Antigos presos políticos contra museu Salazar

Mais de 200 ex-presos políticos contestam abertura do museu. «Existe o perigo de se tornar num centro de romaria dos fascistas», diz Domingos Abrantes. Obras começam este mês.

Mais de 200 ex-presos políticos juntaram-se para contestar o nascimento de um museu dedicado a Salazar. A ideia de construir um museu sobre o ditador, em Santa Comba Dão, não é nova, mas está longe de ser consensual. «Todo o conteúdo é no sentido de branquear e de humanizar. Não é um museu para denunciar o papel de Salazar. É um museu para exaltar o papel do Salazar. Existe o perigo de se tornar num centro de romaria dos fascistas. O que não é um problema pequeno», diz ao SOL Domingos Abrantes, conselheiro de Estado e ex-dirigente do PCP. 

Os ex-presos políticos escreveram ao primeiro-ministro e ao presidente da Assembleia da República a apelar ao Governo para que «intervenha para impedir a concretização desse projeto que, longe de visar esclarecer a população e sobretudo as jovens gerações sobre o que foi o regime fascista, se prefigura como um instrumento ao serviço do seu branqueamento». 

A carta já está nas mãos de António Costa e Ferro Rodrigues e  é subscrita por mais de 200 ex-presos políticos. 

Os historiadores Fernando Rosas e António Borges Coelho, o escritor Mário de Carvalho, o músico José Mário Branco ou a médica Isabel do Carmo são alguns dos nomes que alinham na defesa de que «o país precisa não de instrumentos de propaganda do fascismo – que a Constituição da República expressamente proíbe -, mas de meios de pedagogia democrática que não deixem esquecer o cortejo de crimes do fascismo salazarista e preserve a memória das  suas vítimas».

Obras do museu vão custar 150 mil euros e avançam este mês

Domingos Abrantes encara esta iniciativa como uma tentativa de «branquear» o salazarismo  e um ofensa aos que sofreram na pele as consequências da ditadura. «Uma ofensa aos muitos presos que foram torturados até à morte e aos que foram assassinados nas manifestações de rua como é o caso de Catarina Eufémia ou do pintor Dias Coelho», afirma o histórico do PCP.

A polémica à volta do museu chamado Centro Interpretativo do Estado Novo (CIEN) não está a fazer a Câmara de Santa Comba Dão recuar. Leonel Gouveia, presidente da autarquia, anunciou, esta semana, que vai avançar com as obras ainda este mês. O museu vai ser instalado ao lado da casa  onde viveu Salazar na antiga Escola-Cantina Salazar.

A Câmara anunciou esta semana que já foi «assinado o auto de consignação da empreitada, por pouco mais de 150 mil euros» e chegou a «altura de avançar com este projeto». O autarca garante que este será «um local para o estudo do Estado Novo e nunca um santuário para nacionalistas». 

A autarquia prevê abrir este espaço até ao final do ano.