‘Uber Drugs’ é já uma realidade na Europa

As formas de tráfico e distribuição de cocaína no ‘Velho Continente’ são filhas dos tempos modernos e da evolução tecnológica. Há Call Centers e estafetas rápidos – ao estilo de uber eats – para entregar droga aos compradores.

Em 2018, registaram-se "níveis recorde de apreensões” de cocaína, “novos métodos de apreensão e evidências de crescentes problemas de saúde", indica o relatório, apresentado, esta quinta-feira, pelo Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência (EMCDDA), em Bruxelas.

No ano anterior foram registadas 104 mil apreensões na UE, correspondentes a 140 toneladas. Este valor representa quase o dobro do registado em 2016.

Atualmente, “as taxas de consumo de drogas injetáveis diminuíram e o número de novos casos anuais de VIH com origem no consumo de drogas injetáveis desceu cerca de 40% durante a última década” na Europa, segundo dados do relatório. Porém, tal facto não se verifica noutros países, sendo que “os problemas relacionados com opiáceos continuaram a agravar-se, provocando uma escalada dos custos com a saúde pública na América do Norte e em alguns países limítrofes da União Europeia”. Apesar das melhorias verificadas na Europa, o estudo dá conta de que o consumo de drogas continua a implicar um valor substancial nos custos de saúde e sociais.

O relatório anual do EMCDDA dá conta da grande disponibilidade de substâncias ilícitas existente, sendo que, nos países que o estudo abrangeu, “mais de um milhão de apreensões de drogas ilícitas” são anualmente realizadas.

"Embora o preço da cocaína se tenha mantido estável, o seu grau de pureza nas ruas atingiu, em 2017, o seu nível mais elevado da última década", referiu o EMCDDA.

O diretor do EMCDDA, Alexis Goosdeel considera que os desafios que se enfrentam “no domínio da droga continuam a aumentar. Não só existem sinais de uma maior disponibilidade de drogas à base de plantas já estabelecidas, como a cocaína, mas assistimos também à evolução de um mercado onde a produção de drogas sintéticas e de droga na Europa está a ganhar importância. Tal pode ser observado em problemas associados à utilização de opiáceos sintéticos altamente potentes, em novas técnicas de produção de MDMA e anfetaminas”, refere.

Mais de 95 milhões de adultos da UE já experimentaram algum tipo de droga ilícita, e mais de 1 milhão de pessoas recebem tratamento devido ao consumo de drogas, anualmente, segundo dados do estudo apresentado.

O relatório dá ainda conta de que as redes sociais, os mercados da dark web e as técnicas de encriptação assumem um papel importante na possibilidade de certos grupos de indivíduos poderem vir a envolver-se no tráfico destas substâncias.

Os call centers são uma realidade empreendedora do mercado da cocaína que o estudo apresenta, sendo um método inovador de distribuição de droga que se verifica atualmente. Existem estafetas de droga que garantem a entrega da mesma aos compradores. Este método passa por uma ‘uberização’ do comércio de droga, refere o estudo.

Em relação à heroína, existe uma “mutação do mercado”, continuando, de qualquer das formas, a ser o opiáceo ilícito mais comum no mercado da droga europeu, refere. Foram descobertos, ao longo dos últimos anos, laboratórios de produção de heroína em países como a Bulgária, a República Checa, Espanha e Países Baixos.

Quanto aos produtos de canábis, o EMCDAA verifica que, durante 2017, foram realizadas 782 mil apreensões, estimando-se que 1% dos adultos da UE consumam diariamente, ou quase diariamente.