Pânico no ar e o caos em terra

Se a greve dos camionistas fosse decretada pelas centrais sindicais, o BE e o PCP ficavam caldos com serviços mínimos de 100%?

O que se passa com os novos aviões da TAP é um mistério que está a dar cabo das tripulações, obrigando-as a recorrerem às redes sociais para denunciarem as situações estranhas,  prestando um grande serviço ao país, que fica informado do que se passa com as novas aeronaves. Ninguém quer o mal da companhia aérea, muito menos aqueles que são seus acionistas, como é o caso de muitos trabalhadores. Mas se olharmos para a foto que o SOL publicou na semana passada – anteriormente divulgada nas redes sociais – em que os pilotos tiveram de fazer a aterragem em full face, máscaras anti gases tóxicos, para facilitarmos a linguagem, percebemos facilmente que algo não está bem. 

São já muitas as denúncias feitas por pilotos e tripulantes nas redes sociais, e todas têm um denominador comum: o ar que se respira fica irrespirável. Vejamos o que diz no final de um post uma hospedeira que fez o voo entre Lisboa e Toronto, precisamente no dia em que o SOL publicou a selfie do comandante que aterrou em full face: «O importante aqui é a passagem de informação sem medos, é a partilha das nossas experiências, principalmente as que prejudicam a nossa saúde, que é o bem mais valioso que temos. Reportem sempre! Façam análises por fora! Façam-se ouvir! Não somos ratos de laboratório». 

Tudo isto porquê? Porque a hospedeira em causa ficou sem poder respirar «no crew rest». «O que me levou a ter um ataque de pânico a bordo que, felizmente, eu consegui controlar», escreveu. E quais foram os sintomas que sentiu? «Náuseas, tonturas, sensação de desmaio, respiração muito dificultada, como se o ar estivesse cheio de grão e não houvesse ar limpo  para eu respirar».  Ando há muitos anos de avião e nunca tinha ouvido histórias semelhantes com outras aeronaves. Acrescente-se que o problema não é exclusivo da companhia aérea nacional, a primeira a testar os novos modelos, já que a American Ailines também tem tido os mesmos problemas com o modelo A330. Ainda há duas semanas um voo que ligaria Londres a Filadélfia fez uma aterragem de emergência em Boston por causa de maus cheios a bordo. Dez dos 12 tripulantes pediram para serem assistidos no hospital.

Será que tudo isto é uma loucura das tripulações da TAP e da American Airlines? Alguém acredita nisso? E as denúncias não se têm ficado só pelos problemas do ar que se respira, mas o sindicato dos Pilotos parece pouco inclinado a dizer tudo o que sabe. Esperemos que saibam o que estão a fazer.

Quem parece também um pouco perdido é o Governo e a população por causa da anunciada greve dos camionistas que deverá começar na segunda-feira, caso não seja desconvocada hoje pelos sindicatos. Como se explica que tenha havido uma verdadeira corrida às bombas que deixaram vários postos de abastecimento vazios? Como foi possível deixar que tantos tenham transportado combustível em recipientes nada seguros para o efeito? Quantas bombas relógio não andaram nos últimos dias nas estradas portuguesas? 

Uma palavra final para o BE e o PCP. Uma greve que ‘leva em cima’ com serviços mínimos de 50% a 100% é uma greve legitimada pelo 25 de Abril? É por o rosto dos camionistas ser um advogado habilidoso que está a aproveitar o momento para entrar na política que leva os dois partidos da ‘geringonça’ a estarem calados? Mas os trabalhadores exigem ou não melhorias salariais aceitáveis? 

vitor.rainho@sol.pt