Estrutura da Ponte da Arrábida terá sido afetada por obras recentes

Projeto de Edgar Cardoso não previa escada entre os arcos que suportam o tabuleiro. Proprietária da restaurante recorda que explosões em edifício coníguo à ponte faziam tremer o chão e podem ter afetado estrutura.

Obras realizadas em 2002 nos arcos do lado da cidade do Porto terão afetado a estrutura básica da Ponte da Arrábida, edificada em betão armado. Quinze anos depois, as sucessivas explosões de dinamite num prédio contíguo entretanto embargado terão agravado os problemas, resultando na queda de revestimento que levou à interrupção do trânsito, em ambos os sentidos, pelo menos até hoje, enquanto prosseguem já as avaliações pelos técnicos da Infraestruturas de Portugal.

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O facto de nem a pé se poder passar pela marginal não não está a agradar aos transeuntes. Face ao impedimento, os turistas utilizaram um passadiço de betão junto à margem direita do Rio Douro, alternativa que por sua vez também não era muito segura, dada a estreiteza do passadiço.

Ouvidos pelo i no local, um engenheiro e um arquiteto que ali se deslocaram a título de curiosidade e residentes nas imediações, sublinharam que “não foi pela falta de aviso que isto agora aconteceu”.

A construção de uma escadaria entre ambos os arcos que suportam o tabuleiro – numa primeira fase, ainda no consulado de Rui Rio como presidente da Câmara Municipal do Porto, a escadaria destinava-se a facilitar os trabalhos dos técnicos nas suas vistorias para a manutenção da Ponte da Arrábida, mas mais tarde tornou-se uma atração turística, com visitas guiadas já na presidência de Rui Moreira – terá “escanado” sequencialmente a estrutura de cimento armado. Como afirmaram ao i os dois especialistas, que preferem manter o anonimato porque estão estabelecidos no Porto, a obra, que nunca esteve prevista, nem sequer autorizada pelo projetista, o engenheiro Edgar Cardoso, diminuiu a resistência da ponte.

António Silva, de 58 anos, residente na freguesia de Lordelo do Ouro, considera que o incidente tem origem na degradação do material: “Não podemos esquecer que esta ponte já tem a minha idade, as coisas vão-se deteriorando, depois acontece isto”. E recorda que “quando era criança às vezes atravessava os arcos do Porto para Gaia, só que na altura não havia escadas, era só possível subir os arcos, que funcionavam tipo escorrega, aquilo é muito escorregadio por causa do pó do cimento, na altura nem pensávamos no perigo”.

Já a proprietária de um restaurante ali próximo refere também as obras recentes no prédio contíguo. “Quando começaram a construir este edifício que está embargado, as explosões de dinamite para ‘abrir’ as pedras da Escarpa da Arrábida, o chão tremia bastante”, explica. “Fartei-me de avisar a Câmara Municipal do Porto, só que na ocasião ninguém me quis dar ouvidos”.

 

Desprendimentos são “superficiais”

Os pedaços de argamassa que caíram durante a noite de terça-feira da Ponte da Arrábida, para a via marginal, são todos fragmentos de revestimento daquela estrutura, garantiu a empresa Infraestruturas de Portugal, levando desde logo a PSP do Porto à interrupção do trânsito, em ambos os sentidos, para evitar eventuais danos, pessoais e materiais, no caso de haver mais quedas de revestimento.

Ainda de acordo com a Infraestruturas de Portugal, “a segurança estrutural da ponte não está em risco, porque os pedaços de argamassa que caíram na via são os provenientes do revestimento da ponte”, o que quer dizer “não existir relação entre estes desprendimentos superficiais e qualquer fenómeno estrutural que possa comprometer a estrutura da ponte”.

A intervenção necessária para a reposição da circulação de trânsito implicou a colocação de um equipamento, o que por sua vez causará constrangimentos de trânsito, também no tabuleiro da ponte, uma “intervenção que não é urgente”, pelo que será feita por fases sempre em horários com menos picos de trânsito, provavelmente mais durante a madrugada.

Por sua vez, a Câmara do Porto referiu que a Ponte da Arrábida, construída em 1963, tem sido alvo de “frequente manutenção por parte do Estado Central, que é seu proprietário”, acrescentando que “eventos de desprendimento de argamassa acontecem, por vezes, neste tipo de estruturas, devido a fenómenos variados, como são os causados por temperaturas”.

No local foram colocadas vedações pela Proteção Civil, de forma a impedir a circulação, sendo que as indicações impostas determinam, também, a proibição da circulação a pé. Algumas pessoas aproveitaram os caminhos estreitos junto ao rio para passarem.

 

Acidentes em cadeia

A circulação está a ser desviada, na sua maioria, para a Rua do Campo Alegre, que se encontra ainda congestionada pelo excesso de tráfego, o que, potenciado pela falta de civismo e impaciência de alguns automobilistas, levou a diversos acidentes em cadeia.

Os peregrinos do Caminho de Santiago foram também afetados, mas os agentes da PSP iam dando indicações para desvios alternativos e voltando depois ao seu percurso litoral, enquanto alguns moradores da zona vizinha do Bicalho comentavam que “ainda há dois anos, havia uma empresa que fazia visitas para turistas, com arneses, pelos arcos acima”, referindo-se às subidas até 65 metros de altura, para aqueles que não tendo vertigens, iam até aos 262 degraus construídos há cerca de uma década e meia, podendo fazer “selfies”.

A Ponte da Arrábida, mais tarde considerada Monumento Nacional, é uma das obras com maior complexidade de engenharia e deu ao Porto uma nova centralidade para a Boavista, através da zona do Campo Alegre, contribuindo decisivamente para o desenvolvimento das zonas ocidental e litoral da cidade do Porto, quando até ao início da década de 1960 a área da Baixa concentrava todos os serviços. Foi inaugurada pelo então presidente do Conselho de Ministros, António Oliveira Salazar.

António Silva, de 58 anos, residente ali perto, na freguesia de Lordelo do Ouro, afirmou ao i que “para mim, isto tem a ver com a degradação do material, não podemos esquecer que esta ponte já tem a minha idade, as coisas vão-se deteriorando, depois acontece isto”.

Sem apontar outras causas, como a referida pelo engenheiro e o arquiteto, António Silva recorda que “de facto do início da década de 2000 andaram para ali a esburacar os arcos, para fazer uma escadaria, eu não sei se foi por isso, nunca mais lá fui, desde que quando era criança às vezes atravessava os arcos do Porto para Gaia, só que na altura não havia escadas, era só possível subir os arcos, que funcionavam tipo escorrega, aquilo é muito escorregadio por causa do pó do cimento, nós naquela altura nem pensávamos no perigo”.