Costa paga o passe social familiar com gasolina

Costa é o mestre do baralha e volta a dar. Com o passe familiar dá, com os impostos indiretos tira

Quem viveu o período da intervenção da troika em Portugal e tivesse hibernado – antes da saída dos fiscais troikianos – até agora, ficaria, seguramente, muito confuso. Durante a presença dos representantes de Bruxelas, assistiu-se a um corte brutal dos ordenados e das pensões, o desemprego atingiu números assustadores, mas quem fosse ao hospital, a uma loja do cidadão, ou lesse notícias sobre os militares, a Justiça, a segurança, ou, outra vez, os médicos, achava que tudo estava mais ou menos calmo. Acordando da hibernação em 2019, nunca se diria que os fiscais de Bruxelas já tinham partido para outro país em crise.

Olhemos para o que se passa nos hospitais: não há médicos, serviços inteiros de determinados hospitais têm de ser encerrados por falta de profissionais, as grávidas sofrem porque não sabem se nas maternidades espalhadas pelo país podem dar à luz em segurança. Nas lojas do cidadão floresceu um negócio improvável: a venda de cadeiras e camas desmontáveis para as pessoas que aí têm de passar noites e noites à espera de conseguirem uma senha para revalidarem a sua carta de condução ou o cartão de cidadão. Os fiscais de Bruxelas assim o determinam. Não se pode gastar dinheiro com funcionários novos.

 

No campo militar, assistiu-se a um dos assaltos mais insólitos, atendendo a que, supostamente, um quartel é uma verdadeira fortaleza que só pode ser derrubada por forças estrangeiras. Esta semana, por exemplo, ficou a saber-se, através do responsável máximo das tropas portuguesas – se excluirmos o Presidente – que faltam seis mil tropas, colocando assim em causa a segurança das instalações portuguesas, além das missões no estrangeiro. «A grave falta de pessoal compromete os elevados padrões de operacionalidade que são exigidos às Forças Armadas de países pertencentes à NATO», disse o almirante Silva Ribeiro, chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas ao CM, depois de já ter dito ao Público que a «situação é insustentável».

O que respondeu o ministro da tutela? «O CEMGFA conhece o seu papel, que reside no cumprimento das medidas [definidas]. Se ele chegasse à conclusão, que não chegou obviamente, que não pode cumprir essas medidas, então sairia. Mas não é essa a situação».

 

Extraordinário! O ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, entende que perante o descalabro da falta de operacionais que põe em causa a segurança nacional nada melhor do que convidar o chefe máximo das tropas a demitir-se para encontrar um cordeirinho para o seu lugar. Empurrando dessa forma para baixo do tapete a falta de militares.

Onde é que acabou a famosa austeridade? Nas polícias é o que se sabe. Agentes que vivem em camaratas miseráveis ou nos carros por falta de casas sociais para viverem com dignidade. Tivesse este país uma oposição forte e logo veríamos se todos continuavam a pagar a crise através de impostos indiretos, onde tanto ricos como pobres os pagam quando abastecem o seu carro, por exemplo.

 

Mas temos que tirar o chapéu a António Costa. Em vésperas da famosa greve dos camionistas, o Executivo distribui a partir de segunda-feira o passe social familiar. Uma medida que abrangerá milhares e milhares de pessoas que pouparão uns euros bastante importantes nas suas economias. Só que essas economias serão gastas nos tais impostos indiretos. Mas isso é outra história.