O chantagista

Dezembro de 2000, o ministro da Justiça do governo de Guterres, um político em ascensão dentro do PS e apadrinhado pelo então Presidente Sampaio, convoca as televisões e em directo ameaça demitir-se.

Em causa estavam declarações do secretário de estado dos Assuntos Fiscais da altura, Ricardo Sá Fernandes, também advogado das famílias das vítimas de Camarate, que teceu críticas à justiça devido ao processo que vitimou Sá Carneiro, Amaro da Costa e acompanhantes, fazendo com que o titular daquela pasta se sentisse atingindo e amuasse.

Guterres viu-se forçado a vir a terreiro defender o seu ministro, para evitar uma crise política e também por não querer afrontar Belém, manifestando-lhe toda a sua confiança e enaltecendo o trabalho que aquele vinha a desempenhar.

A ameaça ficou por ali, mantendo-se em funções o ministro chantagista.

Quase duas décadas mais tarde a história repete-se, com a agravante de que o político nela envolvido já não é um simples ministro, mas sim o chefe do governo da Nação!

Costa praticamente nunca fez nada na vida, a não ser deixar-se seduzir pelos joguinhos de poder, tornando-se num magistral jogador dessa arte, cuja aprendizagem se iniciou ainda durante a sua adolescência, na escola da juventude partidária socialista.

Os seus mestres foram Maquiavel, que lhe ensinou que para se conquistar o poder os fins justificam os meios, e Marx, no qual aprendeu o jogo da dissimulação e da mentira.

Como bom aluno de ciência política, quando exercida ao serviço do mal, Costa tem seguido escrupulosamente as regras que comungou dos seus mentores, misturando sistematicamente o interesse nacional com os seus proveitos pessoais.

Sendo um excelente habilidoso, soube aproveitar a generosa oferta com que os partidos situados à direita do espectro político parlamentar o presentearam, para vir a público armar-se em vítima e chantagear outro órgão de soberania, que não aquele de que é titular.

Na verdade Costa está-se nas tintas para os professores, sendo-lhe indiferente que estes recuperem ou não os anos de serviço que o Estado lhes sonegou.

Igualmente a sua verdadeira preocupação não é o controlo das finanças públicas, conforme o tem provado através das políticas despesistas que tem levado a cabo, com o exclusivo intuito de garantir a fidelidade da esquerda radical.

O défice, sabe-o bem, vai controlando-o com o aumento descontrolado dos impostos, principalmente dos indirectos, manha que lhe vai permitindo iludir os controladores de Bruxelas.

A sua única preocupação, que lhe consome todo o tempo do mundo, são os actos eleitorais que se avizinham, em particular as legislativas, estando disposto a recorrer ao que for necessário para garantir a sua continuidade ao leme do governo.

E as coisas não lhe estavam a correr bem, conforme o indicam as sondagens mais recentes.

A maioria absoluta era já uma miragem e a vitória nas europeias uma incógnita.

Não precisando já do apoio parlamentar da esquerda totalitária, por estarmos em final de legislatura e já com o último orçamento aprovado, seria de toda a conveniência matar a geringonça e ir a eleições o mais depressa possível, antes que lhe fugissem mais votos e, sobretudo, sem ter que vir a ser penalizado pelos eventuais incêndios do verão.

Assim, deitou mão ao presente que lhe caiu do céu, procurando gerar uma crise política que, irremediavelmente, conduzisse à antecipação das eleições para o parlamento.

Vitimizando-se e aparecendo aos olhos dos portugueses como o único garante da disciplina orçamental, esperava daí recolher os frutos que o catapultassem para uma recuperação do eleitorado que lhe estava a escapar, golpe com que sonhava poder prescindir de outros apoios partidários, que não o do seu próprio partido, na próxima legislatura.

Para o efeito contou com a sabujice e subserviência da generalidade dos comentadores políticos das diversas televisões e jornais, que lhe ampararam a jogada, esforçando-se por justificar, perante os ouvintes e leitores, a justeza da peça teatral ensaiada pelo mestre.

Assistiu-se a um espectáculo deprimente, de nos fazer corar a todos nós, portugueses, de vergonha, e em que todos os artistas das nossa praça, da esquerda à direita, lutaram pelo papel de protagonista.

A partidocracia, em todo o seu esplendor, mostrou, uma vez mais, aquilo que de pior teima em prevalecer na vida política da Nação!

Se Costa queria parecer sério, ter-lhe-iam restado dois caminhos possíveis:

O primeiro, e o mais natural, teria sido chamar à sua presença o líder da oposição e, se assim o entendesse preferível, também os dos outros partidos do arco da governação, e explicar-lhes as consequências da aprovação da lei cozinhada na comissão de educação.

Em vez disso optou antes por tomar de assalto as casas dos portugueses, por via da comunicação social, e assustar os mercados, denotando uma manifesta falta de sentido de estado.

O segundo caminho, caso concluísse como irredutível a posição daquela que foi cognominada por maioria negativa, seria a de anunciar a previsível demissão do governo, tal como o fez, mas com o acréscimo de declarar a sua indisponibilidade para se recandidatar a primeiro-ministro, por se achar incapaz de aplicar o aumento da despesa pública aprovada pelos deputados, considerando que os seus efeitos somente se farão sentir a partir do próximo ano fiscal.

Este gesto tê-lo-ia credibilizado junto da opinião pública.

Mas não, preferiu antes aldrabar toda a gente vendendo a ideia de que a reposição do tempo de serviço dos professores implicará uma derrapagem financeira do orçamento do corrente ano, alegação que é manifestamente uma mentira.

Infelizmente, para ele, a marcha-a-trás metida pelos partidos à sua direita veio arruinar-lhe os planos, pelo que, tudo o leva a crer, terá que ir a jogo dentro dos prazos constitucionalmente estabelecidos.

Mas, infelizmente para o País, graças às explicações atabalhoadas de quem se predispunha a aprovar a lei e à total ausência de rigor, critério e honestidade intelectual de quem faz a opinião publicada, viu reforçada a sua suposta credibilidade como gestor dos dinheiros públicos, pelo que a haver um vencedor neste folclore em que todos perderam, foi ele.

Se há uma lição a reter de todo este circo montado à custa dos professores, é a de que Costa e o seu ministro das finanças, co-responsável pelo engodo magicado em S. Bento, bem como os líderes dos restantes partidos com assento parlamentar, não são dignos da confiança dos portugueses.

Assim estes o demonstrem nos próximos actos eleitorais.

 

Pedro Ochôa