Como os homens se tornaram homens

De todas as áreas de estudo do passado, a Pré-História é sempre uma espécie de parente pobre, até por causa da escassez de informação que chegou até nós. Ultimamente tenho tentado aprender um pouco mais da nossa história enquanto espécie e lá consegui ganhar coragem para iniciar a leitura do primeiro destes dois volumes.

No meu primeiro ano do curso de História da Arte, que comecei a frequentar há exatamente duas décadas, cada um dos professores entregou uma extensa bibliografia. Agora percebo que não era sequer suposto consultarmos aquilo tudo (e muito menos lê-lo), mas, com o zelo típico dos neófitos, fui à livraria Buchholz, na rua onde o meu pai trabalhava, para averiguar se teriam algum daqueles livros. A senhora que me atendeu olhou para a lista e foi riscando os livros um a um: «Este não temos. Este também não. Este também não» e assim sucessivamente. Até que hesitou ao ver um título e pediu-me para esperar um pouco. «Temos este… só que há aqui uma questão», informou-me. O livro chamava-se Le Geste et La Parole, do antropólogo e arqueólogo André Leroi-Gourhan. O problema era que custava 30 contos (o que na altura representava bem mais do que 150 euros atuais). Obviamente não o levei, mas aquele título ficou-me sempre na cabeça.

A edição portuguesa, O Gesto e a Palavra (Edições 70, 1985), é composta por dois volumes não muito grossos. Ao longo dos anos fui-me cruzando com eles mas sempre em separado. No ano passado, numa feira de rua da Ericeira encontrei os dois juntos por um preço muito convidativo. Valeu a pena esperar.

De todas as áreas de estudo do passado, a Pré-História é sempre uma espécie de parente pobre, até por causa da escassez de informação que chegou até nós. Ultimamente tenho tentado aprender um pouco mais da nossa história enquanto espécie e lá consegui ganhar coragem para iniciar a leitura do primeiro destes dois volumes.

Com base nos indícios que foi reunindo, Leroi-Gourhan explica como os homens se tornaram homens. Não tenho problemas em reconhecer que os vários estádios do crânio e da evolução das pontas de pedra lascada são descritos com um nível de detalhe que se torna fastidioso para o leigo. Ainda assim, o sentido global da explicação e as revelações que a acompanham compensam o esforço do leitor. O mais surpreendente, para mim, foi talvez a descoberta de que o homem não descende do macaco (homens e macacos constituem a bifurcação de um tronco comum). Mas há outras passagens que nos surpreendem e dão que pensar, como esta: «Nem os seus dentes, nem as mãos, nem o pé nem mesmo o cérebro atingiram o elevado grau de perfeição do dente de mamute, da mão e do pé do cavalo, do cérebro de certas aves. Desse modo ficou possibilitado de quase todas as acções possíveis, podendo comer, correr, escalar e utilizar o órgão extremamente arcaico do seu esqueleto, que é a mão, para realizar operações dirigidas por um cérebro superespecializado na generalização». Mão e cérebro, gesto e pensamento, ação e ideia estão intimamente ligados. Essa associação está presente na escrita, na técnica, na arte. No fundo, talvez seja esse o grande segredo da humanidade.

Correspondente de guerra

John Steinbeck 

Em Inglaterra, no Mediterrâneo ou no Norte de África, John Steinbeck conviveu com soldados durante a II Guerra Mundial, em 1943, e registou o que comiam, o que bebiam, como se vestiam e pelo que suspiravam. Escreveu sobre explosões e ataques, mas também sobre jogos e amuletos, e tratou estes temas como só um grande escritor é capaz. «Qualquer coisa serve: um velho cabo de guarda-chuva ou um símbolo religioso, mas sem o amuleto é que ele não passa. Há ocasiões em que a emoção mais intensa em tempo de guerra não é o medo, mas sim a solidão e a sensação humana da própria pequenez. E é nessas alturas que a pedra lisa, a moeda de cabeça de índio ou o porquinho de madeira se tornam absolutamente necessários». 

 Editora: Livros do Brasil

Preço 16,60€

Isto não estava no meu livro de história de Roma

Javier Ramos 

Sabia que um dos pratos favoritos de Heliogábalo eram línguas de flamingo cor de rosa? Que para uma das suas orgias gastronómicas este imperador excêntrico convidou «oito corcundas, oito coxos, oito gordos, oito esqueléticos, oito doentes de gota, oito surdos, oito negros e oito albinos»? Javier Ramos conta-nos esta e outras curiosidades numa viagem por uma Roma antiga que nos diverte e interpela.

 Editora: Manuscrito

Preço 14,94€

Homens do mar

José António Rodrigues Pereira

O antigo diretor do Museu de Marinha reúne meia centena de retratos de figuras mais ou menos célebres, de D. Fuas Roupinho (século XII) ao comandante Alpoim Calvão (1937-2014), por quem o autor não esconde uma merecida admiração. Nestas páginas encontramos exploradores ilustres e vencedores de batalhas navais, mas também reis, governadores e cartógrafos, num naipe rico e variado que tem o mar como fio condutor.

Editora: Esfera dos Livros

Preço 20,70€