Rolf Buchholz. Um faquir não tem medo de picos

Tem um par de cornos na testa, a língua bifurcada, piercings nos locais mais improváveis e até ímanes implantados na ponta dos dedos. O informático alemão Rolf Buchholz detém o título de homem com mais modificações corporais e já foi considerado suspeito de praticar magia negra.

Rolf Buchholz. Um faquir não tem medo de picos

Para muitos, a visão do seu rosto parece algo saído de um pesadelo. Os 127 piercings que lhe cobrem os lábios podem impressionar os mais sensíveis, mas são sobretudo os cornos protuberantes na testa que causam uma enorme estranheza.

Ainda assim, aquilo que está à vista é apenas uma parte das mais de 500 alterações que Rolf Buchholz tem no corpo – um número que pode ainda não estar fechado. Menos expostos estão a sua língua bifurcada e os ímanes implantados por baixo da pele, que lhe permitem atrair objetos metálicos com a ponta dos dedos – já para não falar dos 278 piercings pendurados nos genitais…

Este informático de Dortmund começou tarde – só aos 40 anos fez as primeiras tatuagens e colocou os primeiros piercings – mas é desde 2012 o detentor do recorde do Guinness para o homem com mais piercings no corpo. «Perguntam-me muitas vezes por que fiz isto. A verdade é que não sei, não há uma razão». Os seus colegas na Deutsche Telekom, que acompanharam o processo sua transformação radical, não estranham o seu aspeto. Já nas redes sociais, onde tem milhares de seguidores, recebe as reações mais variadas. «Tenho consciência de que as opiniões sobre as modificações no meu corpo são muito diversificadas, tenho desde fãs a rejeição extrema», disse ao jornal dinamarquês The Local. Há quem considere a sua figura uma «aberração» ou simplesmente «abjeta».

Apesar disso, Buchholz diz que leva uma vida normal – na medida do possível. Antigamente, era comum ser revistado exaustivamente; hoje, com a atual tecnologia dos scanners, já não tem esse problema. Mas ocasionalmente ainda pode deparar-se com um ou outro contratempo. Como em 2014, quando ia de visita ao Dubai para participar num espetáculo de circo e cabaret na discoteca de um hotel, com «funâmbulos, contorcionistas, anões, dançarinos tatuados, malabaristas, mágicos e cuspidores de fogo». É que nos tempos livres Buchholz faz números de faquirismo arrepiantes, ficando com o corpo suspenso por anzóis presos na pele (os mesmos que se usam na pesca de tubarões e de outros peixes de grande porte).

Há cinco anos, ao chegar ao aeroporto do emirado para fazer precisamente um desses espetáculos, as autoridades carimbaram-lhe o passaporte, mas acabaram por não lhe permitir a entrada no território. À BBC, Buchholz disse que o pessoal do aeroporto foi sempre muito atencioso mas justificou o impedimento com o receio de que ele praticasse «magia negra». Antes de ser recambiado, o alemão fez-lhes uma demonstração completa do magnetismo que esconde na ponta dos dedos.

Entre o bíblico e o demoníaco Segundo a simbologia antiga, os cornos podiam ser um sinal de poder real ou de sabedoria. Miguel Ângelo e o escultor holandês do século XIV Claus Sluter representaram Moisés (o primeiro, no túmulo do Papa Júlio II, na igreja de San Pietro in Vincoli, em Roma, o segundo na Fonte de Moisés, em Dijon) com um par de cornos na cabeça – segundo alguns, em virtude de um erro de tradução na Vulgata, a versão vertida para latim por S. Jerónimo e usada à época. Na realidade, alegam, o texto bíblico original referia raios de luz.

Independentemente de tudo isso, os cornos são mais comummente considerados um atributo do diabo e associados a criaturas demoníacas.

Entre o bíblico e o diabólico, onde se enquadram os cornos de Rolf Buchholz? O informático diz não querer chocar ninguém e que só deseja que as pessoas saibam conviver pacificamente com a diferença. E nega que os seus cornos tenham um significado satânico – ou qualquer outro.

Seres humanos com cornos são casos raros – mas existem. No século XVI, Francis Trovillou ficou conhecido como o Cornudo de Mezieres. Três séculos depois, uma mulher parisiense, Madame Dimanche, notabilizou-se por, ao entrar na sétima década de vida, lhe ter aparecido um estranho apêndice na testa, que disfarçava cuidadosamente. Mas quando o corno começou a crescer, até atingir 25 centímetros de comprimento, já não havia como escondê-lo. Um cirurgião acabaria por conseguir removê-lo, mas não sem antes ser feito um modelo em cera da cabeça da mulher, o qual se encontra hoje no Museu Mütter do Colégio de Médicos de Filadélfia (EUA).

Rolf Buchholz não está, pois, sozinho na galeria histórica dos homens e mulheres cornudos. Mas terá sido o primeiro disposto a pagar para entrar nesse restrito clube.