Antonoaldo. “Não é a primeira vez que a TAP paga prémios em ano de prejuízos”

CEO da TAP admitiu os relatos de enjoos, mas disse que ainda não foi comprovada a correlação com os cheiros estranhos detetados. Em relação aos prejuízos verificados no ano passado justifica com o preço do combustível. 

Antonoaldo Neves, presidente executivo da TAP, esteve ontem presente no Parlamento no âmbito da audição da Comissão Executiva do Conselho de Administração da TAP e a conversa subiu de tom quando o assunto dos enjoos e vómitos nos novos A330-neo foi posto em cima da mesa. O presidente executivo da companhia aérea garante que “é um fenómeno interessante” e que é preciso estudar. Mas destaca que a empresa nunca colocaria em risco passageiros e tripulantes.

De forma mais técnica, o responsável explicou que o que está a acontecer é que “com temperatura mais alta, a intensidade  do odor é maior”. Mas deixou a promessa: “Estamos absolutamente seguros que os odores a bordo é uma questão meramente temporal, não é nociva para a saúde de ninguém nem representa nenhum risco”.
Antonoaldo Neves deixou a garantia de que a empresa que lidera está atenta ao que se tem passado e promete continuar a cooperar no que for preciso para que os problemas se resolvam e não voltem a acontecer.

Recorde-se que a primeira vez que se ouviu falar em enjoos e vómitos nos voos do Airbus A330neo foi em fevereiro. Desde então, a TAP garante estar atenta e a trabalhar no caso mas o Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC) não está assim tão convencido. 

O i soube, na altura, que os problemas não afetaram só os passageiros como também os tripulantes com uma fonte da TAP a afirmar que “os pilotos sentiram, na altura, olhos e gargantas irritados”.

Este foi um assunto que Antonoaldo Neves também não deixou de esclarecer. “Não houve casos de pilotos que adoeceram. O que eu tenho são dados técnicos: 14 trabalhadores deram entrada na UCS. Desses, nenhum tinha qualquer sintoma relacionado. Estamos a investigar de forma muito séria”, prometeu.

Recentemente a Airbus terá enviado uma carta à TAP onde terá admitido falhas nos aparelhos vendidos à companhia aérea portuguesa. A TAP chegou a dizer que a comunicação social descontextualizou a carta, algo que voltou a afirmar ontem no Parlamento. 

Prémios

Outro dos temas que marcou a audição foram os prémios pagos pela empresa a 180 trabalhadores em 2018, no valor de 1,17 milhões de euros, num ano em que a TAP registou um prejuízo no valor de 118 milhões de euros. O presidente executivo da TAP aproveitou então a oportunidade para explicar que a atribuição dos prémios “não foi feita de forma discriminatória”. Apesar de considerar que já foi dito tudo o que havia a dizer sobre este assunto, Antonoaldo Neves destacou que “não é a primeira vez que uma empresa ou a TAP paga prémios num ano de prejuízo”. E foi mais longe: “O Fernando Pinto [que liderava a empresa em 2008, quando era pública] até me ligou e disse que não estava a entender o porquê uma vez que quando a empresa era pública pagou prémios de 390 milhões de euros”. Na sua opinião, “mesmo com resultados negativos, as empresas entregam prémios”.

O presidente executivo da companhia aérea explicou no Parlamento que foram oferecidos a todos os sindicatos, nos acordos de cinco anos, programas de participação nos resultados. “Inclusive havia um sindicato que tinha esse programa e preferiu trocar por aumentos”. A promessa ficou feita: “Continuamos abertos a fazer programas de prémios para todos os trabalhadores e aguardamos propostas dos sindicatos para isso”. Para Antonoaldo Neves, o programa de prémios deve ser extensível a todos os trabalhadores.

No que diz respeito a este tema, o presidente executivo da companhia aérea reforçou o que já tinha sido dito: “Houve uma falha de comunicação”.

Culpa o petróleo

Quando questionado sobre o valor dos prejuízos, Antonoaldo Neves disse simplesmente que, quando assumiu a liderança da TAP, a empresa não tinha proteção para a variação do preço do petróleo e que atualmente 65% do volume de combustível está protegido. O responsável foi mais longe e considerou “surpreendente” que uma empresa da dimensão da TAP não tivesse contratos swap que a protejam da variação do preços dos combustíveis, já que este é um custo muito importante para a TAP e que contribuiu para os prejuízos.

A par dos custos de petróleo, o CEO da companhia aérea justificou os prejuízos da empresa também com as despesas não correntes que ascenderam a 90 milhões de euros em 2018. E deu como exemplo, a greve de zelo dos pilotos, o que exigiu o aluguer de aeronaves; o programa de pré-reformas voluntárias de 20 milhões de euros, que considerou ter sido “benéfico para a TAP”, porque em 95% dos casos não houve substituições; custos da demissão de 1.000 trabalhadores no Brasil, da operação de manutenção.

O gestor indicou ainda que os resultados negativos não contemplam os investimentos em aviões, justificado pelo facto de o investimento em ativos não afetar os resultados. “No ano passado, voavam os antigos aviões e não estes de nova geração que vão ter um maior impacto de proteção de combustível”, referiu aos deputados. 

Repensar plano estratégico 

Antonoaldo Neves não tem dúvidas: “Está a chegar altura para repensar plano estratégico”. Esta é a resposta do CEO da empresa quando foi confrontado com o plano estratégico foi entregue ao Tribunal de Contas, no momento em que o Estado reentrou no capital da transportadora e prometia uma subida dos lucros até atingir os 167,76 milhões positivos, em 2022. No entanto, o gestor garantiu que “a realidade é que o contexto mudou muito desde que o plano foi feito”. E deu como exemplo, o peso do Brasil onde a empresa perdeu quase 100 milhões de euros de receita no ano passado e onde os efeitos continuam a sentir-se em em 2019: “Tivemos um primeiro trimestre muito difícil ainda, no segundo trimestre já está melhor”. Ainda assim, admitiu que há a expectativa que este ano “seja muito melhor que 2018”. 

“Este ano é de transição, com a entrada gradual dos novos aviões ao serviço, e de pilotos. O resultado ainda não ter o pleno potencial, há aviões por chegar e mais crescimento”, referiu o CEO. “É um ano de preparação para o crescimento do ano que vem”, sublinhou. Ainda assim, “estamos num ano em que a expectativa é que seja muito melhor que 2018, mas é um ano de transição”, rematou.

A par da quebra económica do Brasil, o responsável chamou ainda a atenção para o atraso da entrega de várias novas aeronaves à TAP. “Não permitiu avançar com a expansão. E contávamos com esses aviões para o plano que desenhámos”, salientou.