.

No total, 30% dos contos foram retirados da biblioteca infantil e 60% tinham algum estereótipo de género, segundo a análise realizada, mas mantiveram-se para não deixar a biblioteca vazia. A comissão concluiu que os personagens femininos aparecem sobretudo realizando tarefas de assistência, de maternidade e em papéis relacionados com o amor, enquanto as personagens masculinas estão em situações que demonstram a sua valentia ou força.

‘Estamos muito longe de umas bibliotecas igualitárias onde as personagens masculinas e femininas apareçam metade-metade, e façam o mesmo tipo de atividades, porque as mulheres estão muito enclausuradas num papel muito estereotipado’, explicou um dos membros da comissão de género da escola».

Lemos e não acreditamos. Depois da Inquisição ou das destruições de livros promovidas pelos nazis, julgaríamos impossível que, num país civilizado e muito menos num país democrático, alguém tivesse coragem para organizar listas de livros proibidos e retirá-los de uma biblioteca.

O politicamente correto está a assumir proporções inquietantes. Os novos bispos do sistema, enquanto vão às escolas dar lições de sexo às crianças, censuram livros clássicos e zelam para que os desalinhados falem cada vez menos.

Os comentadores televisivos fogem a assumir posições heterodoxas temendo ser despedidos. Não se vê um só comentador a desafiar ou denunciar o mainstream.

Por todo o lado impinge-se a doutrina de que os homens e as mulheres são iguais. Que os sexos não se diferenciam. Inventou-se a palavra ‘género’ para apagar do dicionário a palavra ‘sexo’, e já há não só dois ‘géneros’, há muitos: LGBTI (lésbicas, homossexuais, bissexuais, transexuais e intersexos). Quantas letras mais irão ser acrescentadas a este rol?

Os pais dão bolas às meninas e bonecas aos meninos para que não fiquem desde a infância ‘agarrados a estereótipos’. Os restaurantes são proibidos de ter brinquedos para meninos e para meninas, e obrigados a oferecer modelos únicos.

Cada vez se promove mais o futebol feminino, porque constitui uma prova de que homens e mulheres podem fazer as mesmas coisas.

Os piropos são proibidos porque são uma manifestação da diferenciação sexual; ora, como essa diferenciação não existe, os piropos não podem ser tolerados.

O modo de vestir tende a uniformizar-se: as mulheres vestem jeans, t-shirt e ténis, exatamente como os rapazes. Vêem-se muitos rapazes de cabelos compridos e raparigas de cabelos curtos – e os homens começaram a fazer depilação.

Os casamentos deixaram de ser entre homens e mulheres, porque isso é um sinal de que há diferenças, e passaram a ser entre quem quiser.

Os homens perdem o desejo – e nascem cada vez menos crianças.

Claro que tudo isto se passa no Ocidente ou em países ocidentalizados como o Japão. Nos países árabes é o contrário: cada vez mais as mulheres vestem burkas, não saem de casa e são propriedade dos maridos. As manifestações viris são incentivadas nos homens e as de submissão nas mulheres.

O Mediterrâneo, em vez de ser um elo de ligação, é cada vez mais um abismo. Num lado, homens e mulheres indiferenciam-se; do outro, a diferenciação é de dia para dia maior.

Como explicar isto?

Como explicar que uma massa de água pouco extensa em largura possa dar origem a tão grandes diferenças ao nível dos costumes?

Tenho a convicção de que estamos numa encruzilhada.
Do lado de cá, o voluntarismo vai chocar contra a realidade. E a realidade é que homens e mulheres são diferentes. E essas diferenças manifestar-se-ão sempre, por mais livros que se proíbam, por mais lavagens ao cérebro que se façam às crianças. A natureza triunfará contra os ideólogos da indiferenciação.

E do lado de lá as mulheres acabarão por revoltar-se contra hábitos seculares tirânicos, que escravizam a mulher e lhe atribuem uma condição infra-humana.

Do lado de lá vive-se na Idade Média, do lado de cá vive-se numa realidade virtual. Mas as coisas tenderão a equilibrar-se. Dos dois lados do Mediterrâneo acabará por triunfar o bom senso.

Que diz simplesmente isto: homens e mulheres são diferentes mas isso não significa que tenham direitos diferentes. Devem ter direitos iguais.

Homens e mulheres são diferentes – e negá-lo é absurdo. Têm gostos diferentes, têm necessidades diferentes, fazem coisas diferentes – mas devem ter direitos iguais.

De um lado e doutro do Mediterrâneo.