A silly season está de volta

Tempo de eleições é tempo de disparates. Não é de agora, nem é exclusivo de Portugal. 

Tanto quanto recordo, a única campanha eleitoral escorreita foi a primeira, a das eleições para a Assembleia Constituinte. A fome cívica de participação na vida política e a qualidade dos candidatos contribuíram para que o debate fosse elevado e a afluência às urnas massiva. Depois disso, os partidos deixaram o pé resvalar para a chinela e desceram a um nível de indigência que põe às escâncaras o enorme fosso que os vai distanciando dos eleitores. Espanta que, em tão pouco tempo, a nossa jovem democracia se tenha tornado obsoleta. 

A campanha eleitoral foi esclarecedora. As eleições são para a Europa, mas os grandes desafios da casa comum estiveram ausentes das manifestações partidárias, dos debates televisivos, das entrevistas e das ações de rua. Tudo o que se disse pareceu mais destinado a afastar os eleitores do que a apelar ao voto. Abundaram os dislates, as contradições e as gafes, com o povo a dizer: tirem-nos deste filme! 

Disse, por exemplo, o candidato comunista: «Irresponsabilidade é pensar que um país se desenvolve com baixos salários». Nada mais verdadeiro, mas a questão é outra: quem mais fez que o PCP para limitar os salários, a ponto de Portugal ser o mau exemplo de um país com o salário médio colado ao salário mínimo, por força da guerra movida aos ‘ordenados milionários’? Diria o Diácono Remédios: ‘Não habia nexexidade’… 

Para não fugir do tom, os candidatos do Partido Socialista não encontraram melhor para atacar o número um da lista do PSD do que este trunfo pífio: «Ele foi de helicóptero para fugir ao contacto com os eleitores». Falando em Leiria, António Costa saiu-se com uma pérola digna do cardápio do almirante Thomaz: «Leiria é o melhor distrito do país». Que dirá o homem quando falar em Viana do Castelo, no Porto ou em Santarém? Já agora, poderá o Dr. Costa dizer ao país quais são os indicadores em que se baseia para declarar que Leiria é melhor que Braga, ou Aveiro, ou Funchal, ou…?

Como a indigência mental é doença que tende a alastrar, o cabeça-de-lista do CDS não perdeu a sua pitada de tolice e vá de proclamar as virtudes do VOX espanhol, enquanto, ali ao lado, o grupo parlamentar do PSD fazia a burrice de aderir às causas de Mário Nogueira. A direita e o centro já viveram o suficiente para saberem que ‘quem não tem competência não se estabelece’, mas insistem na asneira – que, ensina a etimologia, são os actos dos asnos. Perante o haraquíri do PSD, António Costa fez xeque-mate, comprovando que ‘em terra de cegos, quem tem um olho é rei’. Depois, afixou o sorriso de superioridade e brindou à insanidade laranja. 

A piorar as coisas, o Presidente Marcelo… embatucou, diante da encenação da demissão do Governo, e o povo fez o esperado: correu a refugiar-se na baiuca que lhe oferece segurança. O que aí se promete é descaradamente pobre, mas ninguém está para confusões que venham estragar as férias de Verão.
Coisas de uma silly season antecipada.