Fake News

Seja como for, levar alguém ao engano é coisa antiga. Entre nós, costuma-se evocar o notável episódio do longínquo século XIV, quando pregoeiros correram Lisboa aos gritos de «Acudam ao Paço, que matam o Mestre!». O povo acorreu, matou o Andeiro e sentou o Mestre de Aviz no trono. Era falso, mas resultou.

Não é novidade que a política se faz de omissões, mistificações, deturpações e até de mentiras descaradas. Até há pouco tempo, a coisa dava pelo nome de desinformação, mas uma expressão inglesa tem outro impacto: agora é fake news!

Seja como for, levar alguém ao engano é coisa antiga. Entre nós, costuma-se evocar o notável episódio do longínquo século XIV, quando pregoeiros correram Lisboa aos gritos de «Acudam ao Paço, que matam o Mestre!». O povo acorreu, matou o Andeiro e sentou o Mestre de Aviz no trono. Era falso, mas resultou.

Depois de Abril, descobrimos os truques e alçapões do debate político, e só então aprendemos o significado pleno da expressão ‘vender gato por lebre’. As comédias das noites eleitorais, de quando todos os líderes partidários faziam discursos de vitória, resvalaram até ao grau zero da decência, mas dão sinais de inversão. 

Simplesmente, há casos e casos. A aldrabice não é algo que todos possam usar da mesma maneira. Há limites para o decoro e há especiais deveres de coerência. Exemplos banais ilustram a ideia: todos pecamos, mas a sociedade é mais severa para com os padres; em qualquer profissão há distrações, mas ninguém aceitará que um filho seja operado por um cirurgião com fama de distraído; falhas de interpretação e decisões erradas são coisas do dia a dia, mas não se esperam de um magistrado judicial, em quem queremos ver o espelho do rigor. Isto para não falar da presunção da infalibilidade papal.

Políticos e governantes estão, têm de estar, sob particular escrutínio. Também aí uns ‘são mais iguais que outros’: o que se tolera a um troca-tintas reprova-se com veemência em alguém que passeia a aura de probo. Tem de ser assim, para que, na hora de avaliar quem nos quer governar, não se diga… «são todos iguais!».

Matéria digna de estudo é-nos oferecida regularmente pelo professor Louçã, em quem é difícil não ver a reedição d’O estranho caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde.

Ao antigo líder do PSR desculpávamos os exageros da juventude e os disparates próprios de um demagogo em formação; à figura de proa do diretório do Bloco de Esquerda já apontávamos a enorme distância que o separava da seriedade de Miguel Portas; no professor catedrático estranhamos a desonestidade intelectual de quem não hesita em distorcer números e factos para estribar as deduções e as conclusões que mais convêm à sua peculiar visão do mundo. 

Mas tudo se agudiza quando pensamos nos deveres de integridade que cumprem a quem se senta no Conselho de Estado – e nos perguntamos se a pessoa que aconselha o Presidente da República é o académico do ISEG ou o manipulador que fala na televisão. 

E a perplexidade atinge o inacreditável quando vemos o membro do Conselho Consultivo do Banco de Portugal – que tem a sorte de escapar à análise de idoneidade − a usar os preconceitos, dos tempos do PSR, para atacar a banca, os bancos e os banqueiros. Aí, pergunta-se: pode uma pessoa que odeia a banca ter assento no órgão de consulta da entidade que regula o setor?