Adeus, Rio!

Assim, as listas para as legislativas não são as listas do PSD, são as ‘listas de Rio’  – e isso é o pior que se pode dizer de um líder.

Quando António Costa avançou para a chefia do PS, desafiando António José Seguro, usou um argumento simples: «Ele não conseguiu unir o partido».

Ora, as listas do PSD para as legislativas, apresentadas por Rui Rio, não só mostram que ele não conseguiu unir o partido como o dividiu ainda mais.

Não interessa se Maria Luís Albuquerque, Luís Montenegro, Duarte Marques, Hugo Soares ou Miguel Pinto Luz foram excluídos das listas ou se autoexcluíram.

O que importa é o resultado.

E o resultado é este: as listas do PSD não incluem alguns dos melhores valores do partido.

Quando os primeiros nomes foram anunciados, até achei graça ao facto de Rio pôr jovens desconhecidos a liderar listas em cidades importantes – como Filipa Roseta, número um em Lisboa.

Só que depois tinham de vir pesos pesados.

Mas tal não sucedeu.

Essa jogada serviu apenas para criar uma cortina de fumo destinada a limpar das listas alguns nomes incómodos.

Assim, as listas para as legislativas não são as listas do PSD, são as ‘listas de Rio’  – e isso é o pior que se pode dizer de um líder.

Há uns tempos escrevi que Rui Rio não tinha jeito para fazer oposição; ora, agora vê-se que também não tem jeito para governar a sua própria casa.

Não está em causa o seu feitio autoritário.

A política precisa de líderes afirmativos, que não negoceiem os principais, que sejam capazes de fazer ruturas, que andem na frente do pelotão e não no meio do pelotão.

E esta qualidade Rio tem-na.

Só que, depois, esse tipo de líder tem de mostrar capacidade para arrastar o partido atrás de si e o levar para a frente.

Tem de entusiasmar as hostes e transmitir a ideia de que consegue chegar ao poder – como aconteceu com Sá Carneiro, Cavaco Silva e, em menor grau, Durão Barroso e Passos Coelho.

Ora, essa qualidade Rio não tem. 

Não conseguiu mobilizar o partido, arrastá-lo atrás de si, criar a ilusão de que pode levar o PSD à vitória. 

Sob quase todos os aspetos, a liderança de Rui Rio foi um desastre.

A equipa que apresentou viu-se logo envolvida em lamentáveis polémicas, que fragilizaram aquilo que era a sua marca mais forte: a seriedade. 

Depois, não conseguiu durante mais de um ano e meio pôr qualquer tema na agenda.

O leitor lembra-se de algum?

Enquanto o BE conseguia semanalmente agendar novos temas – levando a que se discutissem assuntos tão bizarros como o nome do Museu das Descobrimentos -, o PSD não foi capaz de pôr o país a discutir coisa nenhuma.

Os temas mais problemáticos para o Governo até partiram de Belém, desde o discurso sobre os incêndios, em 2017, que levou à demissão da ministra Constança Urbano de Sousa, ao caso de Tancos, que levou à queda do ministro Azeredo Lopes.

Rio nunca conseguiu ter a liderança política.

Mesmo alguns assuntos que suscitou e que mereceriam um debate nacional – como a queda da natalidade ou a baixa dos impostos – acabou por não os conseguir impor: um deixou-o cair logo na semana seguinte e o outro foi apresentado já em período pré-eleitoral, perdendo credibilidade.

Perante um Governo apoiado pela primeira vez na história de Portugal por toda a esquerda – configurando uma verdadeira Frente Popular – Rui Rio não conseguiu o que pareceria fácil: mobilizar a direita.

Rejeitou de início uma aliança com o CDS, que seria a única forma de criar a ideia de que a havia uma alternativa forte.

E assim, muita gente de direita – desde empresários a agentes culturais – acabou por apoiar António Costa.

Ao excluir das listas nomes como Maria Luís Albuquerque, Rui Rio deu a machadada final na sua própria liderança.

Escrevi há três semanas que ela será provavelmente a futura líder do PSD.

Ora, esta exclusão foi uma boa ajuda para isso.

Recorde-se que Passos Coelho também não esteve nas listas para deputados de Manuela Ferreira Leite – e depois foi o seu sucessor.

Dir-se-á que, quando lá chegar, Maria Luís vai receber um partido em cacos.

É verdade – mas não será fatal.

Ao contrário de outros partidos, o PSD não está em risco de desaparecer.

Porquê?

Porque tem uma base sociológica sólida e alargada.

O PSD é o partido por excelência da classe média – das profissões liberais, dos empreendedores, dos que arriscam.

Ao contrário do PS, que tem a sua base no funcionalismo público e no pequeno comércio urbano, o PSD apoia-se nos médicos, nos advogados, nos engenheiros, nos pequenos e médios empresários, nos novos agricultores.

E como esses existem, não desapareceram, precisam de um partido que os entenda e os represente.

Só precisam que o partido seja capaz de falar para eles…