António Capucho só pode voltar ao PSD com o aval da concelhia do Cascais

Pedido de refiliação vai ser analisado na quinta-feira. Capucho quer voltar para ajudar Rui Rio.

O PSD anunciou o regresso de António Capucho ao partido, mas ainda não é certo que o ex-secretário-geral do partido volte mesmo a ser militante. O pedido de refiliação do histórico do PSD vai ser votado pela concelhia de Cascais na próxima quinta-feira às 21 horas.

O partido liderado por Rui Rio anunciou ontem que “António Capucho, militante histórico do PSD, vai regressar ao partido que ajudou a fundar em 1974, tendo a sua nova ficha de militante dado entrada na sede do PSD”. Ao i, o ex-presidente da câmara de Cascais confirmou que entregou o pedido de refiliação com o objetivo de “expressar publicamente a vontade de colaborar numa luta muito difícil que está em curso”.

O ex-autarca de Cascais manifestou já a Rui Rio “toda a disponibilidade” para ajudar o PSD, porque este combate exige “a participação de todos”.

O regresso de Capucho está longe de ser consensual, nomeadamente devido à aproximação do ex-presidente da câmara de Cascais ao Partido Socialista depois de ter sido expulso do PSD. Capucho apoiou António Costa nas últimas eleições legislativas, em 2015, e Francisco Assis, em 2014, nas europeias. Alguns dirigentes do partido partilharam, nas redes sociais, uma fotografia de Capucho a discursar na Convenção Nacional dos socialistas.

A decisão está agora nas mãos do PSD/Cascais. O presidente da concelhia, Manuel Basílio Castro, prefere, neste momento, não se “pronunciar”. O i apurou que existem algumas resistências dentro do PSD/Cascais, mas ninguém arrisca prever o desfecho desta situação. “Não sei mesmo qual vai ser a sensibilidade do partido. O voto é secreto”, diz um elemento da concelhia.

 

Expulsão e regresso

Capucho foi expulso do PSD em 2014 depois de ter apoiado a candidatura independente de Marco Almeida à câmara de Sintra. O fundador do partido foi desde o início um crítico da política de Passos Coelho, mas nunca fechou a porta a um eventual regresso se o partido seguisse outro caminho. Assim que Rui Rio anunciou a candidatura à liderança, o ex-autarca mostrou-se disponível para voltar. “É manifesto que a liderança de Rui Rio vai imprimir ao partido uma inflexão claríssima em duas vertentes fundamentais: a matriz social-democrata é recuperada, isso é evidente, como mostra a moção de estratégia que ele apresentou e depois a prática política vai confirmar; e, em segundo lugar, a democratização do partido. Rui Rio não pactua com situações menos claras e menos transparentes na vida interna do PSD. Nessas duas áreas as alterações vão ser significativas”, disse, em entrevista ao semanário SOL, em fevereiro de 2018.

 

Espírito crítico

A nota do PSD realça que o ex-secretário-geral “manteve-se afastado da ação política durante os últimos anos, mas sempre com espírito crítico, e manifestou a vontade de regressar ao PSD com a eleição de Rui Rio para a presidência do partido”. Ao mesmo tempo, destaca todos os cargos ocupados pelo militante histórico do partido.

Capucho é um dos militantes mais antigos do PSD e ajudou Sá Carneiro a fundar o partido. Ocupou quase todos os cargos durante quarenta anos. Foi secretário-geral, líder do grupo parlamentar, deputado e ministro. O último cargo que ocupou na vida política foi o de presidente da câmara de Cascais. Suspendeu o mandato em fevereiro de 2011 por razões de saúde e renunciou definitivamente ao cargo de presidente quase um ano depois.

Capucho justificou, nas redes sociais, este regresso e apelou à união do partido. “Apresentei o meu pedido de refiliação no PSD porque entendi ser minha obrigação, como apoiante e amigo de Rui Rio e empenhado na candidatura social-democrata, expressar publicamente a minha disponibilidade e empenho na difícil disputa eleitoral em curso. Creio que é a hora de todos os simpatizante e militantes do PSD, independentemente da sua sensibilidade pessoal, cerrarem fileiras à volta da candidatura do PSD e dos nossos candidatos em cada círculo”, escreveu.