O mistério dos enjoos nos aviões da TAP

O estranho caso de indisposições nos A330-900neo continua. Antonoaldo Neves deveria ter sido ouvido esta semana na AR, mas uma reunião urgente com a Airbus levou ao adiamento da audição.

Um cheiro intenso a óleo, uma dor de cabeça forte e uma sensação de enjoo. Foi assim que vários passageiros e tripulantes de voos de longo curso da TAP feitos no novos A330-900neo descreveram o que sentiram ao longo da viagem.

O mistério das indisposições a bordos dos aviões da Airbus continua por resolver, mas a companhia aérea garante que a saúde dos seus clientes e trabalhadores não está em risco.

O Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC) começou a receber as primeiras queixas de tripulantes em fevereiro. Com o passar do tempo, «o número de casos foi aumentando», revelou Luciana Passo, presidente do sindicato, ao jornal i. Ao todo, foram contabilizados casos em 14 voos da TAP.

Ao mesmo jornal, fonte da tripulação da operadora portuguesa disse que são os supervisores a título individual – e não a companhia aérea – que alertam os funcionários para o que devem fazer em caso de indisposição: «Os supervisores dizem para estarmos atentos aos sinais. Se sentirmos um cheiro a queimado ou mais intenso, devemos avisar logo. Algumas pessoas já vão voar com medo. Há quem diga que estes problemas até podem afetar a capacidade mental».

Mas o que estará por detrás dos enjoos? Ninguém sabe. Fontes da companhia aérea ouvidas pelo SOL falam num problema na passagem do ar pelos motores da aeronave, mas a verdade é que ainda não foi dada uma explicação oficial para o que se está a passar. 

Em comunicado, a TAP disse apenas que foram «detetados alguns odores provenientes do equipamento de ar condicionado», explicando que este «é um fato considerado normal em aeronaves novas e que desaparece logo após as primeiras utilizações».

«Todas as análises feitas pela Airbus [fabricante dos aviões em causa] com o apoio de laboratórios independentes indicam que os parâmetros de qualidade do ar estão dentro do normal na indústria», refere a companhia aérea, acrescentando ainda que os testes realizados tanto pela TAP como pela Airbus não permitem estabelecer «qualquer correlação entre estes episódios e uma hipotética, mas não demonstrada, deficiência na circulação e renovação de ar». 

A TAP termina o comunicado garantindo que «nunca colocaria os seus clientes e trabalhadores numa situação de risco para a sua saúde».

Questionada pelo SOL sobre a existência de uma investigação, a Procuradoria-Geral da República esclareceu que «com os elementos fornecidos, não foi localizado qualquer inquérito».

Audição adiada

A comissãoexecutiva do Conselho de Administração da TAP, liderada por Antonoaldo Neves, deveria ter sido ouvida na passada quarta-feira no Parlmanento. A audição surgiu no seguimento da atribuição de prémios milionários a 180 funcionários da operadora, depois de esta ter registado 118 milhões de euros de prejuízos em 2018. Ao todo, foram dados prémios no valor de 1,171 milhões de euros – como o SOL noticiou, os representantes do Estado na TAP chumbaram uma proposta de atribuição de prémios que incluía um bónus de 400 mil euros para o próprio Antonoaldo Neves. Esta lista foi chumbada, mas vários administradores acabaram mesmo por receber bonificações elevadas.

O objetivo da audição no Parlamento era esclarecer a situação financeira da companhia aérea e perceber o porquê da atribuição estes prémios em ano de prejuízos. Antonoaldo Neves acabou por cancelar a ida à Assembleia da República por ter uma reunião importante com a Airbus, em França.

Confrontada pelo SOL, a TAP confirmou a reunião com a fabricante de aeronaves, mas negou que esta tivesse algo que ver com o caso dos enjoos: «A audição do CEO da TAP foi adiada com fundamentação aceite pela AR. Efetivamente, devido a uma reunião na Airbus, todavia, não relacionada com o assunto que refere».

A audição de Antonoaldo tinha sido requerida pelo Bloco de Esquerda, que viu o seu adiamento com «surpresa»: «Nós vemos o adiamento como uma grande surpresa. Supúnhamos que os temas em análise eram suficientemente importantes para que o senhor presidente da comissão executiva não falhasse», disse ao SOL Heitor de Sousa, deputado do Bloco de Esquerda e membro da Comissão de Economia, Inovação e Obras Públicas, frisando que ainda não é conhecida data para a nova audição, mas que esta deve ser agendada para antes de 10 de julho, dia do debate do estado da Nação.

«As declarações do presidente da comissão executiva da TAP são muito relevantes para perceber de que forma é que o Governo está ou não está a lidar com uma empresa que tem esse tipo de comportamentos e política», frisou o deputado.