BdP aponta para possível “interrupção brusca” do imobiliário

Regulador diz que este mercado continua a estar dependente dos não residentes, quer através do turismo, quer do investimento direto. 

O Banco de Portugal (BdP) alertou hoje para uma possível “interrupção brusca” do dinamismo do mercado imobiliário, considerando que “eventuais alterações no quadro regulamentar nacional”, juntamente com outros fatores, podem fazer baixar os preços.

“O abrandamento mais acentuado da atividade económica a nível global, decorrente em particular da materialização de eventos de tensão geopolítica, aumentos dos prémios de risco e eventuais alterações no quadro regulamentar nacional sobre o mercado imobiliário poderão vir a traduzir-se numa interrupção brusca do dinamismo do imobiliário e, consequentemente, num ajustamento em baixa dos preços”, revelou o supervisor no comunicado sobre o relatório de estabilidade financeira. 

Mas os riscos não ficam por aqui. De acordo com a entidade liderada por Carlos Costa, “o mercado imobiliário português continua a estar particularmente dependente da intervenção de não residentes, seja por via do turismo, seja por via do investimento direto”. 

Esta situação constitui um potencial risco para a estabilidade financeira no caso de haver “uma eventual redução acentuada e brusca da procura de imóveis por não residentes”, de acordo com Banco de Portugal.

“No último ano, o mercado imobiliário português manteve um dinamismo elevado, com um reflexo direto no volume de transações e crescimento dos preços. Esta dinâmica tem sido justificada pelo crescimento económico, (…) mas também pelo ambiente de baixas taxas de juro e elevada liquidez, o qual induz comportamentos de procura por rendibilidade por parte dos agentes económicos”, pode ler-se no relatório.

O Banco de Portugal diz ainda que “continua a existir evidência de alguma sobrevalorização dos preços da habitação a nível agregado”, principalmente a partir do segundo semestre de 2017. E face a esse cenário, recomenda que as instituições financeiras tenham particular cuidado na definição dos critérios de concessão de crédito. “De uma forma geral, a tentativa de aumentar o volume de crédito através da fixação de spreads de taxa de juro que não cubram o risco de crédito de maneira sustentável poderá resultar, no futuro, num maior nível de incumprimento”.