A ‘maioria silenciosa’…

A ‘maioria silenciosa’ reapareceu em força nas europeias e ganhou as eleições. E tanto vencedores como vencidos o foram com ‘poucochinho’…

António Costa celebrou uma vitória curta, reconfortado por se ter chegado à frente, intuitivamente, para ‘salvar a face’ e safar do desastre um cabeça-de-lista tão vazio que ninguém percebeu a escolha.

Rui Rio fingiu que o revés histórico não foi seu, ‘trespassando-o’ a um candidato que perdeu o fôlego ao sentir-se derrotado pelo contorcionismo patético do líder na ‘guerra dos professores’.

Uma semana volvida sobre a ‘grande sondagem’ para as legislativas de outubro, que sobra das europeias que, de antemão, não se soubesse?

Dir-se-á que, entre os partidos com assento parlamentar, há três que precisam urgentemente de mudar de líder. Todavia, para qualquer um deles, o intervalo até às legislativas não será bastante para elegerem alternativas.

No PSD, percebeu-se  depressa que o favorito do ‘militante número um’, Francisco Balsemão, para ‘montar o cavalo do poder’, era um erro de casting. Mal eleito, Rui Rio correu para os braços de António Costa para fechar acordos, nem sequer passados a escrito, num voluntarismo que pôs o partido de cócoras, a servir de ‘muleta’ às asneiras da governação. 

Houve incêndios devastadores e estradas colapsadas; armas roubadas de Tancos; hospitais públicos num caos; escolas públicas sujeitas aos caprichos da ‘carreira’ dos professores (e aos infiltrados do ‘género’); comboios apodrecidos e outros transportes públicos numa lástima; nomeações parasitárias, privilegiando o cartão partidário.

A quase tudo Rio virou as costas, mudo e ausente. Não foi visto nem se ouviu quando mais devia, acantonado no Porto, de onde nem sequer saiu em noite eleitoral.

Sá Carneiro, que era também natural do Porto, soube impulsionar o PSD para uma dimensão nacional. Rio ‘reciclou–o’ em partido regional. Teve todas as oportunidades para ser líder da oposição. Perdeu-as uma a uma, fiado numa aliança espúria com Costa.          

No CDS, Assunção Cristas não ficou melhor na fotografia. Colocou alta a fasquia, envolveu-se quase tanto como Costa nas feiras, mercados e arruadas, e falhou todos os objetivos. Não podia ter-lhe acontecido pior – até em contraste forte com a subida da direita, mais radical ou menos, na Europa.

Foi o castigo por ser uma direita envergonhada, errática, que se aliou à extrema-esquerda, num ziguezague infeliz, para não desagradar aos professores – enquanto apoiava passadeiras coloridas para não perder o voto gay. Confundiu o eleitorado.

Ao menos, como preconizou o antigo líder Ribeiro e Castro, ficaria bem a Nuno Melo, derrotado, abdicar a favor de Mota Soares, o número dois da lista. Era um gesto.

Já o PCP, entrincheirado no sindicalismo estatal, embora não embarque em aventuras ‘coloridas’, envelheceu dogmático, sem agilidade para resistir ao ‘assédio’ dos académicos emplumados e das ‘caras larocas’ do Bloco, que conseguiram eliminar do espaço público, com grande destreza, certas manchas do passado.

Foi assim com o ‘caso Robles’ e a hipócrita especulação imobiliária em Alfama. Antes, a mesma ‘esponja’ mediática já servira para apagar o imbróglio à volta da controversa ex-presidente da Câmara de Salvaterra de Magos, quando em 2007 foi constituída arguida.  

O PCP também tem ‘telhados de vidro’, mas está mais preocupado com a queda livre eleitoral nas despedidas de Jerónimo de Sousa. Sabe-se que o líder tem os dias contados, mas a agremiação trabalha em segredo, como é costume, o nome do sucessor. 

A ‘geringonça’ fez mal ao PCP, por muito que diga o contrário – embora tenha retirado da aliança vantagens não despiciendas, designadamente a favor da CGTP e de sindicatos que controla.

O silêncio cúmplice do partido em relação ao Governo penalizou-o. Como se confirmou nestas europeias, o PCP está confinado aos redutos tradicionais, em recuo demográfico, e não consegue travar a subida dos neocomunistas do Bloco, mais urbanos e eficazes com os jovens.

A prosperidade financeira do PCP amoleceu-o, enquanto o Bloco ganhou terreno, sem grandes pruridos ideológicos.

Por fim, dos mais pequenos, só o PAN deu um ar da sua graça, com um crescimento que pode ser tão efémero como o PDR de Marinho Pinto, ‘condenado’ a mudar de vida; Santana Lopes não conseguiu eleger um candidato, o que faz da Aliança um partido ‘provisório’; e os restantes, à direita e à esquerda, foram figurantes úteis.

Se as europeias fossem um ‘ensaio geral’ das legislativas, teríamos o ‘caldo entornado’. Sem maioria, o PS governaria sozinho ou encostado a alguém. E o PAN já sonha passear os seus animais de estimação pela Gomes Teixeira…

A ‘maioria silenciosa’ que não se queixe…