“Queria chorar mas já não posso” diz rapaz que perdeu os olhos durante um protesto na Venezuela

Em casa, o rapaz tem vários problemas: para além da pobreza e da eletricidade que funciona apenas durante metade do dia, a praga de mosquitos existente agrava as feridas abertas que estão no lugar dos seus olhos

Rufo Chacon, um rapaz de 16 anos residente na cidade de Tariba, na Venezuela, perdeu os dois olhos há duas semanas durante um protesto contra a escassez de gás de cozinha. A polícia disparou balas de borracha e, após 52 projéteis terem atingido Chacon na face, sendo que 16 feriram os seus olhos, foi transportado até ao hospital central da cidade de San Cristobal.

A equipa médica que o acompanhou conseguiu apenas remover os restos dos olhos do venezuelano que ainda se encontra em risco de infeção, na medida em que bocados das balas ficaram alojados no seu rosto e na sua cabeça e os cirurgiões não os conseguiram remover. A vítima passou somente quatro dias na unidade de saúde pois os médicos concluíram que o seu estado de saúde poderia agravar-se se estivesse em contacto com outros pacientes. Sublinhe-se que, no país, muitos hospitais não têm condições de higiene mínimas como água potável ou ventilação nem possuem medicação.

De acordo com um relatório policial a que a CNN teve acesso, “as forças estatais de segurança reprimiram os protestantes de forma brutal sem qualquer aviso” e “outros dois protestantes, menores de idade, ficaram feridos”. O canal norte-americano adiantou que uma das crianças é Adrian, de 14 anos, irmão de Rufo, que foi alvo de uma bastonada na nuca.

“Quero a minha visão de volta. Tenho todos os tipos de sentimento. Queria chorar mas já não posso. Chorei o suficiente no hospital” afirmou o menino que esclareceu que “todos os políticos são bandidos” e “a lei ataca o povo”. No entanto, a lei parece estar do lado de Chacon: dois agentes foram acusados dos crimes de tentativa de homicídio, uso impróprio de arma e tratamento cruel no âmbito do comportamento perante os protestantes. Agora, aguardam julgamento.

Na pequena aldeia de Tariba, Chacon partilha a cama com a avó. A mãe e os dois irmãos dormem na cama que resta. A progenitora, Adriana Parada, exercia as funções de funcionária da câmara municipal, porém, viajou até à Colômbia em busca de uma vida melhor. Em junho, regressou ao país de origem para assistir à cerimónia de fim de curso de Rufo e, com o adolescente cego e a necessitar de cuidados constantes, não sabe se poderá voltar.

Em casa, o rapaz tem vários problemas: para além da pobreza e da eletricidade que funciona apenas durante metade do dia, a praga de mosquitos existente agrava as feridas abertas que estão no lugar dos seus olhos. A verdade é que tem de se proteger com creme para que a pele cicatrize e não tem condições financeiras para suportar os custos do tratamento.

“Acabei o Ensino Secundário este ano e queria ir para a universidade estudar engenharia de software” afirmou Chacon, revelando que sempre ambicionou mudar-se para os EUA. Apesar de, atualmente, estar a sofrer, terminou a entrevista à CNN com uma certeza: “Aqui, tudo está um caos. Mas aquilo que interessa é o que a minha mãe me ensinou”.