Transportes públicos: da expectativa à realidade

A atratividade do uso de transportes públicos não se decide apenas através do preço. Se as tarifas forem baixas mas não existirem transportes com horários, frequências, ou até disponíveis para utilizar, de pouco valem. Importa assegurar uma oferta adequada com qualidade e fiabilidade.

Os transportes públicos em Portugal continuam uma promessa adiada. Entre a insuficiência e o mau funcionamento nas áreas metropolitanas e a quase inexistência em grande parte do país, depois da diminuição do preço dos passes, o país sente, como nunca, que esta medida não foi acompanhada pelo indispensável investimento na oferta adequada de transportes públicos.

A diminuição do preço dos passes dos transportes públicos foi uma medida positiva no sentido da promoção da mobilidade, do incentivo à utilização dos transportes públicos como alternativa ao transporte individual e da diminuição dos encargos das famílias.

As alterações dos tarifários dos transportes públicos foram articuladas entre o Governo e as autarquias, através das áreas metropolitanas e comunidades intermunicipais, e preparada durante largos meses até ser implementada, tendo como consequência esperada o aumento da procura, conforme se veio a verificar.

Paradoxalmente, ao mesmo tempo que era anunciada a baixa dos preços dos transportes, sucediam-se as notícias de problemas nos transportes: falhas no funcionamento do metropolitano de Lisboa, supressão de comboios nas linhas suburbanas, falta de barcos na travessia do Tejo e até o insólito desprendimento do motor de um comboio.

Perante a situação insustentável de degradação dos transportes públicos, o Governo, apenas depois do anúncio da diminuição do preço dos passes e após mais de três anos de responsabilidades governativas, começa a anunciar investimentos nos transportes. Sucede que os referidos investimentos públicos nos transportes apenas se concretizarão daqui a três ou quatro anos.

Entretanto, a entrada em vigor dos novos preços dos passes aumentou a procura dos transportes públicos que, inevitavelmente, tornou caótica uma situação que já era problemática.

Nada disto é surpreendente, mas não deixa de ser censurável. Se os investimentos na melhoria dos transportes públicos tivessem sido concretizados atempadamente a situação de caos nos transportes tinha sido evitada. Agora improvisa-se: retiram-se bancos das carruagens para aumentar a capacidade de transporte sem cuidar de condições mínimas de conforto, assiste-se a um insólito pedido de desculpas de um ministro e até se procura relativizar o excesso de lotação dos transportes afirmando-se que «em Londres vai tudo sardinha em lata».

Não tinha de ser assim se os investimentos na melhoria dos transportes públicos antecedessem o incentivo à sua utilização através da diminuição do preço dos passes. E não é aceitável que se diminua (ainda mais) as condições de conforto no uso dos transportes. Não é por ser mais barato que se pode diminuir a qualidade.

A atratividade do uso de transportes públicos não se decide apenas através do preço. Se as tarifas forem baixas mas não existirem transportes com horários, frequências, ou até disponíveis para utilizar, de pouco valem. Importa assegurar uma oferta adequada com qualidade e fiabilidade.

Foram prometidos transportes acessíveis para todos. Mas a realidade é que a oferta não permite concretizar a expectativa criada.