Presidente da Assembleia-Geral da ONU apelida António Guterres de “feminista convicto”

“Ele conseguiu num curto espaço de tempo que todas as posições de liderança, os mais altos cargos no secretariado-geral da ONU, estejam ocupadas por mulheres e que exista paridade total na alta administração da ONU”

A presidente da Assembleia Geral da ONU, Maria Fernanda Espinosa disse, em entrevista à agência Lusa, que o apoio do secretário-geral da ONU, António Guterres, “um feminista convicto”, foi fundamental para alcançar a paridade de género na política durante o seu mandato. 

“Eu sempre digo, e repito, o secretário-geral é um feminista convicto. Ele conseguiu num curto espaço de tempo que todas as posições de liderança, os mais altos cargos no secretariado-geral da ONU, estejam ocupadas por mulheres e que exista paridade total na alta administração da ONU. Isso é um feito histórico e isso se faz com a decisão política de um líder feminista como é António Guterres”, declarou a deputada. 

“Dei muito ênfase ao tema da participação política das mulheres. Porque ainda existem disparidades enormes. Dos 193 países [que integram a Assembleia-Geral] só apenas 19 têm chefes de Estado ou de Governo que são mulheres. (…) Os números falam por si. Dezanove em 193 países, 75% dos parlamentares no mundo são homens, só apenas 25% são mulheres”, acrescenta. 

Durante o seu mandato, Maria Fernanda Espinosa descreve que uma das várias ações que realizou nesta área foi a organização da primeira reunião de mulheres chefes de Estado e de Governo.

“A ideia era que pudéssemos partilhar experiências e obstáculos com jovens mulheres líderes, que muitas vezes têm medo de entrar no espaço da política por causa da própria discriminação, por causa dos níveis de violência política contra as mulheres. E isso eu conheço pessoalmente, eu sei como funciona, é um sistema muito violento, que exige em dobro às mulheres que estão em cargos de tomada de decisões”, afirma a diplomata e

Apesar dos elogios aos feitos durante o seu mandato, a primeira latino-americana a assumir a presidência da Assembleia Geral da ONU reconhece que nem tudo o que pretendia foi alcançado e diz que “há muito ainda por fazer”.

“Acredito que isto está também diretamente ligado com a necessidade de uma profunda mudança cultural, porque não estamos a fazer bem as coisas para reduzir a violência contra as mulheres, para reduzir a discriminação. E estamos no século XXI e estas coisas já não deveriam acontecer. Já não deveríamos ter sistemas de quotas. Fui uma pessoa tradicionalmente contra as quotas, mas agora dou-me conta que as quotas são necessárias, são um passo necessário até a uma igualdade plena”, afirma.