A derrota do PSD

«A pior derrota do PSD de sempre», disse-se e escreveu-se. O pior é que não é verdade

Oresultado das eleições europeias escreve-se numa linha: o PS ganhou e o PSD perdeu.

«A pior derrota do PSD de sempre», disse-se e escreveu-se. O pior é que não é verdade. A pior derrota de sempre ocorreu nas autárquicas de 2017, quando o PSD atingiu a inimaginável fasquia de 10% em Lisboa e Porto. Foi tão mau, tão mau, que o então líder do PSD, Pedro Passos Coelho, teve esse resultado a um domingo e na terça-feira anunciou que não se recandidatava à liderança. Não foi uma demissão imediata. Aconteceu em outubro de 2017 – e as eleições diretas para a liderança foram disputadas em janeiro de 2018. Mas, na prática, teve o efeito de uma demissão.

Passos Coelho, que uns dias antes dessas eleições tinha declarado que «o PSD não estava a lutar pela sobrevivência», percebeu nessa noite fatídica que estava mesmo a lutar pela vida – e perdeu-a. 

Mas essa demissão de um líder partidário por maus resultados eleitorais impediu que o PSD olhasse para dentro e analisasse com seriedade o que tinha corrido tão mal. Quando se abriu um novo ciclo na liderança, que seria disputado por Rui Rio e Santana Lopes, o partido correu para essa disputa sem refletir. Sem analisar os erros para não os cometer novamente.

Como foi possível terem-se escolhido para candidatos em Lisboa e Porto duas pessoas que eram manifestos erros de casting? Que estratégias foram seguidas para obter tão maus resultados? Quem foram os responsáveis por tão clamorosos erros? O que se passava com o PSD nas duas maiores cidades do país? Qual a relação com o CDS nessas duas cidades? Que tipo de campanha eleitoral foi feita?

O tamanho da derrota e a demissão do presidente do partido deviam ter sido motivos mais do que suficientes para uma reflexão interna – que não aconteceu.

A nova direção partidária de Rui Rio terá porventura pensado que tudo mudaria para melhor mal começasse a exercer funções e que, num passe de mágica e por mero efeito da mudança de líder, tudo se resolveria. 

Ora, foi a partir de resultados de 10% (há um ano e meio) que o PSD foi disputar estas eleições europeias. E se é verdade que os resultados nem comparam mal com os de outras eleições europeias, manda a verdade que se diga que melhoraram muito em relação às últimas eleições autárquicas.

Paulo Rangel, escolha de Manuela Ferreira Leite como cabeça-de-lista em 2009, de Passos Coelho em 2014 e de Rui Rio em 2019 (é obra), mesmo perdendo, conseguiu repor o PSD como segunda força política em Lisboa. Para perceberem melhor o alcance do sucedido, é preciso dizer que, em virtude do resultado autárquico, desde o dia 1 de outubro de 2017 até 26 de maio de 2019 o CDS foi a segunda força política da capital. 

No meu modesto entendimento, o fracasso da eleição autárquica de 2017 já se tinha ficado a dever à campanha completamente datada que foi feita; portanto, não consigo compreender a reincidência em 2019. 

Para vos dar um exemplo: sejam autárquicas, legislativas ou europeias, há sempre aquele momento em Lisboa da ‘ida à Feira do Relógio’. Para quê? – pergunto eu. Espero que, após alguma reflexão, se decrete o fim das campanhas ‘chapa 3’. Porque essas pessoas que antes iam à feira já migraram para a Zara, a Bershka ou a Primark há muito tempo…

sofiarocha@sol.pt