É melhor entrar com 5 ou com 6 anos na primária?

A vida não pode ser uma corrida, tem de ser um passeio. O que chega primeiro não é o mais feliz.

Muitos pais de crianças que fazem seis anos depois do dia 15 de Setembro deparam-se com o dilema de os inscrever no 1.º ciclo, sabendo que entrarão com cinco anos, ou de ‘perder’ mais um ano na pré-primária e entrarem quase com sete anos.

Tudo o que implica perder parece negativo e naturalmente os pais só querem que os filhos ganhem, nunca que percam. 

Mas importa saber: perder o quê? 

Um ano? Como se perde um ano? Os anos não se perdem em circunstância alguma. Os anos ganham-se. E se for um ano passado na pré-primária, onde se brinca como nunca mais se terá oportunidade, sem a responsabilidade e a pressão que não tardarão a chegar, onde se ganha maturidade naturalmente, onde se adquirem aprendizagens basilares de forma saudável, jamais será um ano perdido, mas um ano que poderá fazer toda a diferença em todos os que aí virão.

Perder a corrida? Porque se acaba os estudos mais tarde? Porque se começa a trabalhar mais tarde? Mas quem tem pressa para ir trabalhar? A vida não pode ser uma corrida, tem de ser um passeio. O que chega primeiro não é o mais feliz, é o que não se demorou a viver com a pressa de chegar.

Perder os amigos? Esta é a única perda que me faria vacilar. Mas hoje em dia a maioria das salas da pré-primária são mistas e muitas têm meninos dos três aos seis anos, logo a probabilidade de ficar sem nenhum amigo é baixa. Por outro lado a maioria das crianças fazem amigos com muita facilidade. Depois das férias do verão, começará ou aumentará a amizade com quem fica. Muitos nem entrariam sequer para a mesma escola e mesmo que entrassem poderiam nem continuar a ser os seus amigos.

Perder a hipótese de ser dos mais novos e passar a ser o mais velho da turma? Dar a ideia que chumbou um ano antes mesmo da entrada na escola? Bom, aqui é mesmo uma questão de mentalidade. Se os alunos começassem a entrar no primeiro ciclo só com os seis anos feitos, como já acontece em alguns colégios, tornar-se-ia natural esta diferença. Quanto a parecer que chumbaram, rapidamente a ideia seria contrariada pelo seu desempenho e empenho escolar. Inversamente, será mais provável que venha mesmo a repetir um ano se entrar demasiado cedo para o 1º ciclo.

Há quem defenda que se deve arriscar. Que a primária empurrará as crianças mais imaturas para a frente. Que a professora será uma grande ajuda. Que o aluno irá atrás da carneirada e que se não conseguir depois repete um ano. Mas quem quer ser empurrado para a frente e abrir mão do tempo de que necessita para crescer? Quem quer ter de fazer um esforço maior para aprender e sentir que não é capaz, um esforço enorme para conseguir estar sentado numa cadeira minúscula durante horas a fio e no fim poder reprovar nos primeiros anos e ser rotulado de mau aluno? Interiorizar de início esta sensação de incapacidade? Para quê sujeitar uma criança a tudo isto? Fazê-la ganhar anticorpos logo à entrada da escola? Tornar a sua experiência tortuosa quando podia ser mais aprazível?

Naturalmente há crianças com maturidade suficiente para entrar no ensino básico com cinco anos e por isso devem ser os pais, juntamente com os educadores, a perceber qual a melhor opção. Na dúvida, para quê arriscar um percurso escolar precoce e difícil? Porque o filho do vizinho do lado tem a mesma idade e vai entrar?