Uma comédia chamada Portugal

António Costa continua, como sempre, a fazer de pianista do saloon

Se os incêndios não fossem um tema tão sério e dramático, podíamos dizer que as trapalhadas das autoridades responsáveis pelo combate aos fogos davam um bom filme de humor. Um operacional que recebe ordem de prisão por outros colegas de ofício, no caso da GNR, por, supostamente, estar a tirar fotos aos bombeiros concorrentes em vez de apagar os incêndios; a distribuição de golas antifumo fabricadas com material inflamável pela Proteção Civil, a populações idosas que vivem em aldeias para se adaptarem aos perigos (???) daria umas boas gargalhadas nas salas de cinema não fosse, repito, o assunto tão sério. Mas que raio de ideia foi esta? Terá servido para distribuir alguns milhares de euros por alguém do partido?

No meio disto tudo aparece um ministro que está a funcionar como pirómano, incendiando os ânimos com os autarcas atingidos pelo flagelo da época e com todos aqueles que denunciam as situações que correm mal. Quando se refere às boinas da GNR, como contraponto às famosas golas inflamáveis, o ministro revela uma desorientação preocupante… Apesar deste cenário, António Costa continua, como sempre, a fazer de pianista do saloon.

Mas esta semana teve notícias para todos os gostos e feitios e ninguém diria que estamos em pleno período de férias. Um ministro, tentando antecipar-se à greve dos camionistas, aconselha os automobilistas a encherem os depósitos e, eventualmente, a levarem jerricans para casa cheios de gasolina ou gasóleo onde guardarão pequenas bombas artesanais. Pedro Nuno Santos apenas falou de encherem os depósitos, mas como é evidente o povo já anda numa lufa lufa pelos tais jerricans.

A greve – ou suposta greve, tais são os serviços mínimos impostos – dos camionistas deixa bem claro que para o Governo há uns que podem fazer gazeta ao trabalho e outros não. O que está a enervar seriamente o Governo é a possibilidade de os supermercados ficarem com as prateleiras vazias, quando o povo precisa é de descanso e animação. Os combustíveis, a bem ou a mal, não vão faltar, mas o mesmo já não se pode dizer dos alimentos. E aqui faço a ligação para outro acontecimento que marcou a semana. Mas antes disso, o que será de um povo em férias se faltar cerveja? 

Outra das notícias insólitas da semana foi a da multa da Autoridade da Concorrência de 24 milhões de euros à Super Bock por «fixação de preços mínimos e outras condições de transação aplicáveis à revenda dos seus produtos a hotéis, restaurantes e cafés». Confesso que tinha visto este filme ao contrário, e não tinha bebido nenhuma cerveja, mas as cervejeiras não competiam entre elas para ver quem ficava com determinada discoteca ou bar, dando verdadeiras fortunas a esses espaços para terem na montra a sua marca? Se calhar, davam aos milhões para recuperarem noutros lados. Mistérios de copos.

Para terminar a semana insólita, até o FC Porto não conseguiu travar a divulgação do confronto entre o capitão da equipa e o treinador, obrigando o papagaio de serviço do clube a dizer que houve uma discussão, mas que não foi nada de extraordinário. Os papagaios dos clubes, FC Porto, Benfica e Sporting, são uma triste imagem da bajulação, da voz do dono, da perseguição a quem pensa diferente, e um sinal de que o futebol em Portugal nunca atingirá um nível sério enquanto tais criaturas forem os divulgadores das verdades oficiais dos clubes. É impressionante como no meios dos inúmeros debates da especialidade, alguém diz que acabou de receber nova informação e que o que estão a dizer não é verdade. É mais cómodo para os clubes terem esses papagaios do que darem a cara. Resumindo, este verão promete.

vitor.rainho@sol.pt