Maioria absoluta do PS e esquerda com 2/3 na AR?

Com base nas sondagens recentes (ICS_ISCTE, Eurosondagem e Aximage), todas com resultados muito semelhantes – dando 37% ao PS e 24% ao PSD – os jornais têm predito uma vitória esmagadora do PS mas longe da maioria absoluta. Acontece que se esqueceram de redistribuir os votos nos pequenos partidos e os votos brancos ou nulos,…

Com base nas sondagens recentes (ICS_ISCTE, Eurosondagem e Aximage), todas com resultados muito semelhantes – dando 37% ao PS e 24% ao PSD – os jornais têm predito uma vitória esmagadora do PS mas longe da maioria absoluta.
Acontece que se esqueceram de redistribuir os votos nos pequenos partidos e os votos brancos ou nulos, que não contam.
Se fizermos esse exercício, teremos:

Ora, estes 42% do PS, com 15,5% de diferença para o PSD e com a divisão de votos por 3 partidos à direita e por 3 partidos à esquerda, significa que, aplicando o método de Hondt, o PS está na maioria absoluta de deputados na AR e a esquerda tem uma maioria constitucional folgada, com 70% dos deputados, podendo fazer uma revisão constitucional esquerdizante e superando qualquer veto presidencial.
Assim:


Esquerda com mais de 2/3, superando vetos do PR.

No quadro abaixo está a minha previsão da atribuição de deputados por círculo distrital, tendo em conta esta projeção e a distribuição por distrito registada nas europeias.
Uma coisa pouco notada é que, nas europeias, o partido mais atingido pela abstenção foi o PS (no Conselho de Lisboa teve menos 30.000 votos em relação às autárquicas, enquanto os partidos à sua direita mantiveram a votação). Foi o tradicional ‘cartão amarelo’ que os eleitores aproveitam para dar ao Governo nas europeias. Mas, ao contrário das outras vezes, estes eleitores preferiram abster-se em lugar de votarem na oposição, como tinha acontecido em 2015 e 2011. E serão estes eleitores, que agora irão voltar a votar – e votar PS -, que permitem o salto do resultado das europeias para as atuais previsões dadas pelas sondagens (que nas europeias provaram bem, registe-se). 
E os tempos vão de feição para o Partido Socialista, com a Assembleia da República fechada, deixando a oposição sem visibilidade, enquanto António Costa está todos os dias nos noticiários das TVs.  
Isto quando parte significativa do eleitorado e militantes do PSD não se reveem na atual liderança e o seu programa só será conhecido praticamente no dia em que os portugueses vão de férias. 
Como pode então a área não socialista evitar a maioria absoluta do PS e a maioria constitucional de esquerda? 

A única forma será os eleitores não socialistas, independentemente do que possam pensar de Rui Rio, da sua equipe, dos candidatos que escolher, da sua estratégia e das suas propostas, tomarem consciência de que, neste momento, o resultado mais provável é António Costa ter a maioria absoluta de deputados e a esquerda ter mais de 2/3 da AR, podendo alterar sozinha a Constituição numa revisão esquerdizante. Isto só será evitado se: 
– Todos os eleitores não socialistas votarem no dia 6 de Outubro (mesmo que não gostem da atual oferta partidária);
– Não desperdiçarem o voto em partidos que, no seu círculo, não elegerão deputados. Nesta perspetiva, votar CDS só vale a pena em Aveiro, Braga, Porto, Lisboa e, talvez, Leiria. Em todos os outros distritos o voto no CDS será um voto perdido. Votar Aliança e Chega apenas valerá a pena, eventualmente, em Lisboa. 

Um estudo que fiz, considerando os resultados das europeias como se se tratassem de legislativas (distrito a distrito), deu-me os seguintes resultados: 

(a diferença entre as europeias e as atuais previsões deve-se ao facto, acima referido, de aqueles que nas europeias deram um inócuo cartão amarelo ao Governo, abstendo-se, agora vão votar no PS).
Mas, se a direita concorresse unida como em 2015, com os mesmos votos, os resultados seriam:


O PS teria menos 11 deputados e a esquerda menos 17 deputados, que passariam a ser da área não socialista, encurtando muito as distâncias (menos 34 deputados de diferença entre esquerda e direita). 

Na ausência de qualquer possibilidade de repetir a candidatura conjunta da direita, resta a inteligência do eleitorado não socialista, concentrando os votos no PSD nos distritos em que só ele poderá eleger deputados.
No outro campo, o PS fará o mesmo apelo, pedindo aos eleitores à sua direita que votem no PS para o livrarem do PCP e do BE, e pedindo aos eleitores à sua esquerda que votem PS para o livrarem de ter que fazer acordos com o PSD. Qual sereia, Costa falará à direita das contas certas de Centeno, e à esquerda da redistribuição de rendimentos e das reversões. E pintará de cor-de-rosa o descalabro dos serviços públicos, de que é paradigma o que se passa no SNS.