Ofensiva cibernética incapacita defesas antiaéreas do Irão

Pode ser o prelúdio de uma ofensiva convencial ou sinal de uma guerra de posições. A decisão surge após Trump cancelar uma ataque aéreo quando os aviões já estavam no ar. Fica por saber porquê. 

Por agora, o conflito entre os Estados Unidos e o Irão parece ter passado dos céus do Golfo Pérsico para a arena cibernética. Os sistemas militares iranianos terão sido alvo de uma ofensiva dos EUA, que incapacitou as sofisticadas defesas aéreas do país, segundo a imprensa norte-americana. Os principais alvos terão sido as instalações da poderosa Guarda Revolucionária do Irão, responsável pelo abate de um drone norte-americano, esta quinta-feira.

O ciber-ataque dos Estados Unidos já estava a ser preparado há semanas, em resposta aos supostos ataques iranianos contra navios petroleiros no Golfo de Oman. O Irão também terá tentado penetrar os sistemas informáticos dos EUA, tanto militares como de outros áreas, como as finanças e o setor energético. Este conflito cibernético pode ser o prelúdio de uma ofensiva convencional ou sinal de uma longa guerra de posições entre Washington e Teerão. 

Esta última possibilidade ganha peso após Trump anunciar um reforço “enorme” das pesadas sanções norte-americanas ao Irão – que já é alvo de um bloqueio económico com grandes custos humanitários. Ainda assim, o Presidentedeixou recado que uma intervenção militar no Irão ainda “está em cima da mesa” – apesar dos receios de que o conflito possa incendiar todo o Médio Oriente.

Recuo É de notar que a ofensiva cibernética norte-americana teve luz verde após o Presidente dos EUA, Donald Trump, cancelar um ataque aéreo contra o Irão, quando os aviões já estavam no ar e com os alvos na mira, segundo o The New York Times. Trump justificou o recuo com a descoberta que o ataque mataria cerca de 150 irananianos, twittando que não seria uma resposta “proporcional” ao abate de um drone não tripulado. Mas há grandes dúvidas que o Presidente não tenha sido informado dos custos humanos previamente – tornando a teoria de um súbito rasgo de lucidez pouco plausível.

Uma explicação óbvia para o cancelamento da operação passa pelo conflito dentro da própria Casa Branca, onde fações mais e menos belicistas disputam a atenção do Presidente. O próprio Trump reconheceu, este domingo, que o seu Conselheiro de Segurança Nacional, John Bolton, “geralmente toma uma posição mais dura” – dando como exemplo o seu apoio entusiástico à invasão do Iraque. Apesar da reticência de altos quadros das forças armadas, há várias outras figuras de peso – para além de Bolton – que há muito defendem um ataque contra o país dos aitolás, como é o caso do Secretário de Estado, Mike Pompeo, e da diretora da CIA, Gina Haspel. 

Um aliado inesperado da fação menos belicista tem sido Tucker Carlson, o polémico apresentador da Fox News, que terá apelado diretamente ao Presidente nas últimas semanas, para que evite uma guerra com o Irão, segundo o The Daily Beast. Além disso, o apresentador lançou pesadas críticas a uma possível ofensiva militar contra Teerão no seu programa de quinta-feira à noite, que Trump não esconde seguir avidamente – tendo twittado ao vivo reações ao programa Tucker Carlson Tonight  em pelo menos 20 ocasiões. 

Outro dado a ter em consideração é a revelação de que o episódio de quinta-feira poderia ter um resultado bem mais dramático, com o abate de um avião tripulado, com 38 pessoas a bordo, que vooava perto do drone. “O avião também violou o nosso espaço aéreo e poderiamos tê-lo visado, mas não o fizemos, porque o nosso objetivo era avisar as forças terroristas dos EUA”, contou o brigadeiro general iraniano Ali Hajizadeh à agência Tasnim. Algo que até Trump gabou, considerando que foi uma “decisão muito inteligente”.