Desistências e demissões nas listas do PSD

A ordem é para deixar Rui Rio assumir o ónus dos resultados eleitorais com desmobilização interna em várias distritais. Em Aveiro, há três desistências e o Porto vive dias de mal-estar.

O presidente do PSD garantiu a aprovação das listas às eleições legislativas de 6 de outubro com 80 votos a favor, 18 contra e 10 abstenções. Mas o processo de formação das equipas foi tudo menos fácil e promete não ficar por aqui. Há problemas em vários círculos eleitorais, sobretudo a norte, com desistências anunciadas. Pelo caminho, houve uma demissão de um presidente de uma distrital – Leiria – e vogal da comissão política nacional: Rui Rocha.

Mas vamos aos vários casos no país, que podem representar um problema  maior para a campanha: o da desmobilização interna, com ordem para deixar Rui Rio assumir todas as responsabilidades.

 

Porto sem ex-líder distrital

No Porto, há mal-estar, depois de Rui Rio ter avocado a formação da lista. O caso atrasou uma hora o início do Conselho Nacional na passada terça-feira. No rescaldo do processo, Alberto Machado, líder distrital, absteve-se, mas dentro da sua estrutura distrital houve quem quisesse votar contra as escolhas de Rio num círculo em que o próprio é o número dois. Mais, há quem garanta ao SOL que Machado foi pressionado pelo líder do partido para não votar contra, com a hipótese de retiradas de nomes das lista.

Entretanto, confirmou-se uma desistência de peso. O antigo líder da distrital do PSD/Porto,Vírgilio Macedo, confirmou ao SOL que pediu para sair das listas.

Por sua vez, o deputado Miguel Santos, indicado por Valongo, reuniu com a sua concelhia, dado que está em 29º lugar, mas concluiu que fica. Porém,  o deputado enviou uma missiva ao líder do partido onde relata a informação que lhe chegou da distrital a  responsabilizar Rio pelas escolhas nas listas:  «Esta decisão, conforme declarado pelo presidente da distrital do Porto, Alberto Machado, perante a comissão política distrital alargada, é da inteira e exclusiva responsabilidade do presidente da Comissão Política Nacional», lê-se no texto a que o SOL teve acesso.

Já Simão Ribeiro, que figura em 33º lugar, cumprirá a sua missão: «É tão honroso ir em 3.º lugar como em 33.º lugar», disse.

Luís Vales, por seu turno, queixou-se na rede social Facebook do veto de Rio: «O dr. Rui Rio pode vetar o meu nome ( está no seu direito) mas nunca poderá apagar o amor que tenho ao meu partido e pelo qual fiz tanto nos últimos 15 anos». Vales está em 31.º lugar da lista.

 

Aveiro perde três candidatos

Alberto Machado também percebeu que não poderia contar com o seu secretário-geral, Bruno Carvalho, para coordenar a campanha no distrito. Afinal, o interior do distrito do Porto ficou mal representado nas listas.

Na distrital de Aveiro, liderada por Salvador Malheiro, ( vice-presidente do PSD, as listas deixaram um lastro de mal-estar ao ponto de se terem demitido já Rui Vilar (líder da concelhia de Arouca) e Álvaro Ferreira (número dois em Oliveira do Bairro da comissão política distrital), confirmou o SOL.

Já Henrique Araújo, o braço-direito de Salvador Malheiro na Câmara de Ovar, colocou o lugar à disposição na Comissão Política Distrital. E anunciou-o na sua página no Facebook. O responsável chegou a ser indicado pelo PSD/Ovar para as listas. Na mesma rede social, Henrique Araújo diz estar comprometido com o PSD/Ovar. E  ficará como adjunto na autarquia «enquanto o presidente Salvador Malheiro assim o entender».

Mas as saídas da comissão política distrital não resumem a história. Há três pedidos de saída das listas, resultantes do descontentamento pela forma como o presidente da distrital geriu o processo: Rui Vilar (9.º lugar) Laura Pires (14.º) e Jorge São José (12.º), da Anadia, pediram para sair, apurou o SOL.

Perante este cenário, de pedidos de desistência e demissões,  Salvador Malheiro disse ao SOL não vai aceitar qualquer demissão. «Irei tentar com que as pessoas voltem atrás na sua decisão inicial. Vou tentar demovê-los, sabendo que os compreendo bem». Isto porque é difícil acomodar todos em lugares elegíveis entre 19 concelhos, TSD, JSD e Mulheres Sociais-Democratas.

Quanto ao processo interno de escolha de candidatos – muito contestado entre militantes de Aveiro -, Malheiro reiterou que os estatutos foram cumpridos, mas que «na fase mais apertada» de ordenação final das listas o processo funciona sempre entre «os órgão nacionais e a cúpula da distrital». Mais, reconheceu  que tomou a «decisão de contactar alguns membros do Comissão Política Distrital por WhatsApp», nas consultas que fez para as listas. Porém, justificou que houve outras interações e que os contactos nas redes sociais foram «uma gota de água no meio de um copo».  Há uma semana tinha desmentido  que estivesse a fechar listas por SMS ou WhatsApp.

