“Estrada da morte” vai estar hoje no centro do debate no Parlamento

PSD, PCP, Bloco de Esquerda e Os Verdes apresentam projetos de resolução na Assembleia da República. Serão ainda discutidas duas petições.

É conhecida como “a estrada da morte” e há anos que partidos, associações e utilizadores lutam pela sua requalificação para segurança dos condutores. É desta forma que é conhecido o Itinerário Principal 3 (IP3), que liga os distritos de Coimbra e Viseu. Degradação física, más condições de segurança, elevada sinistralidade, falta de investimento e manutenção são algumas das principais falhas apontadas pelos partidos PSD, PCP, Bloco de Esquerda e Os Verdes e que vão ser discutidas hoje no Parlamento.

“Trata-se de um troço rodoviário com níveis significativos de tráfego, más condições de segurança, elevada sinistralidade e fortes constrangimentos na ligação a uma região do interior do país que ainda vai apresentando importantes níveis de atividade económica, industrial, agrícola e de serviços”, lê-se no projeto de resolução que será apresentado e discutido hoje pelos deputados do PSD.

Já o PCP esclarece que a estrada é a que “maior volume de trânsito tem na região Centro em termos de veículos ligeiros e de pesados, especialmente de mercadorias”, chegando a registar a circulação de 18 mil veículos por dia nalguns troços. Nesse sentido, e devido a todas as falhas apontadas, “os 2,5 milhões de euros já anunciados com vista à realização de obras que visam reforçar a estabilidade dos taludes de aterro nos concelhos de Coimbra e Penacova são claramente insuficientes para dar resposta à intervenção necessária para garantir a segurança e reduzir drasticamente a sinistralidade rodoviária no IP3”, defendem os deputados deste partido responsáveis pelo projeto de resolução.

Quanto às obras, também o Bloco de Esquerda se manifesta. Para o partido, “estão ainda por esclarecer os prazos de execução das obras e a calendarização dos compromissos a que o IP deve dar resposta, sob pena de eventuais deslizamentos de prazos de execução não serem integralmente justificados e mesmo assumidos por quem de direito”.

Os Verdes relembram que “esta estrada, desde que entrou em funcionamento, revelou os problemas que derivam do seu traçado sinuoso e consequente insegurança”, garantindo que é “uma das estradas mais perigosas do país”, alertam no seu projeto.

 

Petições discutidas

Além dos projetos de resolução, duas petições sobre os problemas do IP3 e que já contam com quase 7500 assinaturas vão também ser discutidas. Os autores são a Associação dos Utentes e Sobreviventes do IP3 e ainda várias associações viseenses: Associação Empresarial da Região de Viseu (AIRV), Associação Comercial do Distrito de Viseu, Associação Empresarial de Mangualde, Associação Empresarial de Lafões e Comunidade Intermunicipal Viseu Dão Lafões.

Os mentores destas petições estão satisfeitos com o debate e esperam que os resultados sejam os melhores. “Esperamos que o debate na Assembleia da República transmita um maior conhecimento para a opinião pública sobre uma região há muito abandonada pelo poder central.
E que, de uma vez por todas, se traga a requalificação do IP3”, disse ao Sol Álvaro Miranda, porta-voz da Associação de Utentes e Sobreviventes do IP3.

Também João Cotta, presidente da direção da AIRV, se mostrou esperançoso. “Apenas esperamos e desejamos que esta discussão seja mais um reforço para a requalificação do IP3. Oxalá não seja uma discussão estéril”, disse ao Sol.

Recorde-se que os autarcas de Viseu, Almeida Henriques, e de Tondela, José António Jesus, se congratularam com o facto de o IP3 voltar a ser tema de debate, mas mostraram-se um pouco céticos relativamente à solução do problema.

O Governo já assinou contrato para obras nalgumas zonas desta via, que deverão começar este mês, ficando apenas a faltar o aval do Tribunal de Contas.

 

Mortes

O i tentou contactar a GNR e a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária para tentar perceber os números de mortos neste itinerário nos últimos anos, bem como os troços mais preocupantes, mas não conseguiu obter resposta até ao fecho desta edição. Ainda assim, os mentores das petições apontam para cerca de duas centenas de mortos desde que a estrada foi inaugurada, em 1991.

Dados não recentes da GNR apontam ainda para que, entre 2010 e setembro de 2016, o IP3 viu morrer 19 pessoas, num total de 48 acidentes, dos quais resultaram ainda 54 feridos graves.