Vê-los crescer

Apesar de ser uma coisa boa, ver os filhos crescer pode não ser um processo tão pacífico quanto isso.

M ais um ano letivo que está a terminar. Algumas crianças e adolescentes transitam simplesmente de ano, outras de ciclo e de escola. Esta semana assisti à segunda festa de finalistas do meu filho mais velho, que terminou o 4.º ano (a primeira foi no final da pré-primária). Hoje em dia é-se finalista no final de cada grande etapa, e daqui a uns tempos os bebés também envergarão um capelo quando vierem ao mundo. Nesta festa cheia de cor, alegria e muitas lágrimas, todas as crianças escreveram uma mensagem sobre a mudança que está prestes a vir. Foi interessante ouvir o que cada um dizia, uns mais virados para o que foi, agradecendo e lembrando os bons quatro anos passados naquela escola, outros com os olhos postos no futuro, ansiosos pela nova etapa. Estes últimos davam uma lição sobretudo às mães ali espalhadas emocionadas e de coração apertado por verem os filhos a crescer. Parece estranho, mas apesar de ser uma coisa boa, ver os filhos crescer pode não ser um processo tão pacífico quanto isso. Se por um lado vê-los saudáveis e felizes, a seguir um bom caminho, traz felicidade, por outro às vezes há a nostalgia silenciosa do bebé que já foi, da criança que começa a deixar de ser, do tempo que ficou no passado e do que de nós ficou com ele, do que éramos e já não somos e do nosso próprio caminho, em que podemos cometer o erro de pensar que em vez de crescermos envelhecemos.

Na vida o sentido só pode ser um e é em frente. Vamos seguindo com o que temos, com o que vamos conquistando e também com o que vamos perdendo. Se viver a olhar demasiado para trás deprime, viver preocupado com o futuro pode criar uma enorme ansiedade. Como em tudo, é no meio que está a virtude: o melhor é mesmo aproveitar o presente, vivê-lo intensamente, com a certeza de que o fazemos o melhor que conseguimos, para nós e para os outros, enquanto fazemos planos para o futuro e guardamos o passado com carinho.

Muitas crianças fazem isto na perfeição. Embora com receio vão caminhando em frente, com uma enorme coragem. Apesar do que fica para trás sabem que estão no caminho certo e lá vão cheias de sonhos e de curiosidade, da segurança que também as fomos ajudando a ter, com o apoio dos pais que é essencial. Por isso é importante que os apoiemos em todas estas mudanças e aventuras. Nunca me esqueci da mensagem que uma professora me escreveu no 6.º ano quando saí do colégio para o liceu: ‘Votos de uma caminhada segura de quem sabe o que quer’. Havia muitas outras mensagens, de professoras e amigos mais próximos, algumas bem mais ternurentas e que remetiam para os bons tempos que tínhamos vivido, mas foi daquela que nunca me esqueci.

Depois da festa, no caminho para casa, o meu filho também vivia um misto de sentimentos, pela vontade de viver uma nova aventura e a pena de não poder continuar com alguns amigos. Expliquei-lhe que passei pelo mesmo e conheci os meus melhores amigos a partir do 5.º ano, e somos hoje como uma família, ao que ele respondeu: ‘Mas eu tenho medo de me esquecer do meus amigos’. Respondi-lhe que vivemos todos perto e poderão continuar a estar juntos. Acreditava genuinamente nisto, mas ao mesmo tempo pensava que às vezes, na vida, umas coisas têm de dar lugar a outras, nem sempre podemos ir enchendo a bagagem sem a aliviar um pouco, ou o peso é tão grande que nos impede de viver livremente o que aí vem.