Advogada da família do lusodescendente encontrado morto em França diz que caso é “assunto de Estado”

Apresentação das conclusões do relatório da Inspeção Geral da Polícia por parte do primeiro-ministro francês chocou defesa

Cécile de Oliveira, advogada da família do lusodescente encontrado morto num rio de Nantes, em França, considera que o caso se tornou "assunto de Estado" no momento em que foi o próprio primeiro-ministro francês a revelar as conclusões da investigação à atuação da polícia.

Em declarações à comunicação social francesa, esta quarta-feira, a advogada adiantou que havia sido anunciada na terça-feira uma comunicação do Ministro do Interior francês para divulgar as conclusões do relatório da Inspeção Geral da Polícia. O relatório tinha como foco a atuação das forças policiais na noite em que o lusodescente desapareceu, durante uma festa de música em Nantes.

Cécile de Oliveira mostrou-se surpreendida por ser o próprio Édouard Philippe,primeiro-ministro francês, a apresentar publicamente os resultados desse relatório. Este confirmou ainda que o corpo retirado do rio Loire, Nantes, pertencia mesmo ao jovem de 24 anos com descêndencia portuguesa.

Segundo a advogada,  o facto de ter sido o primeiro-ministro a virpublicamente anunciar os resultados do relatório, torna o caso num "assunto de Estado". "Estou surpreendida que o primeiro-ministro tenha falado (…). Claramente, quando o próprio primeiro-ministro fala, torna-se num assunto de Estado. É uma tomada em mãos pelo Executivo de um assunto que está confiado a um juiz de instrução e parece-me revelador de um momento político muito complicado sobre as intervenções policiais".

As conclusões desse relatório, divulgadas terça-feira, ilibam a intervenção policial em Nantes do desaparecimento de Steve Maria Caniço e não estabelecem qualquer ligação entre as duas partes.

O Governo português já reagiu também ao caso. Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros, considerou esta quarta-feira que, "o facto de não ter a nacionalidade portuguesa não o afasta das nossas preocupações e, sobretudo, da nossa tristeza e da solidariedade com a sua família, visto que é filho de portugueses."

Steve Maia Caniço estava desaparecido há já mais de um mês, desde 22 de junho. Foi visto pela última vez durante uma intervenção policial numa festa que de música em que o jovem participava, em Nantes.

O caso gerou grande controvérsia em França devido às imagens e relatos da violenta carga policial utilizada durante o festival de música. Nessa sequência, o Ministério do interior francês ordenou que fosse aberta uma investigação à atuação das forças policiais. A investigação abriu a hipótese de se tratar de "homicídio involuntário."

Apesar do relatório ter desculpabilizado a intervenção policial, a advogada da família de Steve Maria Caniço considera que nesta altura "não é possível descartar responsabilidades de quem quer que seja". Reforça a importância de prosseguir a investigação "em condições de serenidade, independência e confidencialidade como a justiça deve fazer."

Esta quarta-feira, a união de sindicatos "Solidaires" apelou à participação nas manifestações em memória do lusodescente. Exigiram ainda ao Governo francês que acabasse imediatamente com a "repressão policial", tal como "toda a verdade sobre esta tragédia", para que sejam responsabilizados os seus autores.