“Variações”: antes da antestreia, já é considerado o filme do ano

A produção, que será apresentada pela primeira vez em Amares, constitui “uma homenagem a todos os que ainda hoje perseguem os seus sonhos aspirando transformar as suas vidas” segundo afirmou ao SOL o seu realizador, João Maia.

“Variações”, considerado já o filme do ano, terá a sua antestreia, em Amares, a terra natal do cantor, durante a noite da próxima segunda-feira, numa sessão ao ar livre, no Parque Termal de Caldelas, com presença dos seus principais atores, do realizador e do produtor.

O primeiro filme português a ser exibido em tecnologia Dolby Atmos, proporcionando aos espectadores experiência sonora mais imersiva, distribuído pela Nos Audiovisuais, o filme de tributo a António Variações, realizado por João Maia, terá assim a sua antestreia, estreando-se depois na próxima quinta-feira, em cerca de 60 salas de cinema portuguesas.

O filme “Variações” foca o processo de transformação na persona de António Variações, artista excêntrico e popular cuja carreira fulgurante foi interrompida pela sua morte em 1984, “constituindo uma homenagem a todos os que ainda hoje perseguem os seus sonhos aspirando transformar as suas vidas”, segundo afirmou ao SOL o seu realizador, João Maia.

“Celebrar a vida e a música de António Variações é o mote do filme que retrata a primeira estrela pop portuguesa e uma das figuras mais exuberantes do nosso país, assinalando-se 35 anos após a sua morte e 75 do seu nascimento, tendo sido produzido por Fernando Vendrell, da david & golias, com Sérgio Praia no papel de António Variações, recordando o percurso biográfico do músico, com especial enfoque no período dos anos 1977 a 1981.

Do elenco destacam-se também outros atores como Filipe Duarte, Victoria Guerra, Teresa Madruga, Augusto Madeira, Afonso Lagarto, Tomás Alves e José Raposo, entre outros, sendo que a banda sonora do filme será editada a 23 de agosto pela Sony Music Portugal, um dia depois da estreia em formato físico e digital, contando com “Quero dar nas vistas”, tema inédito recriado por Armando Teixeira, dos “Balla”, propositadamente para o filme.

Armando Teixeira assumiu a produção musical a convite de João Maia e através das famosas cassetes de António Variações, deu corpo às músicas que ele gravara na garagem, com músicos amadores, no final da década de 1970 do Século XX, com o filme a retratar a vida de António Ribeiro, barbeiro e figura da movida Lisboeta no final dos anos 70, que perseguindo o seu sonho de se tornar cantor e compositor, apesar de não saber uma nota de música, impôs-se no panorama musical português e destacando-se na sociedade civil.

“Toma o comprimido”, “Teia”, “Perdi a memória”, “Canção de engate” ou “Quero dar nas vistas”, este tema inédito, encontrado no espólio de António Variações, são, para além de “Na Lama”, algumas das canções que compõem a banda sonora do filme de tributo à primeira estrela da pop portuguesa que chega aos cinemas na quinta-feira, a 22 de agosto.

“Quando o realizador João Maia me convidou para fazer a banda sonora do seu filme, o Variações, fiquei entusiasmado”, disse Armando Teixeira, afirmando que “estimulou-me a possibilidade de reinventar a música do António Variações à luz dos nossos dias e eu logo imaginei o que poderia fazer pelas suas canções agora, se seria mais eletrónico ou mais acústico, andei uns dias empolgado com essa ideia e com a possibilidade de voltar a fazer música para cinema”.

“Mas isto foi antes de me encontrar com o João [Maia], eu logo percebi que não era nada disto que pretendia, o que o João não queria era que a música servisse o normal propósito de uma banda sonora: pontuar sentimentos, criar ambiente, não era essa a ideia”, afirmou.

“No fundo ele não queria uma banda sonora, mas que eu desse corpo às ideias que o António Variações gravara na garagem, com músicos amadores no final dos anos 70”, de acordo com Armando Teixeira, acrescentando que “antes de gravar qualquer disco, já o António e os músicos que o acompanhavam na altura tinham vestido as suas canções de roupagens bem distintas daquelas a que nos habituámos e é aí que acontece a música no filme”.

“Para isso, o João deu-me a ouvir as famosas cassetes, aí encontrei o António a cantar acapella, sobre uma caixa de ritmos, ensaios de banda e concertos, era esta a sua ordem, primeiro compunha a música sozinho ou com a caixa de ritmos e depois, nos ensaios, os músicos faziam os arranjos”, explicou Armando Teixeira, destacando que “o trabalho parece ter sido intenso, existem numerosas versões de cada canção, encontrei canções completas como o ‘Toma o comprimido’, excertos de canções como ‘Teia’, ‘Perdi a memória’ e canções onde parece que faltam pedaços e estrutura como a “Canção de engate”, segundo o responsável pela banda sonora.

Por outro lado, “encontrei até um inédito, chamámos-lhe ‘Quero dar nas vistas’, parece ser uma canção desenvolvida em ensaio, mas não um improviso, existem gravações de diferentes ensaios, o António apresenta-se, a banda desenvolve um prog-rock com inúmeros solos, mais uma vez, sem nenhuma estrutura, ensaiavam pelo prazer de tocar”, diz o mesmo criativo.

“Fiz pequenas descobertas que deram um outro sentido a este trabalho: numa das várias versões do ‘Na lama’, o lead de sintetizador que funciona como refrão é diferente da versão gravada pelos Humanos, foi esse que usámos, o ‘Perdi a memória’, nas gravações a que tive acesso, não desenvolve para refrão, António canta-o, mas o instrumental mantém-se na parte A”, segundo explicou Armando Teixeira.

“Para completar a canção, mantivemos o espírito e fomos buscar o pré-refrão e refrão ao original gravado em disco e o facto de conhecer bastante bem os dois discos do António Variações ajudou-me muito neste trabalho, vivi intensamente o ‘Anjo da Guarda’ quando saiu, um pouco mais tarde, o ‘Dar e Receber’, uma cassete que ouvi até se dissolver no meu primeiro carro”, afirmou também Armando Teixeira, referindo que “o que também facilitou e tornou este trabalho um prazer foi ter-me rodeado de amigos, amigos que também são excelentes músicos, os meus companheiros nos Balla, o Pedro Monteiro, o Duarte Cabaça e o Vasco Duarte”.

“A amizade e a admiração pelo trabalho do António foi o que nos uniu, mas uma última palavra para a surpresa que foi o Sérgio Praia e a sua evolução como cantor, este disco não era para existir, nunca nos passou pela cabeça tocar estas canções ao vivo, mas aí estão, tudo isto só foi possível pela segurança que o Sérgio nos deu, ele cantou as canções no ‘plateau’, os momentos do filme em que ele canta ao vivo em Fiscal são arrepiantes, dá-me vontade de querer prolongar esta aventura, espero que nos acompanhem”, conclui.