A inspiração ou o vazio de ideias

Gosto sempre de incluir Ronaldo nos meus textos: treina até à exaustão, nunca desiste e procura sempre a superação 

Muitas pessoas me perguntam como consigo ter tema para escrever regularmente. Ainda que tenha bastante imaginação e um dom meio parvo para o ‘inventanço’, a verdade é que muitas vezes bate a angústia da folha em branco.

E numa área como a nossa essa angústia pode ser assustadora, quando todos os briefings pedem uma big idea, um conteúdo capaz de se tornar viral, uma estratégia com buzz nas redes sociais, uma ideia revolucionadora e que consiga fazer jus à expressão ‘out of the box’, por mais datada que ela nos pareça.

Assim sendo como trabalhar esta inspiração?

O tema pode-vos parecer vago e menor, mas tudo o que fazemos enquanto trabalhamos marcas e comunicação deve partir de uma inspiração e gerar outra ainda maior. Numa era em que a diferenciação, a customização, o entretenimento e a criatividade assumem papéis fulcrais na relação entre marcas e consumidor, a inspiração é a linha condutora do nosso processo de trabalho.

Se para alguns uma boa ideia nasce de um rasgo, de um momento e quase de um toque de genialidade que não conseguimos bem compreender, para outros é preciso pesquisar, investigar, ler, procurar para chegar ao mesmo resultado. Ambos os processos válidos e muitas vezes tão interligados. 

Ninguém esquece o exemplo de Cristiano Ronaldo – gosto sempre de o incluir nos meus textos – por todos conhecido por treinar à exaustão, nunca desistir e procurar sempre a superação para elevar o seu talento ao seu ponto máximo. 

Quando olhamos para a comunicação das marcas, penso que bom seria que existissem Cristianos Ronaldos por trás de todas elas para que sentíssemos verdadeira inspiração. 

É certo que nos focamos aqui muitas vezes nas grandes campanhas, naquelas que mais marcam e que elevam a profissão a um outro nível. 

Mas onde fica a comunicação do dia a dia? Aquela mais tática mas tão fundamental para o sucesso de marcas e produtos? Aí sinto muitas vezes um vazio de ideias. 

Por mais meios, tecnologia e soluções que hoje tenhamos; por mais que todos saibamos que o consumidor procura histórias, propósitos e causas, nem sempre é fácil transpor isso para missões tão básicas e fundamentais como vender um shampoo.

Aqui entra a inspiração. É importante trazer sangue novo para os brainstorms, questionar e revolucionar o status quo para que consigamos fazer diferente.

Não porque andamos a fazer tudo mal há anos, não porque os resultados são maus, mas porque se procura sempre fazer mais e melhor. 

Porque se procura garantir que a inspiração está em todo o lado. Num mundo em constante mutação, pejado de conflitos, causas contraditórias e opiniões, a inspiração pode-nos salvar. E salvar as marcas de serem simplesmente mais umas na prateleira. 

Uma volta grande desde a inspiração para os meus textos até à inspiração para as marcas, mas que pretende apenas comprovar que a inspiração é transversal e tão importante na vida e no trabalho. 

Fechemos com o meu querido Ronaldo e na inspiração, trabalho e até sorte envolvidas num qualquer golo e pensemos quão mais inspiradores conseguiremos ser na nossa vida e todos seremos seguramente melhores.

*Diretora Criativa Havas Sports& Entertainment