Por um novo programa da UE

Os últimos episódios ‘europeus’, tanto relacionados com a visita de Trump ao RU como com a inconsequência das reuniões já havidas do Conselho Europeu para definir o ‘programa’ para os próximos anos e a nomeação dos dirigentes, mostram que a crise da UE ainda está para se revelar em toda a sua extensão e profundidade.

Já aqui referi que a primeira questão será saber se a próxima leva de dirigentes europeus será controlada pelos EUA (e Wall Street) ou pela ‘Europa’. No primeiro caso, eles não serão mais do que a comissão administrativa dos EUA para dirigir a sua ‘colónia europeia’ e passar-se-á à fase seguinte que é a agudização do conflito geoestratégico e militar com a Rússia, através da Polónia, dos ‘Bálticos’ e da Ucrânia, nas direções norte-oriental (Kaliningrado e golfo da Finlândia) e centro-oriental (Donbass-Crimeia), arrastando nesse conflito, através da Nato, toda a UE.

No segundo caso, apesar de se manter vigente o conceito bélico anterior pelo controlo direto da Polónia/Bálticos/Ucrânia pelos norte-americanos, podendo usá-los quando e como quiserem, à margem dos controlos da UE, poderá abrir-se uma ‘janela de oportunidade’ para a UE evitar a sua extinção e seguir um caminho próprio, ‘soberano’, no mundo, em função dos seus melhores interesses.

Contudo, esse caminho de autonomia e potenciação europeia precisa de ser concebido, pensado e consensualizado para, em seguida, ser levado à prática. Deixo, para tal, o meu (muito sintético) contributo pessoal:

 

1. Todos os países da UE deverão constituir-se como pátrias para os respetivos povos, isto é, em complexos humanos, territoriais, culturais e espirituais, que todos os respetivos membros sintam com um lar, impulsionando o desenvolvimento material e espiritual, coletivo e de cada um. Para tal, haverá que:

a. Rejeitar a ideia de que cada país (nação, estado, povo) seja um campo de dominação e exploração por um qualquer Poder (político, económico, financeiro ou militar) sobre a sua população e instituições, convertidas em ‘unidades de consumo’ ou ‘de dívida’;

b. Rejeitar a dominação do capital sobre os indivíduos e as instituições, encarando-o como uma criação humana que deverá permitir o desenvolvimento, mas que nunca poderá sobrepor-se à plena realização individual e coletiva das pessoas;

c. A propriedade (dos meios de produção) e o poder político não constituem a base de legitimação da dominação e opressão, mas sim a base de Afirmação da Responsabilidade dos seus titulares perante as comunidades e os povos.

 

2. A UE deverá constituir-se como uma cooperativa de pátrias e não como um escalão superior de poder com a finalidade de integrar (’a martelo’) um conjunto diverso de países num campo unificado de exploração pelo capital.

 

3. A UE deverá posicionar-se no mundo de modo a evitar a existência ou a emergência de qualquer poder mundial hegemónico. Isto é, deverá posicionar-se sempre contra aqueles que em qualquer momento pretendam, unilateralmente, ditar as regras da convivência universal. Para tal, a UE deverá:

a. Estabelecer relações e medidas de confiança e de integração com a Rússia, com toda a bacia do Mediterrâneo e com o Médio Oriente, no sentido de compartilhar o desenvolvimento e políticas conjuntas de paz e de integração harmoniosa com o meio ambiente;

b. Pugnar pela extinção dos blocos militares e pela gradual e verificável eliminação de todas os armas de extinção massiva e seus portadores.