Sánchez tenta montar ‘geringonça’ espanhola mas Iglesias quer coligação

Sánchez ofereceu um pacote de 370 medidas ao Unidas Podemos. Tem de formar Governo até 23 de setembro, para evitar eleições antecipadas.

“Não há condições hoje para nos convertermos em parceiros de Governo, mas isso não tem de converter-nos em adversários”, afirmou o líder do PSOE, Pedro Sánchez, quando apresentou o pacote de 370 medidas com que quer seduzir o Unidas Podemos de Pablo Iglesias. O objetivo do chamado “programa comum progressista” de Sánchez é montar uma espécie de ‘geringonça’ espanhola, até 23 de setembro – data limite para que sejam convocadas novas eleições.

Sánchez está completamente em linha com a fórmula governativa posta em prática por António Costa. “Dá para sermos amigos, mas não dá para casar”, resumiu o chefe de Executivo português, em entrevista à TVI – e é mesmo essa a relação que o líder dos socialistas espanhóis quer com o Unidas Podemos.

Contudo, se em 2015 o PCP e o Bloco de Esquerda não se bateram por ministros, para Iglesias esse é um requisito fundamental. “Uma negociação implica falar de equipas. Porque se não, os programas leva-os o vento”, disse o líder do Unidas Podemos, esta terça-feira, em entrevista à TVE.

Face às suspeitas dos seus potênciais parceiros, o líder do PSOE propõe “um rigoroso sistema de controlo do cumprimento do acordo de Governo”, alicerçado numa “tripla garantia”. Ou seja, um gabinete de cumprimento do acordo – sob alçada do Ministério das Finanças -, comissões de fiscalização no Congresso e no Senado e um mecanismo não especificado “controlado pela sociedade civil”.

Na mesma entrevista, Iglesias assegurou que soube da proposta pela imprensa – considerando que isso mostra a má vontade de Sánchez. “Quem quer negociar um documento não o envia primeiro ao meios de comunicação, envia-nos a nós”, criticou o líder do Unidas Podemos.

Sobre as 370 medidas, Iglesias comentou que algumas “soam bem” – recusando dar um veredicto sobre o assunto. Contudo, garantiu: “Não vamos despachá-lo [documento socialista] em duas horas como fez o PSOE com a nossa proposta”.

 

Concessões  Entre as 370 medidas, destaca-se a promessa de uma reforma laboral, que reverta os “aspetos mais danosos” da flexibilização laboral aprovada pelo Governo de Mariano Rajoy, do Partido Popular (PP). Além disso, o PSOE compromete-se com o descongelamento de pensões, o combate à violência de género e a alterar a chamada “lei mordaça”, aprovada pelo PP em 2015 – que aumentou os poderes das autoridades contra manifestantes. Esta lei é alvo de críticas por organizações de defesa dos direitos humanos, como a Amnistia Internacional, que a acusou de ser um ataque à liberdade de expressão. As concessões do PSOE seriam a moeda de troca pelos votos do Unidas Podemos. “Não queremos votos grátis na nossa investidura”, assegurou Sánchez. 

Eleições ao virar da esquina Ainda em julho a investidura de Sánchez como primeiro-ministro foi chumbada graças aos votos contra do Unidas Podemos – que recusou a oferta de um vice-primeiro-ministro e três ministros. Agora, o líder do PSOE não oferece ministérios, apenas “altas responsabilidades” em instituições e organismos fora do Conselho de Ministros, que atuem em setores como o “fiscal, jurídico e energético”.

Parece improvável que Iglesias aceite a nova proposta. E Sánchez já recusou sequer pôr em cima da mesa a sua oferta anterior, após o chumbo da sua investidura: “Confirmaram-se as nossas suspeitas quanto a dois Governos em um”, afirmou o líder do PSOE. Entretanto, Iglesias reforçou no Twitter que “um Governo de coligação é a única garantia para levar para a frente as políticas que podem mudar a vida das pessoas”. Face ao impasse, parece cada vez mais impossível que haja um acordo de Governo antes de 23 de setembro – podendo levar a novas eleições no dia 10 de novembro.