Ramalho Eanes denuncia “epidemia de corrupção”

O antigo Presidente da República defendeu que Portugal enfrenta “uma crise da representação”

Ramalho Eanes fez um "diagnóstico do Estado", no qual considera que a corrupção é uma "epidemia que grassa pela sociedade" e que "o mérito foi substituído pela fidelidade partidária". 

Numa conferência organizada pela SEDES – Associação para o Desenvolvimento Económico, em Lisboa, o antigo Presidente da República sublinhou que "a administração pública foi colonizada" pelos partidos do arco do poder. 

Ramalho Eanes também considerou que Portugal enfrenta "uma crise da representação" e não uma crise de regime, como Marcelo Rebelo de Sousa tinha referido há semanas. "Não há uma crise da democracia nem do regime mas há uma crise da representação", defendeu. 

O general também não se poupou a críticas aos partidos políticos. “Os partidos políticos são consabidamente imprescindíveis. No entanto, enquanto organização, pouco mudaram”, começou por apontar, referindo de seguida um "encastelamento" partidário que tem sido "perversamente mantido" por um sistema eleitoral fechado. Sobre os deputados, o ex-chefe de Estado destacou que no parlamento há "mais delegados dos partidos do que representantes dos eleitores" e que, por isso, "muitos eleitores não se sentem representados no poder político".

“[O país] deve ser reformado com a prata da casa, com os partidos existentes e outros que eventualmente venham merecer a adesão dos portugueses. Não é na minha idade que posso assumir essa responsabilidade. Os homens da minha idade devem ajudar as formações partidárias existentes a assumirem as suas responsabilidades”, concluiu o o primeiro Presidente da República eleito após o 25 de Abril, após uma intervenção de mais de uma hora.