May pressionada para se demitir depois de propor novo referendo

O novo plano de saída da UE é rejeitado por quase todas as forças políticas. Mesmo assim, a primeira-ministra recusa demitir-se por agora.

Num último ato de desespero, Theresa May apresentou à Câmara dos Comuns um projeto de lei que pretende que os deputados britânicos votem um segundo referendo ao Brexit. O plano irá a votos em junho e será a quarta proposta que a primeira-ministra leva ao Parlamento sobre a saída do Reino Unido da União Europeia. May enfrenta outra provável derrota em Westminster e até uma possível nova moção de censura do grupo parlamentar do Partido Conservador, do qual é líder.

A chefe de Governo insistiu, na última terça-feira, que esta é “[a] última chance para entregar uma saída negociada, ou arriscamos que o Reino Unido simplesmente não saia da UE”. O documento apresentado por May inclui alterações para uma aproximação tanto das reivindicações do Partido Trabalhista como dos eurocéticos conservadores.

No entanto, a proposta não foi bem aceite no Parlamento. Jeremy Corbyn, líder do Partido Trabalhista, exigiu a demissão de May no debate de ontem na Câmara dos Comuns: “Durante os últimos três anos, ela [May] não fez qualquer tentativa para unir o país. Focou-se apenas em manter o seu partido [que está] dividido. E não resultou”. O líder trabalhista assegurou que a primeira-ministra “já não tem autoridade para oferecer um compromisso que não consegue realizar” e que “está na hora de uma nova eleição geral”.

 A contestação também foi forte no seio dos próprios conservadores. “Ela [May] está desesperada, está iludida e está condenada”, disparou David Jones, antigo secretário do Governo para o Brexit. O presidente do grupo parlamentar do Partido Conservador, Nigel Evans, apelou à alteração das regras para permitir a deposição de Theresa May. A líder dos tories sobreviveu à última moção de censura do seu partido – em dezembro de 2018 – e as regras dos conservadores só permitem a apresentação de moções de censura a cada 12 meses. Jacob Rees–Mogg, da ala direita dos conservadores, também pediu a sua demissão: “A primeira-ministra devia reconhecer que não tem a maioria na Câmara e tomar a abordagem mais digna, apresentando a sua demissão à Rainha”. Boris Johnson, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros e um dos favoritos para substituir May, classificou o plano da primeira-ministra como uma “golpada constitucional”. Já o líder dos Liberais Democratas – Vince Cable – disse à BBC que “o que parece ser uma concessão não o é”.

A última proposta de saída da UE de Theresa May foi rejeitada por 230 votos, tendo sido a maior derrota de sempre no Parlamento britânico, apenas equiparada à derrota de Ramsay MacDonald, líder do Governo trabalhista, em 1924, por 166 votos.

O porta-voz da primeira-ministra insistiu que a líder conservadora não irá ceder a pressões para se demitir no imediato. Todavia, a líder da Câmara dos Comuns, Andrea Leadsom, acabou por se demitir, através duma carta dirigida à primeira-ministra onde escrevia que não acreditava que o país “seria um Reino Unido verdadeiramente soberano através do acordo que é agora proposto”. Outros membros do Governo britânico também já mostraram o seu descontentamento.

Neste momento, todas as possibilidades estão em aberto: uma saída negociada, uma saída sem acordo, eleições legislativas ou um segundo referendo. É neste cenário que o Partido do Brexit, de Nigel Farage, cresce nas sondagens para as eleições europeias de hoje, no Reino Unido, com 37% das intenções de voto. Tanto o Labour como o Partido Conservador poderão sofrer derrotas históricas.