Um dos passatempos mais baratos que existem

Tal como no restaurante escolho sempre o vinho em função da coluna da direita, também na compra de livros (sobretudo em alfarrabistas) a minha decisão depende grandemente do preço. Se vejo algum que me interessa, faço uma equação rápida em que pondero, semi-intuitivamente, vários fatores.

Em 1946, dois anos antes de publicar o premonitório 1984, George Orwell dedicou um pequeno ensaio ao preço dos livros a que chamou ‘Books v. Cigarettes’. O título é feliz porque contrapõe um bem duradouro (e enriquecedor) a outro efémero (já para não dizer que prejudica a saúde). Orwell, que teve a ideia de escrever este texto quando um grupo de operários lhe disse que não podia ler certos livros porque eram demasiado caros, fez algumas contas e chegou à conclusão de que os ingleses gastavam, em média, quase tanto dinheiro em cigarros como em livros. E os cigarros, note-se, na altura eram baratíssimos…

«Há livros que se lê vezes sem conta, livros que se tornam parte da nossa mobília mental e que moldam toda a nossa atitude perante a vida, livros que começamos mas nunca lemos até ao fim, livros que se leem de um fôlego e se esquecem uma semana depois: e o custo monetário pode ser o mesmo em qualquer dos casos», notava o autor. Em seguida, feita uma estimativa por alto, deduzia: «Creio ter dito o suficiente para mostrar que a leitura é um dos passatempos mais baratos que há: a seguir a ouvir rádio, provavelmente o mais barato».

Será mesmo? Como na Inglaterra do pós-guerra, há em Portugal quem se queixe do preço dos livros – e terá alguma razão, se compararmos com os famosos paperbacks da Penguin ou os livres de poche franceses.

Ainda assim, quem esteja atento consegue encontrar excelentes oportunidades, o que faz toda a diferença quando dispomos de recursos limitados – e temos de equilibrar os gastos que fazemos com livros com outras coisas mais prementes, como comida, educação, transportes, impostos e eletricidade.

Tal como no restaurante escolho sempre o vinho em função da coluna da direita, também na compra de livros (sobretudo em alfarrabistas) a minha decisão depende grandemente do preço. Se vejo algum que me interessa, faço uma equação rápida em que pondero, semi-intuitivamente, vários fatores. No fim, pode acontecer levar um livro que nem é assim tão relevante, só porque estava muito barato; ou não levar um que queria realmente, porque na altura não tinha essa disponibilidade. Mas de um modo geral não me tenho dado mal com isso.

Há poucas semanas referi aqui a Burlington Magazine, a que chamei ‘a mais elitista das revistas de história da arte’. Não sendo um livro, custa mais do que muitos livros – cada exemplar, pelas via ‘oficial’, fica a qualquer coisa como 40 euros. Por isso imaginem a minha alegria ao adquirir dez números antigos por cinco euros. Ou, ainda mais recentemente, quando consegui encontrar por uma fração do preço habitual um volume de poesia de que andava à procura há anos, porque me faltava o par.

Nestes casos, a leitura não é apenas, como dizia Orwell, «um dos passatempos mais baratos que há». É também, literalmente, um excelente negócio!