Em Braga, a lista que foi a votos em Conselho Nacional ainda manteve João Granja em 19.º lugar, quando o próprio pediu para sair depois do veto político a Hugo Soares, o único nome oficialmente chumbado por Rui Rio, segundo a direção do PSD.

Mais a norte, em Viana do Castelo, o número sete da lista, José Augusto Sousa, indicado por Paredes de Coura, também saiu, a seu pedido, na versão votada em conselho nacional.

 

Vitorino ‘lava as mãos’

Mais a sul,  a lista de Setúbal  também foi avocada pela direção nacional, tal como a do Porto.

Bruno Vitorino, o presidente da distrital setubalense, chegou a ponderar sair, mas arrumou o assunto e foi ao Conselho Nacional criticar o processo. No dia seguinte ao conselho nacional, a distrital reuniu-se e no encontro estiveram quase todos os candidatos aprovados, menos o número dois da lista, Fernando Negrão.  Segundo várias fontes, foi um debate franco, com algumas críticas entre o cabeça-de-lista, Nuno Carvalho, e o líder da distrital. O escolhido de Rio viu-se confrontado com a hipótese de ajudar a fazer as listas e Vitorino não gostou. Mas o caso ficou resolvido. Agora, a estrutura terá como mandatário António Salgueiro e Paulo Sabino na coordenação de campanha. Bruno Vitorino fará campanha «na qualidade de militante», afirmou o dirigente ao SOL. O deputado acrescentou  que «a ele não serão assacadas quaisquer responsabilidades pelos resultados eleitorais». Ou seja, ‘lava as mãos’ do desfecho eleitoral e coloca-se na reserva.

No círculo eleitoral de Lisboa houve vários acertos ao longo da noite do Conselho Nacional e saíram Joaquim Sardinha, vice-presidente da Câmara de Mafra, e Rogério Jóia (17.º lugar), indicado por Lisboa.

 

Próximo de Rio demite-se

Rio pode reclamar que o processo de formação de listas foi «razoavelmente pacífico» , mas sofreu uma baixa de peso no dia seguinte ao Conselho Nacional.  Rui Rocha, presidente da distrital do PSD/Leiria, apresentou a demissão do cargo e saiu da Comissão Política Nacional. O dirigente tomou a decisão porque a sua estrutura ficou «condicionada em 40%» pelas escolhas da direção nacional.

Na base do problema esteve a inclusão do secretário-geral dos TSD, Pedro Roque, em número dois da lista pelo círculo de Leiria. Esta decisão deixou pouco margem à distrital para a ordenação das listas. Para mais, Pedro Roque foi o único nome considerado ‘paraquedista’ pela direção, ou seja, alguém sem ligação direta ao círculo eleitoral. Assim, Rui Rocha, um dos dirigentes distritais que esteve com Rio desde a primeira hora, não teve outra saída: bateu com a porta. Porém, elogiou a escolha da cabeça-de-lista Margarida Balseiro Lopes, líder da JSD  ( uma opção de Rui Rio), a quem prometeu colaboração na campanha, sempre que for necessário.

Em Santarém, por seu turno, a candidata Isilda Aguincha (9.º lugar) retirou a sua candidatura, por considerar que não foram tidos em conta os currículos que os TSD remeteram à distrital.  A ex-candidata lamentou ainda o processo de formação das listas, tanto a nível distrital como nacional.

 

Menezes sente-se insultado

As redes sociais tornaram-se um muro de lamentações para quem está de saída das listas, mas também um espaço para denunciar insultos. O antigo líder do PSD Luís Filipe Menezes revelou que foi insultado, bem como a sua família. «Nas últimas horas recebi várias mensagens, via Messenger, insultando-me e insultando a minha família», revelou Menezes, afiançando que o atacaram porque apoia Rio.

No rescaldo do Conselho Nacional uma parte substancial das intervenções foi crítica, sobretudo de figuras menos conhecidas, como Alexandre Barros da Cunha, apoiante de Rio em Guimarães, que se terá confessado «desiludido». Já os líderes distritais de Viseu e de Lisboa, Pedro Alves e Pedro Pinto, respetivamente, fizeram intervenções sem contestarem o líder do PSD, depois de se terem colocado ao lado de Luís Montenegro, o challenger de Rio para eleições diretas, em janeiro deste ano. Pedro Pinto assinalou, contudo, o veto ao nome de Miguel Pinto Luz na lista.

Na sua intervenção, Hugo Soares, próximo de Montenegro, considerou que Rio «não gosta do PSD». A partir daqui remete-se ao silêncio até 6 de outubro, data das eleições legislativas.