Em nove anos, morreram 24 pessoas no IP3

Dados são revelados pela Autoridade Nacional da Segurança Rodoviária e mostram a elevada sinistralidade nesta estrada. 

Em nove anos (de 2009 a 2018) 24 pessoas morreram em acidentes no Itinerário Principal 3 (IP3) que liga Coimbra a Viseu. Os dados, divulgados aos SOL pela Autoridade Nacional da Segurança Rodoviária (ANSR) mostram a elevada sinistralidade nesta estrada do interior do país.

Segundo os dados da ANRS, os anos em que se registaram mais mortos foram 2012, 2016 e 2018, com quatro mortos cada um. Já o número de acidentes foi superior a 570, tendo resultado num total de 902 feridos graves e leves.
Os perigos do IP3 estiveram esta semana na ordem do dia no Parlamento, com a discussão de duas petições submetidas à Assembleia da República e quatro projetos de resolução apresentados por PSD, PCP, BE, PEV.

Depois de duras críticas ao Governo (e aos governos anteriores) pelo facto de as promessas não terem sido cumpridas em relação às obras nesta via, o deputado Pedro Coimbra, do Partido Socialista, anunciou que, cinco meses depois da assinatura do contrato entre o Governo e a Infraestruturas de Portugal para que as obras nesta via comecem, foi publicada em Diário da República a autorização das verbas.

A intervenção será realizada entre o nó de Penacova e a ponte sobre o Rio Dão e a autorização publicada do Diário da República prevê uma empreitada de quase 12 milhões  de euros (11.8 milhões) com um prazo de execução de 330 dias (aproximadamente 11 meses). Para que as obras tenham início, fica então só a faltar o aval do Tribunal de Contas.

Obras no valor de 134 milhões de euros

O deputado Pedro Coimbra aproveitou ainda as duras críticas de que o seu partido foi alvo para fazer um outro anúncio: «No troço entre Penacova e a Foz do Dão será efetuada uma profunda reabilitação. É um investimento de 134 milhões de euros totalmente suportado pelo Orçamento do Estado, aplicado ao longo de 75 quilómetros», disse.
Na sessão plenária, o deputado destacou que as obras são absolutamente necessárias, prometendo o esforço do seu partido para que se realizem. «Percebo o ceticismo de muitos. Às vezes eu sinto o mesmo. Foram muitos os compromissos do passado que não foram honrados. Tenho forte convicção de que a palavra dada será mesmo honrada», destacou.

Críticas mas com vontade de se chegar a um consenso

«O IP3 está na mesma. Está na mesma não, está pior. Não houve intervenção relevante. Níveis significativos de tráfego, elevada sinistralidade. Quatro anos de mentira e esquecimento», acusou o deputado do PSD, Pedro Alves. O deputado acusou ainda o Governo de ter colocado a Via dos Duques na gaveta. Pedro Alves recomendou que o Executivo desenvolva todos os procedimentos em perfil de autoestrada, garantindo a existência de uma solução não portajada.

Ana Mesquita, deputada do PCP, lembrou na sua intervenção o tempo de espera já demasiado longo para que as obras tenham início. «Estava previsto o início para maio. Estamos em maio e nada acontece. O PCP defenderá sempre o IP3 sem portagens, já bem basta o que a população tem pago», defendeu.

Heitor de Sousa, deputado do BE, relembrou que embora os projetos de resolução não sejam todos iguais, é importante que sejam todos aprovados mas que a solução ideal será a requalificação de todo o IP3 sem portagens.
Na sua intervenção, José Luís Ferreira, do PEV,  destacou a importância desta estrada, relembrou as mortes e criticou que as intervenções no IP3 ao longo dos anos tenham sido «escassas e pontuais».

Apesar de não ter apresentado nenhum projeto de resolução, o CDS/PP fez-se representar neste debate pelo deputado Hélder Amaral, que não acredita que sejam realizadas quaisquer obras. «Estou solidário com todos porque mais uma vez foram enganados e isto não resultará em coisa nenhuma», acusou.

Contactado pelo SOL, Álvaro Miranda, porta-voz de Associação dos Utentes e Sobreviventes do IP3 – associação que criou uma das petições apresentadas – espera agora os resultados do debate realizado. «Pelo menos fez-se ouvir a cidadania. Agora é aguardar o início da obra que já só peca por tardia», disse.

A outra petição foi apresentada por várias associações viseenses:  Associação Empresarial da Região de Viseu, Associação Comercial do Distrito de Viseu, Associação Empresarial de Mangualde, Associação Empresarial de Lafões e Comunidade Intermunicipal Viseu Dão Lafões.

Degradação física, más condições de segurança, falta de investimento e manutenção são algumas das principais falhas apontadas pelos partidos e pelos mentores das petições, que esperam ver o cenário mudar em breve. As associações estimam que, desde a inauguração do IP3 em 1991, já tenham morrido duas centenas de pessoas em acidentes nesta via.