13ª semana de protestos marcada pela repressão policial em Hong Kong

Pelo menos 40 pessoas foram detidas no sábado. As investidas da polícia causaram no mínimo 30 feridos.

Gás lacrimogéneo, canhões de água, cocktails molotov, violência policial aparentemente aleatória, manifestantes a tentarem bloquear o aeroporto de Hong Kong. A antiga colónia britânica assemelha-se cada vez mais a um campo de batalha. A polícia responde com cada vez mais ferocidade contra os ativistas pela democracia na cidade e a 13ª semana consecutiva de protestos foi um exemplo claro disso mesmo.

As estradas em direção ao aeroporto estão a ser bloqueadas por milhares de ativistas, desde sábado, que ergueram barricadas – e atearam fogo a algumas. Também as ligações ferroviárias em direção ao aeroporto estão a ser entupidas para bloquear o acesso. No dia anterior, foram 60 rotas de autocarro interrompidas, de acordo com o South China Morning Post

Os ativistas querem repetir a paragem do aeroporto – que é um dos mais movimentados do mundo – de há duas semanas, que fez cancelar por volta de mil voos em três dias, numa tentativa de chamar a atenção à comunidade internacional e impor custos financeiros ao Governo. 

Embora uma decisão do tribunal após a ocupação do aeroporto em meados do mês de agosto tenha proibido todos aqueles que não têm bilhete de viagem ou que não trabalham no aeroporto de entrar, os manifestantes arranjaram outras formas de bloqueá-lo e entoavam cânticos como “lute pela liberdade! Fique em Hong Kong”. 

Tudo isto na sequência do desafio dos manifestantes no sábado, que foram contra as ordens das autoridades, depois de terem proibido a marcha que assinalava o quinto aniversário em que a China limitou as reformas democráticas na cidade. Os ativistas desobedeceram às ordens das autoridades e encheram as ruas de Hong Kong na mesma.

Ao que as autoridades responderam em força. Enviaram a polícia de elite, puseram helicópteros a sobrevoar a cidade, lançaram gás lacrimogéneo, usaram canhões de água, perseguiram ativistas e prenderam muitos outros.

As imagens partilhadas nas redes sociais e pelo meios de comunicação social mostravam a polícia de elite vestida de negro e com o rosto coberto, investindo sobre os ativistas na estação de metro Prince Edward, usando bastões e spray pimenta contra passageiros – sem nunca ser claro se estes tinham participado nas manifestações. Uma das imagens que mais correram as redes sociais mostram os agentes a carregarem – e a usar spray pimenta – em duas pessoas mascaradas, e sem qualquer arma, que se encontravam no chão da carruagem, enquanto choravam e gritavam para as autoridades pararem.

De acordo com a polícia, citada pelo South China Morning Post, 40 pessoas foram presas só na estação Prince Edward por estarem a participar em “ajuntamentos ilegais, destruírem propriedade e por obstrução de justiça”.

“O Governo não nos respondeu, por isso continuamos a vir”, disse uma manifestante de 18 anos, Engred Lai, que estava presente na estação de metro, citada pelo Guardian.

As autoridades também perseguiram ativistas no Victoria Park e na Causeway Bay, no sábado, ambos palcos de muitos protestos desde junho. Além disso, polícias à paisana dispararam duas balas para o ar – a segunda vez que acontece em três meses de protestos – nas duas áreas, segundo o South China Morning Post. Os agentes terão sentido a necessidade de atirar para o ar quando os manifestantes, ao perceberam que se tratava de agentes da autoridade, os cercaram.

As investidas da polícia no sábado causaram cerca de 30 feridos. À medida que a violência crescia, os ativistas construíram barricadas com barreiras de tráfego e cercas de metal. Alguns carregavam postes e muitos usavam capacetes enquanto se preparavam para os confrontos com a polícia. E também intensificaram as suas táticas. Atiraram cocktails molotov e tijolos contra os agentes, destruíram câmaras de vigilância e máquinas para adquirir bilhetes para os transportes públicos. Chegaram mesmo a cercar o quartel general da polícia e construíram barricadas à volta do edifício de Governo.

Certos analistas acreditam que as autoridades estão a intensificar a repressão para parar os protestos até dia 1 de outubro, feriado nacional que celebrará o septuagésimo aniversário da criação da República Popular da China – um dia extremamente importante para Pequim. Desde junho, início das manifestações contra a lei de extradição, já foram detidas 800 pessoas.