Entre surpresa e desilusão. PAN foi o grande vencedor das eleições

O PAN estreou-se no Parlamento Europeu, contrariando muitas das sondagens que foram avançadas nos últimos dias. De pequeno dá um salto para médio partido.

Ao contrário das expectativas dos candidatos, o Aliança saiu derrotado deste ato eleitoral, apesar do seu líder não querer usar essa expressão. Mas a desilusão esteve refletida no partido liderado por Pedro Santana Lopes. Também André Ventura seguiu o mesmo cenário. Mas o grande derrotado da noite é Marinho e Pinto que, depois de ter surpreendido em 2014, ao conseguir ser eleito, desta vez e com novo partido, o seu objetivo saiu fracassado.

PAN

O partido Pessoas-Animais-Natureza  foi sem dúvida a surpresa da noite ao conseguir eleger um eurodeputado, confirmando assim a sua influência como força política junto dos eleitores portugueses. Em 2015, o PAN chegou ao Parlamento português elegendo o primeiro deputado e agora é a vez de Francisco Guerreiro, o candidato mais jovem destas eleições, chegar ao Parlamento Europeu. A sua mensagem centrou-se nas alterações climáticas, o que garantiu uma campanha não só mais próxima dos jovens, mas também daqueles que não se reviam nos partidos mais tradicionais. Ainda ontem à noite, Inês Sousa Real, da  comissão política do partido revelou que o PAN “não se identifica com a tradicional esquerda e direita”, acrescentando que tem optado por “trazer causas que não tinham voz até agora”.

O PAN vai integrar o grupo Verdes/Aliança Livre Europeia.  grupo, presidido pela alemã Ska Keller e o francês Phillipe Lamberts e que se situa à esquerda no espetro político, junta ecologistas, progressistas, nacionalistas e não-alinhados. Todas estas correntes políticas estão unidas pela defesa do ambiente, a igualdade de oportunidades e uma Europa aberta e democrática. Até agora, o grupo não tinha eurodeputados portugueses eleitos.

Aliança

Paulo Sande, candidato do partido Aliança, foi um dos derrotados da noite. Apesar de estar convencido que conseguiria ser eleito, os resultados trocaram-lhe as voltas e acabou por admitir que a mensagem que tentou transmitir durante a campanha não teve frutos. Ainda assim, não aceitou a ideia de derrota. “Não é uma derrota é o começo de um caminho. Claro que um partido novo como o Aliança, e não é o único partido novo nestas eleições, tem mais dificuldade em fazer passar a sua mensagem. Falámos da Europa o tempo todo, eu falei o tempo todo da Europa porque sei a importância que ela tem para nós”, referiu.

O candidato recusou-se a tirar ilações para as legislativas de outubro, alegando que “são outra coisa”. Também o líder do partido, Santana Lopes prefere falar em “desilusão” do que em derrota. “Não estamos contentes, não estamos satisfeitos, mas estamos convencidos que noutras sedes do centro-direita também não haverá grande satisfação. Disse há dois meses: se querem que frente de esquerda tenha alternativa que a possa derrotar, é preciso convergência”.

A verdade é que a campanha do partido foi atípica. Na primeira semana, Santana Lopes e Paulo Sande sofreram um acidente de viação na autoestrada A1, obrigando o líder do partido a estar ausente nos restantes dias só regressando para a arruada de encerramento em Lisboa. Este domingo chegou a admitir que ainda se encontrava um pouco combalido.

Basta

André Ventura não convenceu. Depois de ter sido candidato à câmara de Loures pelo PSD – momento que marcou a sua entrada no palco mediático da política – criou um novo partido – o Chega, mas o processo de legalização do partido ficou marcado pelo chumbo inicial do Tribunal Constitucional (TC) ao encontrar assinaturas irregulares – até chegar a cabeça de lista às eleições europeias pela coligação Basta, que inclui o Partido Popular Monárquico (PPM) e o Partido Cidadania e Democracia Cristã (PPV/CDC). Ventura esteve envolvido em várias polémicas durante a campanha eleitoral. A mais recente foi no sábado ao partilhar uma fotografia no Facebook onde se via André Ventura em frente a um monumento de homenagem às vítimas mortais dos incêndios de Pedrógão Grande. De acordo com a lei eleitoral, não é permitido publicar propaganda no dia de reflexão e o candidato foi obrigado a retirar o post. Mas os problemas não ficaram por aqui e poderão ter ditado este resultado. A par das promessas e declarações “bombásticas”, a campanha ficou marcada pela ausência de Ventura num debate televisivo, depois de ter optado por manter “um compromisso profissional que tinha” como comentador desportivo na CMTV, função que considerou compatível com a campanha política. Nessa altura, justificou a sua ausência: “Não sou rico. Vivo dos meus compromissos profissionais e decidi cumprir com a minha palavra e com a minha obrigação”.

Marinho e Pinto

Marinho e Pinto que, nas últimas eleições, foi a grande surpresa do ato eleitoral, desta vez, saiu derrotado. Em 2014, o Movimento Partido da Terra (MPT) elegeu dois eurodeputados, mas agora  o cabeça de lista do Partido Democrático Republicano (PDR) não conseguiu renovar o seu mandato. Ainda antes de saber os resultados, Marinho e Pinto mostrou-se preocupado com o futuro europeu. “A Europa está ameaçada e quando dizemos que a Europa e a União Europeia estão ameaçadas é a democracia, é a liberdade, é o pluralismo, é a paz que está ameaçada”, afirmou.

O candidato foi mais longe. “Há pulsões belicistas muito fortes dentro da Europa, há pulsões liberticidas, há pessoas e poderes da Europa que não convivem com a liberdade nem com o pluralismo e, portanto, votar, independentemente do partido em que se vota, é, em si, um ato que, mais do que o projeto europeu, reforça a democracia na Europa, reforça o pluralismo, a liberdade e a paz”. Acrescentou ainda que esse “é o grande bem que a Europa conseguiu nos últimos 70/80 anos e que infelizmente as novas gerações não valorizam”.

Pelo meio ficou a ideia de que não iria entrar numa nova corrida, que acabou por ser afastada, mas acabou por mudar de ideias. Na altura, justificou essa mudança: “Estava cansado, mas não estava desiludido com a União Europeia”. Os resultados é que já não foram os mesmos.

Livre

O ditado diz que “há terceira é de vez”, mas essa máxima não se aplica ao partido de Rui Tavares. Este ano não conseguiu eleger nenhum eurodeputado. O mesmo cenário tinha ocorrido em 2015 nas legislativas, depois de ter conquistado 2,18% dos votos em 2014. Mas não é tempo de baixar os braços e o Livre já tem as suas atenções viradas para outubro. “É importante que continuemos juntos a lutar pela mesma causa. Em outubro há novas eleições e é preciso continuar a espalhar, pessoa a pessoa, o que é o Livre” e mostrou-se otimista em relação à hipótese de conseguir até dois deputados nas legislativas.