Os populistas

Chega a ser constrangedor assistir-se a todo este pânico que se instalou nas cabeças pensantes do politicamente correcto, a propósito da eventual entrada em força no Parlamento Europeu dos partidos que, um pouco por toda a Europa, se têm revoltado contra as políticas em curso de destruição das Nações europeias.

Chefes de Estado, incluindo o omnipresente em quem os portugueses delegaram a sua representação, chefes de governo, dirigentes dos partidos do sistema, comentadores políticos e jornaleiros de serviço, supostos agentes da cultura e toda uma panóplia de figuras ditas da sociedade, não se têm poupado a esforços em alertarem para os perigos que representam os movimentos que eles insistem em catalogar de populistas e de extrema-direita.

E se alguém, elevando a voz contra a corrente dominante, desvaloriza o epíteto depreciativo com que muitos desses partidos foram brindados, como o fez o cabeça de lista do CDS às eleições europeias, Nuno Melo, que teve a coragem e a honestidade intelectual de reconhecer que o Vox espanhol não é de extrema-direita, é de imediato engolido e erguido igualmente ao patamar do extremismo e do populismo.

Mas, vejamos, qual a justificação para se acusar o Vox, que resultou de uma cisão dentro do Partido Popular, uma força inquestionavelmente de cariz democrático, de ser extremista?

Por defender a unidade de Espanha, opondo-se a cedências aos movimentos separatistas que se rebelaram contra os preceitos constitucionais vigentes, incitando à secessão dos territórios autónomos?

Por defender a primazia da família, não se vergando perante as políticas que põem em causa a sustentabilidade da natalidade e a preservação da vida, como o aborto, os casamentos homossexuais, as barrigas de aluguer e a eutanásia?

Por defender uma entrada controlada de imigrantes, a qual responda apenas às necessidades reais de mão-de-obra vinda do exterior, evitando-se, assim, que se criem cisões irreversíveis dentro da sociedade?

Por defender as tradições culturais dos espanhóis, em particular as touradas e as caçadas?

Por defender o direito inalienável da Espanha em ser o primeiro garante da responsabilidade pela escolha e implementação das políticas que regulam a vida em sociedade dos seus cidadãos, opondo-se ao aventureirismo federalista cozinhado em Bruxelas, cujas consequências mais evidentes serão a diluição das Nações e a consequente subserviência das populações a poderes obscuros, não eleitos e emanados do exterior?

São isto ideias extremistas e populistas?

É por defenderem estes princípios que muitos dos movimentos de contestação à nova ordem mundial, e que têm merecido a confiança do eleitorado em países que permanecem democráticos, como a Itália, a Hungria, a Polónia, os Estados Unidos e o Brasil, para citar apenas alguns, são constantemente bombardeados de todos os lados com acusações de racismo, xenofobia, homofobia, islamofobia e mais uma série interminável de inusitados impropérios a que não falta a analogia ao fascismo e ao nazismo?

Claro que o populismo somente existe junto daqueles que se convencionou numerar como sendo de extrema-direita. A esquerda, essa, está imune a esse tipo de contágio!

Não é populismo vir-se para as ruas pregar que se devem taxar ainda mais as maiores fortunas, como medida eficaz e fundamental para se combater a pobreza e as desigualdades sociais!

Ou que se torna indispensável nacionalizar todas as empresas prestadoras de serviço público, concentrando nas mãos do Estado todas essas tarefas, única condição para que os cidadãos usufruam de melhores condições de vida.

Estas ideias, entre outras absolutamente nada populistas, e que tão entusiasticamente têm sido apregoadas pela esquerda radical, transformou, em poucos anos, o país mais rico da América do Sul num dos mais pobres do planeta.

Mas Trump, esse perigoso populista que se preparava para afundar os Estados Unidos e envolvê-lo em sangrentas guerras, conseguiu, em apenas dois anos, desmistificar o slogan marxista de que os ricos são a origem de todos os males, limitando-se, para o efeito, em reduzir consideravelmente a carga fiscal sobre as grandes empresas, revertendo, dessa maneira, a política socializante implementada pelo seu antecessor.

Resultado, os EUA têm agora a menor taxa de desemprego das últimas seis décadas e um crescimento económico de fazer inveja a qualquer das mais robustas economias europeias.

E porquê? Muito simples, os patrões, vendo-se com mais capital entre mãos, puderam contratar mais pessoal e aumentar os salários dos seus trabalhadores.

Mas, claro, tudo isto não passa de um descarado populismo!

Entre nós, Costa nada tem de populista quando se vangloria de ter levado o défice a níveis baixos históricos, escondendo que o fez à custa da dívida pública, a qual sobe vertiginosamente a cada dia que passa!

Como também não cedeu ao populismo oferecendo transportes mais baratos aos residentes nas zonas mais densamente povoadas, cujo voto se torna decisivo na hora de escolher quem nos governa, fazendo-o graças aos impostos de todos, mesmo daqueles que nada ganham com essas benesses.

Impostos esses, aliás, que representam já a maior contribuição fiscal de que há memória em Portugal, ultrapassando mesmo largamente a que nos foi imposta pelas instituições financeiras internacionais de quem nos socorremos por via dos disparates dos políticos que nos saíram em desgraça.

A título de exemplo registe-se que atestar o depósito de gasolina de um automóvel custa hoje mais dez euros do que custava no início do ano. Há somente cinco meses!

E falamos de um período em que o preço do barril de petróleo tem baixado no mercado internacional!

Mas populistas somos nós, os que não nos cansamos de denunciar que somos governados por vigaristas sem vergonha!

 

Pedro Ochôa