G7. Guerra comercial mais importante que as alterações climáticas

A visita do ministro dos Negócios iranianos foi uma surpresa. Cimeira ficou marcada pela falta de consenso.

O encontro dos sete países mais ricos do mundo, a cimeira G7 , realizada em Biarritz, França, foi um mistura de entendimentos e desentendimentos, arranjos e desarranjos, passos à frente e outros atrás. Trump dominou. E no fim, a Amazónia e as alterações climáticas ficaram de fora do documento final ratificado pelas sete potências.  

Cada líder foi dando a sua versão do que foi falado nos vários encontros deste fim de semana. Em relação à reentrada da Rússia no clube exclusivo das maiores economias do mundo, de que está excluída desde 2014 devido à sua interferência militar na Ucrânia, o Palácio do Eliseu anunciou que os líderes do G7 tinham concordado que Moscovo ainda não tinha dado passos suficientes para acabar com o conflito do seu vizinho, e assim, que todos tinham concordado que o russos não participariam na cimeira do próximo ano. 

Quando questionado se apoiava a medida, Trump – que será o anfitrião do evento em 2020 – disse: “Não sei. É certamente possível”. Parece que, afinal, de acordo com fontes do Politico presentes no encontro “não houve claramente nenhum consenso”. Fontes do El País revelaram o mesmo. Do lado europeu insistiu-se que o G7 era um grupo de democracias liberais. 

A chegada do ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Mohammad Zarif, no domingo, a convite de Macron, foi a surpresa desta cimeira. O chefe de Estado francês tem tentado salvar o acordo nuclear firmado em 2015, entre os Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, França, China e Rússia – do qual Washington se retirou unilateralmente no ano passado. 

“Eu sabia que ele vinha”, disse Trump em relação à visita de Zarif. “Sabia de tudo o que ele [Macron] estava a fazer e aprovei”, realçou o chefe da Casa Branca, acrescentando que o Presidente francês tinha pedido “a sua aprovação”. Mas, ao que parece, a chanceler alemã, Angela Merkel, não estava a par do que se passava. Não obstante, se Macron tinha a intenção de tentar suavizar as tensões entre Washington e Teerão, Trump, por sua vez, rejeitou falar com o ministro iraniano: “É muito cedo para nos encontrarmos. Não quis”. 

Posição que confirmou na conferência conjunta com o Presidente Macron, esta segunda-feira, insistindo que o Irão tem de se tornar num “bom ator” antes de aceitar encontrar-se com o Presidente iraniano, Hasan Rouhani, isto depois de Macron o ter desafiado a reunirem-se e a pactuarem um “novo acordo nuclear”. Trump acrescentou, mais uma vez, que não queria uma mudança de regime no país.

 No que toca a Pequim, Trump foi igual a si próprio. Deu mais uma reviravolta em relação à guerra comercial com a China no último dia da cimeira. As cambalhotas foram diárias, confusas e contraditórias. Ora considerou o Presidente chinês, Xi Jinping, como “seu maior inimigo” – disse-o na passada sexta-feira pelo Twitter -, ora teve palavras amigas para com o líder chinês. “Um grande líder”, como disse esta segunda-feira. 

Quando uma repórter perguntou, no domingo, se estava com dúvidas sobre a escalada de tarifas impostas à China, Trump foi ambíguo: “Porque não? Tenho dúvidas sobre tudo”. Uma resposta que levou o staff da Casa Branca a apressar-se para clarificar as palavras do Presidente, entendidas pela imprensa como um sinal de que a guerra comercial se poderia atenuar. Diziam afinal o contrário: se Trump se arrependia de alguma coisa, era de não ter sido mais rígido com Pequim.

 No entanto, o chefe da Casa Branca anunciou esta segunda-feira que estava aberto a retomar as negociações com a China e mostrou-se confiante de que Pequim precisa de um pacto comercial: “Eles querem muito um acordo”.

No final, ao lado de Trump, Macron admitiu que tinha havido “muitas tensões” e “muitos conflitos” este ano em Birarritz. 

Embora não tenha constado no texto último, o grupo dos sete concordou num pacote de emergência de 18 milhões de euros para ajudar os países afetados pelo fogo na Amazónia. No documento, comprometeram-se com um comércio global aberto e justo, visando a estabilidade económica e financeira da economia mundial. Para isso, defenderam uma reestruturação da Organização Mundial do Comércio, de forma a adensar a proteção da propriedade intelectual.