Um povo feliz nos votos e na abstenção

E assim vai o nosso país, onde quase tudo piorou nos serviços públicos, mas onde as pessoas são felizes.

No dia 25 de maio de 2014 um furacão abateu-se sobre as eleições europeias, conquistando 234603 votos. O MPT de Marinho e Pinto era o rosto da revolta contra a troika, mas cinco anos depois, já com outra denominação, Marinho e Pinto apenas conseguiu 15789 votos. Ou o povo português acompanhou de muito perto o trabalho do eurodeputado e quis fugir dele, ou então foi apenas um fenómeno de moda muito passageiro. A 26 de maio de 2019 outro fenómeno estranho entrou de rompante nas europeias e alcançou os 168501 votos. Falamos do PAN que em 2014 apenas tinha convencido 56363 votantes.

As eleições do último domingo trouxeram algumas surpresas, sendo a maior, sem dúvida, a do PAN, que foi uma espécie de Marinho e Pinto de 2014, pois se alguém se der ao trabalho de fazer uma sondagem sobre a quantidade de portugueses que sabem o nome do eurodeputado do PAN não creio que 10% dos que votaram no partido saibam o seu nome. Digamos que o Partido Pessoas-Animais-Natureza, à semelhança do Partido Socialista, foram dos grandes triunfadores da noite eleitoral à conta dos seus secretários-gerais: André Silva e António Costa, respetivamente.

Mas vamos às contas finais. O PS cantou como se tivesse sido Campeão Europeu, mas apenas venceu a Liga Europa, pois os 73187 votos que conseguiu a mais do que em 2014 não são motivo para grandes festejos, embora o seu rival tenha descido a um nível assustador para os seus militantes. O PSD de Rui Rio vai de mal a pior e com mais razões de choro só a CDU de Jerónimo de Sousa que perdeu quase 190 mil camaradas. A ‘geringonça’ está a ser fatal para o PC.

O CDS, outro dos grandes derrotados da noite, embora não se possam fazer comparações, já que em 2014 tinha concorrido coligado com o PSD, ficou com mais feridas para lamber do que  gatos têm os eleitores do PAN. 

O BE, com a figura que mais empatia criou em toda a campanha eleitoral, estranhamente da esquerda à direita, conseguiu mais 175906 votos do que em 2014. Marisa Matias tem um certo de ar de esquerda caviar que se importa com berbigões, leia-se os pobres. Santana Lopes não conseguiu esgotar o Estádio da Luz, no que diz respeito ao número de votantes, mas tem todas as hipóteses de voltar à Assembleia da República nas próximas legislativas, mas não irá, seguramente, acompanhado pelos 15 deputados que já disse que queria eleger.

Outro fenómeno estranho do mundo político é Rui Tavares, o líder do Livre, que tem um discurso sério, é um homem que pensa a Europa, mas que teve menos 11 mil votantes do que nas últimas europeias. É natural que os seus apoiantes tenham fugido para o BE. Outro dado meio intrigante é como o PCTP/MRPP ainda conseguiu levar 27222 eleitores a votarem no partido. É certo que perderam  quase 50% dos votantes, mas alguém se lembra do cabeça de lista do MRPP? Já o Basta com os seus quase 50 mil votos ficou muito longe da audiência que André Ventura tem na CMTV. Misturar futebol com política nunca deu grande resultado. 

Resumindo, o PS acredita que nas próximas legislativas poderá não precisar do PCP e do BE para formar uma nova ‘geringonça’ já que conta que o PAN não desça nas legislativas e o PSD está á beira de um ataque de nervos, com a esquerda a desejar que não se enterre mais para não dar azo ao papão dos populistas, leia-se extrema-direita. E assim vai o nosso país, onde quase tudo piorou nos serviços públicos, mas onde as pessoas são felizes. Pelo menos a julgar pelas votações e pela abstenção.