Governo austríaco cai depois de moção de censura

Escândalo do “Ibizagate” depõe o Governo. É o mais curto da história da Áustria do pós-guerra.

O chanceler austríaco, Sebastian Kurz, deixou o Executivo depois de uma moção de censura ao seu Governo ter passado no Parlamento, apesar da vitória do seu Partido Popular (ÖVP), nas eleições europeias.

A moção foi submetida pelo Partido Social Democrata (SPÖ) e apoiada pelo Partido da Liberdade (FPÖ), formação de extrema-direita que formava Governo com Kurz, e também pela lista “Agora”. A líder dos sociais democratas, Pamela Rendi-Wagner, durante o aceso  e longo debate parlamentar, responsabilizou o chanceler pelo caos que se instalara no Governo, qualificando as  suas acções como “vergonhosas, descontroladas e fixadas ao poder”. Rendi-Wagner atirou a responsabilidade política a Kurz por ter, em primeiro lugar, convidado o FPÖ para formar Governo.  

O Governo foi deposto depois do escândalo de corrupção “Ibiza Gate”, criado pelo antigo vice-chanceler e líder do FPÖ, Heinz-Christian Strache, após a divulgação de um vídeo pelos jornais alemães Der Spiegel e Süddeutsche Zeitung, onde mostrava Strache a negociar contratos do Estado com uma alegada sobrinha de um oligarca russo, numa vila luxuosa em Ibiza, Espanha, três meses antes de entrar no Governo, em 2017. 

A mulher em causa apresentava-se como Alyona Makarova, e dizia ser sobrinha do oligarca Igor Makarov, que tem negócios no petróleo e gás natural. Nas filmagens, Alyona oferecia-se para comprar o Kronen Zeitung, o jornal mais vendido na Áustria e torná-lo num órgão de apoio ao partido de extrema-direita. Em troca, Strache teria que conceder concursos de construção pública, atualmente entregues ao gigante da construção austríaca, o Strabag. Entre outras declarações infames, o antigo vice-chanceler parece sugerir, no vídeo, um esquema de financiamento ilegal através de uma fundação ligada ao FPÖ. Strache teve que admitir rapidamente o embaraço e as suas declarações “vergonhosas”, apresentando a sua demissão pouco depois da divulgação do vídeo.

 O chanceler foi obrigado a demitir o ministro do Interior, da FPÖ, Herbert Kickl, com o argumento de que seria impossível Kickl dirigir uma investigação ao seu próprio partido, o que levou a uma retaliação da FPÖ, com a demissão em massa dos seus ministros, abandonando, assim, o Governo. 

Durante o debate parlamentar, o líder do ÖVP, de 32 anos, acusou a oposição de causar instabilidade no país com a moção de censura, mas assegurou que respeitaria o voto, garantindo uma transição ordeira e pacífica.

O Presidente Alexander Van der Bellen terá agora que nomear um chefe de Governo até setembro, data  para a realização das próximas eleições legislativas. O favorito à sucessão parece ser o ex-comissário europeu para a Agricultura, Franz Fischler, mas ainda não existe qualquer confirmação oficial do Presidente.

 É a primeira moção de censura bem sucedida na Áustria pós-guerra , tornando-se assim, no Governo mais curto da história do país. Tudo isto depois do ÖVP  ter vencido as eleições europeias, obtendo mais sete deputados do que em 2014 e 34% dos votos. A FPÖ perdeu um deputado, descendo de 19,7% para 17,2%. 

Kurz, que é conhecido pela sua linha dura contra a imigração, tentou retratar-se como vítima, dizendo ser difícil  de “engolir”   as “excentricidades” da FPÖ, embora resguardando sempre a necessidade de se juntar à extrema-direita: “Não havia outro partido pronto para formar coligação connosco”, defendeu-se aos  jornalistas, na última quinta-feira, quando foi questionado se se arrependia da coligação.