Líder do PSD ‘receita’ ansiolíticos para enfrentar o sistema

Líder do PSD conversa com Hugo Carvalho numa viagem de carro e diz que maior parte dos políticos “entra nas guerras para segurar o seu lugar”

Antes de entregar no tribunal a lista de candidatos pelo círculo eleitoral do Porto, Hugo Carvalho, número um, conversou com Rui Rio, número dois, numa viagem de carro que foi transmitida em direto na página oficial do PSD no Twitter.

Hugo Carvalho, até há pouco tempo presidente do Conselho Nacional da Juventude, lançou o assunto que dominou a conversa: “Tenho andado na rua e o que toda a gente acaba por me dizer é: ‘Epá, veja lá, não vá para lá para ficar igual aos outros, não vá para lá para se servir a si’”.

Rui Rio agarrou de imediato o tema e aconselhou o jovem candidato, de 28 anos, a tomar “produtos naturais” ou “tomar de vez em quando um ansiolítico”, porque quem “não faz igual aos outros” tem “o sistema contra ele e assim só compra problemas”. Para o líder do PSD, a dificuldade de enfrentar o sistema explica que muitos políticos desistam de fazer o que o país precisa. “Quem chega e faz diferente leva pancada todos os dias”.

O presidente do PSD avisou ainda que “quem quer fazer diferente” tem de estar preparado psicologicamente para enfrentar os interesses”. Caso contrário, “vai para lá e passado um ano está igual aos outros, tem uma vida santa, e entra depois nas guerras para segurar o seu lugar, que é o que andam a fazer a maior parte das pessoas, hoje em dia, na política”.

 

“Vida política degradou-se”

A meio da viagem, o tema de conversa passou a ser o percurso político de Rui Rio. O presidente do PSD recordou a sua primeira candidatura à Câmara Municipal do Porto, há 18 anos. Desde então, o “regime político e a vida política degradaram-se muito. A ideia que as pessoas hoje têm da política e dos políticos é pior do que era naquela altura e naquela altura já era má”, considera o líder social-democrata. Dessa altura, Rui Rio recordou e sublinhou que as sondagens para a sua candidatura, que acabou por vencer as eleições com 44% da votação, apontavam para um resultado entre os 13% e os 19%.

E é com este espírito que, quase 20 anos depois, Rui Rio entra agora na corrida eleitoral, sobretudo, reforça, para “fazer diferente”, porque com esta idade já não enfrentaria tantas “chatices” se fosse para fazer igual aos outros.

 

Oposição interna

À chegada ao tribunal, Rui Rio voltou ontem a ser confrontado com as críticas internas à sua liderança e aproveitou para lançar recados aos sociais-democratas. “Não sou adversário dos militantes do PSD, o meu adversário é António Costa e é com ele que tenho de dialogar, não é para dentro, é para fora”, disse.

O líder do PSD/Porto afirmou, há uma semana, que “Rio não podia ter desiludido mais” e não tem “rumo nem estratégia”.

As críticas mais recentes surgiram depois de um processo conturbado na elaboração da lista pelo distrito do Porto. Rui Rio disse ontem que “as listas tiveram uma aceitação larga [no Conselho Nacional] e não há mais comentário nenhum a fazer”.

As listas de candidatos às eleições legislativas foram aprovadas, no final de julho, com 80 votos a favor, 18 contra e dez abstenções. Rio disse, nessa altura, que este foi um “bom resultado”, porque “este tipo de listas, quando envolvem escolha de pessoas, só não são turbulentos quando o PSD está no poder”.