A política faz-se muito de ilusionismo. Os políticos tentam imitar os mágicos: como eles, procuram fazer ‘parecer’ o que de facto não existe.
Já dizia um conhecido primeiro-ministro: em política, o que parece é.
E a este respeito, é forçoso reconhecer que o PS tem um especial talento para fazer magia.
Para criar uma realidade virtual.
Sócrates conseguia que os portugueses pensassem que vivíamos no melhor dos mundos quando já se anunciava a bancarrota.
E António Costa tem a mesma escola.
Começou por surpreender toda a gente ao formar a ‘geringonça’, conseguindo o feito inédito de conquistar o poder sem ter ganho as eleições.
E depois voltou a surpreender tudo e todos ao conseguir chegar ao fim da legislatura.
Se ninguém acreditava que o primeiro objetivo fosse possível, alcançar o segundo foi um feito extraordinário.
E não deve ter sido nada fácil.
As negociações com a esquerda ao longo destes três anos e meio devem ter sido duríssimas em certos períodos.
Também é verdade que ninguém estava interessado em romper o acordo: o PS, porque perdia o poder; o BE, porque queria ganhar o estatuto de ‘partido responsável’; e o PCP, porque não queria ficar como o mau da fita.
Dirão alguns que a estabilidade não serviu para nada, porque a governação foi má.
Eu próprio critiquei as limitações da ‘geringonça’, amarrada a permanentes compromissos.
Mas a estabilidade em si é uma virtude.
Sendo um meio, também é um fim.
Num ambiente estável, é mais fácil fazerem-se investimentos, prosperarem os negócios, funcionarem as empresas, afluírem os turistas.
A instabilidade, pelo contrário, compromete tudo.
Feito este introito, é inegável que o Governo de Costa construiu a ilusão de que as coisas correm muito melhor do que correm de facto.
Por isso, é o Governo do ‘parece que…’
Parece que os funcionários públicos foram aumentados, mas de facto perderam rendimentos – pois o que o Governo deu com uma mão em salário tirou com a outra em impostos indiretos e taxas.
Parece que as famílias têm mais dinheiro para gastar, e de facto consomem mais – mas muito à custa do crédito, que tem vindo a crescer, e da diminuição da poupança, que atingiu níveis mínimos.
Parece que houve mais paz social – mas as greves sucederam-se: dos transportes públicos, dos taxistas, dos camionistas, dos maquinistas da CP, dos enfermeiros, dos médicos, dos professores, dos juízes, dos operários da Autoeuropa, etc., etc.
Parece que se reduziu a despesa pública – mas de facto aumentou-se, sobretudo a despesa fixa, que é a mais difícil de reverter.
Parece que a dívida do Estado diminuiu – mas o seu valor aumentou, chegando a atingir um máximo histórico, tendo reduzido ultimamente à custa da diminuição das reservas.
Parece que a relação com o exterior melhorou, tendo crescido as exportações – mas de facto piorou, com o enorme aumento das importações, fazendo a balança comercial voltar ao negativo. E esta é uma questão crítica, pois a nossa dívida externa (que inclui o Estado e os privados) é das maiores do mundo.
Parece que a economia teve um ótimo desempenho – mas o crescimento português é o mais anémico dos países com quem nos podemos comparar. E tem vindo a definhar desde há três anos, prevendo-se para este ano 1.7%, apenas 0,2% acima do valor atingido por Passos Coelho.
Parece que o desemprego tem evoluído de forma excelente, caindo para valores muito aceitáveis – mas essa inversão já vinha do Governo anterior e deve-se em boa parte à legislação laboral então aprovada (e que o BE quer reverter).
Parece que há mais médicos nos hospitais, e de facto assim é – mas permanecem lá menos tempo, pela reversão da lei das 40 horas.
Parece que se melhorou o ataque aos fogos – mas no primeiro teste a sério o concelho de Mação ardeu quase todo.
Parece que se recuperou a ferrovia – mas as novas carruagens só chegarão em 2023.
Parece que a decisão do novo aeroporto no Montijo já foi tomada – mas de facto o Governo ainda anda às voltas com o impacto ambiental.
Parece que a TAP foi renacionalizada – mas a gestão é estrangeira e o Governo não intervém nas decisões, como se viu com os prémios absurdos dados aos gestores em ano de prejuízos.
Para completar o engano, o Governo vai fazendo pisca-pisca para a esquerda – mas vira muitas vezes à direita.
Tudo somado, quais foram as grandes realizações deste Governo?
Manteve a estabilidade, e isso foi importante, como se disse.
De resto, as limitações da fórmula política não lhe permitiram fazer quase nada.
A necessidade de não desagradar à extrema-esquerda paralisou-o.
Para o país melhorar, a receita não era pôr mais dinheiro nos bolsos das pessoas, pois isso faz aumentar o consumo e as importações; a receita era facilitar a vida às empresas, para atrair mais investimento e aumentar a produção.
A receita não era gastar – era poupar, investir e produzir.
Mas isso é o que a extrema-esquerda não permite: o seu objetivo é satisfazer as massas e perseguir os patrões.
Por isso, se esta fórmula de Governo se mantiver na próxima legislatura, os resultados serão piores do que nesta – e Portugal entrará numa perigosa rampa descendente.