Costa acena com instabilidade “à espanhola” se não conseguir maioria

Líder do PS diz que só com “um PS forte” o país não cai “numa situação de impasse à espanhola”. Cenário que diz que seria “incompreensível”. 

O secretário-geral do PS e candidato a primeiro-ministro avisa que o país cairá em clima de instabilidade “à espanhola” caso o PS não consiga maioria absoluta. 

Em entrevista à Lusa, hoje divulgada, o primeiro-ministro dramatizou o discurso e avisou que se das eleições não resultar “um PS forte” o país iria ficar numa “situação de impasse à espanhola”, onde o socialista Pedro Sánchez venceu, em abril, as eleições sem maioria e não consegue formar governo. “Seria um pouco incompreensível que nós deitássemos pela janela uma solução que tem funcionado bem para irmos cair numa situação de impasse à espanhola que, manifestamente, creio que não pode ser o futuro que cada um de nós deseja”, avisa o líder do PS.   

A pouco mais de um mês da ida às urnas, Costa diz que “a solução de estabilidade assenta na existência de um PS forte” e que seria, também, “incompreensível” que o país caísse num clima de instabilidade, o que iria impedir a continuação das medidas adotadas pelo Governo. 

O primeiro-ministro diz que está em curso “uma campanha de todos contra um”, referindo-se ao PSD e CDS mas também aos parceiros de geringonça, o Bloco de Esquerda e PCP, que “todos os dias procuram demacar-se da solução de Governo”.     

Em jeito de recado ao bloquistas e comunistas, António Costa diz que assume “por inteiro” as medidas adotadas pelo Governo defendendo que “foi o PS que garantiu a estabilidade entre a recuperação de rendimentos e a redução do défice” ou um “desagravamento fiscal” enquanto houve uma “redução da dívida”.  

Já ontem, durante o discurso de rentrée do partido, que decorreu em Machico, na Madeira, António Costa tinha pedido “mais força” ao PS. Apesar de dizer que não pede “um cheque em branco”, o líder do PS sublinha que só com “mais força” consegue aplicar as medidas que constam “do programa de Governo para a República e para a Região” autónoma. Recorde-se que dia 22 deste mês a Madeira vai a votos para eleger o presidente do Governo Regional. 

PCP diz que não se pode comparar Portugal com Espanha Para o PCP “não se pode comparar” a situação política entre Portugal e Espanha. Em resposta às declarações de Costa, o secretário-geral dos comunistas frisa que “não se pode comparar o que não é comparável”, salientando que “estas eleições não para para primeiro-ministro” e sim, “para eleger os deputados”. 

Jerónimo de Sousa apela ao primeiro-ministro para que “não confunda as coisas” lembrando que o “povo português ainda não decidiu”. 

Também a coordenadora do Bloco de Esquerda ja respondeu a António Costa para dizer que o partido não se dispersa “em jogos de provocações” que “recusa o caminho da intriga” e que nunca se desvia “do que conta”, ou seja, “responder por este país”.

No final da semana passada, em entrevista à TVI24, Catarina Martins já tinha dito que uma “maioria absouta do PS é má ideia” e aproveitou para lembrar que a última maioria do PS foi governada por José Sócrates.

Hoje, no discurso de encerramento do Fórum Socialismo, a rentrée do BE, Catarina Martins fez questão de fazer um exercício de memória recuando até 2015 para dizer que “não foi” o Bloco de Esquerda “quem teve dúvidas ou quem fez ziguezagues” durante os anos de governação que diz não ter sido “um caminho fácil”. 

Também Jerónimo de Sousa disse que ao longo desta legislatura os comunistas ouviram “muitas vezes um não que, passado meses, acabou por se transformar num sim”. 

Fora dos partidos da geringonça, também Rui Rio criticou as declarações de António Costa. Para o presidente do PSD o primeiro-ministro é “mestre da propaganda e da dramatização” e faz “um discurso oportunista”. 

Durante o encerramento da Universidade de Verão, em Castelo de Vide, Rui Rio aproveitou para dizer que “não é bonito a ingratidão” de Costa para os parceiros de coligação, condenando “esta forma de estar na política”. 
Além disso, para Rio a referência de Costa à instabilidade política em Espanha tem como objetivo “confundir o eleitorado” com “um discurso completamente diferente do dos últimos quatro anos”.