Costa, o derrotado

Antes de mais uma declaração de interesses: não gosto do Costa. Nunca gostei, até porque em momento algum me deixei enganar pelas patranhas do personagem.

Antes de mais uma declaração de interesses: não gosto do Costa. Nunca gostei, até porque em momento algum me deixei enganar pelas patranhas do personagem.

Costa faz-me lembrar aqueles políticos da 1ª República: sem ideias próprias, apenas impelidos   pelo confronto pessoal; quezilentos, provocando sucessivo mal-estar e atritos dentro da sociedade; ambiciosos, deixando-se embalar somente pelo seu próprio umbigo; sem amor pátrio, vendendo-se, a qualquer preço, por quem se predispusesse a satisfazer os seus interesses e caprichos pessoais; e falaciosos, escondendo a verdade dos actos por si praticados e tirando partido do engodo e das falsidades em que se emaranharam.

Políticos fracos, afastados do dever patriótico e do bem-comum, que escreveram uma das páginas mais negras da História de Portugal, levando-o à decadência e à vergonha aquém e além fronteiras.

Costa tem todos esses predicados, por isso, confesso, não consegui conter um misto de prazer e de satisfação quando, há uma semana, o vi de semblante carregado e a corroer-se de raiva por dentro, lamentando-se perante a imprensa pela pesada derrota que os seus pares no Conselho Europeu lhe tinham acabado de infligir.

Costa tem tanto de arrogante na vitória como de falta de humildade na derrota, por isso procurou justificar-se pela péssima figura a que se prestara nas últimas semanas, acusando alguns países do leste europeu e a Itália por terem formado uma minoria de bloqueio.

As mentiras de Costa podem tornar-se verdade aos olhos dos mais ingénuos, mas já não pegam junto de todos quantos há muito deixaram de alimentar qualquer esperança em o ouvir falar verdade, nem que por uma vez seja.

Os países a que se referiu, a que se juntaram igualmente outros por ele habilidosamente não mencionados, nomeadamente a Irlanda, não são nenhuma minoria, mas sim, juntos, representam mais governos dos que aqueles que são dirigidos pela família política a que Costa pertence.

Costa procurou exportar para a União Europeia a mesmíssima receita que aplicou em casa, reivindicando para o cargo cimeiro em disputa eleitoral não o vencedor escolhido por aqueles que ocorreram às assembleias de voto, mas sim quem saiu perdedor.

Nas horas subsequentes às eleições europeias vem bradar que chegara o momento da presidência da Comissão Europeia deixar de ser pertença do PPE, avançando com o nome do candidato dos socialistas, estes claramente derrotados nas urnas.

Em Portugal, quando tomou de assalto o poder, buscou apoios à sua esquerda, socorrendo-se de quem sempre esteve do lado contrário da barricada que separa a liberdade da opressão.

Na Europa, para levar adiante os seus intentos, virou-se para a sua direita, pensando ter encontrado em Macron um aliado natural.

Mas Costa esqueceu-se de um pormenor, regra fundamental em qualquer sistema democrático, o de que para se chefiar um órgão representativo primeiro tem de se vencer as respectivas eleições.

Por isso a sua cruzada estava destinada ao fracasso. Acreditou, ingenuamente, que o apoio de Macron, e o dos liberais que este representa, seria suficiente para atingir os seus objectivos, clamando vitória antes de tempo.

Quando se preparava para se entronizar como o grande líder europeu, capaz de elevar ao mais aclamado lugar da União o candidato por si escolhido, eis que se deixa encharcar num verdadeiro balde de água fria!

Macron, também ele fraca figura, que ascendeu à mais alta magistratura francesa não pelo reconhecimento de qualidades que, obviamente, não possui, mas sim por demérito dos adversários que com ele disputaram aquele cargo, esticou-lhe o tapete, cedendo à oferta do Banco Central Europeu para uma francesa, com que Merkel o obsequiou.

O próprio amigo Sanchez aceitou como suficiente que um seu correligionário trocasse a pasta das relações exteriores do seu governo pela da União, saltando fora da jogatana idealizada por Costa, deixando-o a falar sozinho.

Mais do que derrotado, Costa foi envergonhado e humilhado!

Por isso espumava de raiva quando se postou perante os jornalistas.

E por isso o recurso às mentiras com que procurou vitimar-se, ardil a que recorre com frequência.

Não contente em hostilizar os tais países que, segundo o seu raciocínio, inviabilizaram uma candidatura que apelidou de consensual, regozijou-se por nenhum deles ter lucrado com a estratégia, nomeando directamente a Itália como não tendo logrado a obtenção de qualquer dos cargos que estavam em jogo.

Mais um tiro na água: dias depois o Parlamento Europeu elegeu um italiano como seu presidente!

Finalmente, e para terminar a sua triste prestação, inchado de um orgulho parolo, deu a conhecer ao mundo que declinara um convite, que posteriormente se encarregou que a imprensa soubesse que se tratara da presidência do Conselho Europeu.

Argumentou, como justificação para a recusa, que o seu desígnio é com os portugueses e que uma deserção jamais estaria nos seus planos, picardia a que a sua mente distorcida e retorcida não se conteve de endereçar a um dos seus antecessores.

Mais uma inverdade. Costa atirou-nos areia para os olhos e ostensivamente confundiu sondagens com convites.

Terá sido sondado para aquele lugar, não há motivos para duvidar. Ele e mais uns quantos.

O convite apenas é formulado no final do processo de escolha, recaindo sobre um dos que se manifestaram disponíveis para o aceitarem.

Felizmente, para a Europa, Costa não foi o feliz contemplado.

Mas infelizmente para nós, portugueses. Ternos-ía-mos visto livres dele!