Irão avança com enriquecimento de urânio acima dos 3,67%

A manobra viola o acordo nuclear de 2015, de que Trump saiu o ano passado. É vista como uma forma de pressionar os países europeus a contornar as sanções dos Estados Unidos.

“Dentro de poucas horas o enriquecimento de urânio a mais de 3,67% vai começar”, anunciou este domingo o porta-voz da agência nuclear do Irão, Behrouz Kamalvandi, formalizando mais uma rutura do acordo de 2015, de que o Executivo de Donald Trump saiu o ano passado. O acordo limitava o programa nuclear iraniano, a troco de um alivio das sanções contra o país, e Teerão avisou que tomará novas medidas daqui a 60 dias – sem especificar quais. 

Ainda este sábado o Presidente francês, Emmanuel Macron, ligou para o seu homólogo iraniano, Hassan Rouhani, reafirmando a sua disponibilidade de retomar as negociações entre todas as partes. Mas há poucas esperanças de que os EUA se sentem à mesa com Teerão, sobretudo face ao escalar das tensões entre os dois países. Vários países europeus têm reafirmado o seu compromisso em manter o acordo de 2015, mas, até agora, todas os mecanismos de contornar as sanções impostas por Washington falharam. Algo que não é de espantar, dada a reticência das empresas europeias em arriscar o seu acesso ao mercado norte-americano, vedado a quem negoceie com o Irão. O vice-ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Abbas Araghchi, já deixou bem claro que os mecanismo continuarão a falhar “a não ser que os países europeus os usem para comprar petróleo”. 

 

O que é urânio enriquecido? Quando se fala de enriquecer urânio, estamos a referir-nos a aumentar a percentagem do isótopo urânio-238, que compõe apenas cerca de 0,7% do urânio natural, sendo o resto urânio-235. A diferença são uns meros 3 neutrões por átomo, mas são essas pequenas partículas que dão instabilidade ao urânio – permitindo fissão nuclear. O material passa por milhares de centrifugadoras, que separam o urânio-238 – ligeiramente mais pesado – do 235. Se bastam cerca de 4% de urânio-238 para produção de energia nuclear – daí o limite de 3,67% – é preciso chegar aos 90% para produzir armas nucleares. Um valor bem abaixo dos 20% de enriquecimento que o Irão terá conseguido nas suas duas maiores instalações nucleares, Natanz e Fordow. 

A partir do acordo de 2015 oficialmente deixou de se enriquecer urânio em Fordow, cujas instalações estão bem enterradas debaixo de uma montanha, para evitar ataques aéreos. Mas desde maio que os cientistas nucleares se afadigam em Natanz, também abaixo do subsolo aumentando as reservas de urânio enriquecido acima do limite acordado, de 300 kg. Se antes de 2015 o Irão produziu toneladas do material – o suficiente para mais de 10 bombas atómicas -, 300 kg não chegariam sequer para uma.