BE veta por antecipação Bolsonaro em Portugal

Bloquistas reclamam o cancelamento de uma visita que o Governo português garante que não está prevista. PSD e CDS lembram que o Brasil é um país amigo de Portugal.

O BE insurgiu-se esta semana contra a visita de Jair Bolsonaro a Portugal, mas o Governo garante que não está prevista nenhuma viagem do presidente do Brasil. «Sabendo-se que está em preparação uma visita oficial do Presidente da República do Brasil a Portugal, prevista para o início de 2020, o Bloco de Esquerda considera que esta, a concretizar-se, sinalizaria ao povo irmão do Brasil que o Governo português é conivente com o constante desrespeito à democracia demonstrado pelo atual governo», argumentam, em comunicado, os bloquistas.

O partido de Catarina Martins considera que as afirmações de Bolsonaro «a propósito da morte do ativista estudantil e militante político Fernando Santa Cruz, dado como desaparecido em 1974, em plena ditadura militar naquele país», demonstram que o Presidente do Brasil  ignora «os fundamentos do Estado Democrático de Direito». E o BE considera, por isso, inaceitável a realização desta visita: «Jair Bolsonaro não é bem-vindo a Portugal e o Ministério dos Negócios Estrangeiros deve cancelar a visita o quanto antes».

A posição do BE abriu uma discussão sobre se Bolsonaro deve ou não ser recebido em Portugal. Augusto Santos Silva limitou-se, porém, a garantir que a visita a que se refere o BE não está prevista. «Não consigo cancelar viagens que não estão programadas», disse o ministro dos Negócios Estrangeiros.

 

‘Deve ser recebido’, diz CDS

Ao contrário do BE, o líder parlamentar do CDS, Nuno Magalhães, defende, em declarações ao SOL, que Bolsonaro «deve ser recebido como qualquer outro chefe de Estado de um país amigo», porque «o Brasil é um país amigo de Portugal, o Brasil tem um chefe de Estado eleito democraticamente, Portugal tem uma forte e integrada comunidade no Brasil e o Brasil em Portugal».

O PSD também não alinha com os argumentos da esquerda. «O Brasil é um país irmão que tem um presidente democraticamente eleito. As relações seculares entre os dois países são a prioridade é não devem, nem podem ser postas em causa», diz ao SOL fonte da direção do grupo parlamentar.

O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, anunciou , há semanas, no final de uma reunião com Augusto Santos Silva, no Mindelo, que Bolsonaro quer «muito» visitar Portugal e «se tudo der certo» isso pode acontecer no início do próximo ano.

Augusto Santos Silva recordou as declarações do ministro brasileiro no sentido de realizar, em 2020, uma cimeira entre os dois países, mas «daí a poder dizer-se que está a ser programada uma viagem do Presidente Bolsonaro a Portugal (…) vai uma grande distância».